Cia Clara e ZAP 18 celebram 10 anos com os espetáculos Coisas invisíveis e O ano em que virei adulto

Com espetáculos, público poderá conhecer maneiras distintas de trabalhar coletivamente

por Carolina Braga 05/10/2012 06:59

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 (Bruna Cris Art & Foto/Divulgação)
Gustavo Falabella Rocha em O ano em que virei adulto (foto: (Bruna Cris Art & Foto/Divulgação))
Eles estão em duas regiões da cidade. Um no Serrano e outro na Floresta. As pesquisas também têm caminhos diferentes. Teatro narrativo de um lado e dramaturgia original do outro. Porém, muitos outros pontos ligam a Zona de Arte da Periferia – ZAP 18 e a Cia Clara. O primeiro deles, o aniversário. Os dois grupos completam 10 anos de atividades e levam novidades para o palco neste fim de semana. Protagonizado por Gustavo Falabella Rocha, O ano em que virei adulto é um inédito exercício de voo solo. Já Coisas invisíveis, com direção de Anderson Aníbal, é reencontro com o passado recente. O público terá a oportunidade de conhecer maneiras distintas de trabalhar coletivamente. Foi na volta de viagem de férias que Gustavo Falabella Rocha teve a ideia: por que não levar aos palcos um livro que há muito o acompanhava? A obra em questão era 1933 foi um ano ruim, de John Fante. Dele nasceu um espetáculo particular na trajetória da ZAP 18: O ano em que virei adulto é o primeiro monólogo do repertório da companhia. Idealizador do projeto, Gustavo está em cena sob a direção de Cida Falabella. “É um trabalho mais intimista”, apresenta a diretora. Se no livro, a trama gira em torno das descobertas da vida adulta de um jovem atleta, de 18 anos, no palco, experiências do ator – que acabou de fazer 30 – complementam a dramaturgia. “É uma adaptação a partir de uma leitura. Selecionamos o que consideramos ser o principal e, a partir daí, criamos conexões com as minhas histórias”, acrescenta Gustavo. O processo de trabalho bebeu na fonte do romance em cena, criado por Aderbal Freire-Filho. Na medida em que eles liam o livro, pensavam na tradução teatral. O resultado, como Cida Falabella detalha, é misturado. “Pontuamos sem separar o que é dele e o que é do menino, gerando uma zona mista. Brincamos um pouco com o narrar em primeira e terceira pessoa”, conta. O ano em que virei adulto fala do primeiro amor, de família, de esporte, enfim, de amadurecimento. Ao misturar à ficção depoimentos do criador, o espetáculo dá continuidade à pesquisa que vem sendo desenvolvida na companhia especializada em teatro épico. Porém, a produção sinaliza mudanças. “Tem pontos em comum porque não é um teatro dramático, tem a questão da narrativa. Propõe intimidade. É diferente mas dialoga com os outras montagens na medida em que o ator se coloca em cena”, explica Cida. Como o universo do esporte perpassa toda a trama, a peça se desenrola como se fosse um jogo com a plateia. “O campo da cena é dos embates que vivemos com as pessoas e conosco”, detalha a diretora. MÃE E FILHO Entre os temas tratados em O ano em que virei adulto está a família. Detalhe: Cida e Gustavo são mãe e filho. Sendo assim, não houve como escapar da intimidade e da delicadeza ao tratar certos assuntos. Ambos reconhecem que foi um processo de aprendizado. “Ele fala de muitas coisas que me tocam diretamente. É um trabalho de escuta um do outro”, diz ela. “Cida tem uma característica como diretora que me agrada muito. É um certo desapego com o trabalho. Não que ele seja menos importante, mas é para que o ator entenda o tanto que ele é dono daquilo que faz. Nosso trato é um canal muito aberto. Temos a intimidade necessária para discordar, brigar e também para criar um vínculo de criação”, completa Gustavo. Delicado, simples e reflexivo “Todo mundo cobrava, mas eu tinha medo dessa ideia”, reconhece o diretor Anderson Aníbal. Remontar Coisas invisíveis era o mesmo que explorar um baú de memórias. Isso é sempre delicado. “Foi uma peça importante para muita gente. Como tocar nisso de novo?”, ele se perguntava sobre a montagem de 2003. Mas é aquela coisa, ao mesmo tempo em que tocar no passado às vezes amedronta, revisitar algo tão marcante é também desafio. Entre as duas opções, Anderson escolheu a última. Coisas invisíveis, que será apresentado até dia 14, tem a mesma essência da primeira montagem. Ou seja, é peça que fala com simplicidade sobre relacionamento entre as pessoas e o quão marcante algumas são, principalmente os primeiros encontros afetivos. O elenco, no entanto, é totalmente diferente. A forma como Camile Gracian, Carol Oliveira, Ana Vida, Felipe Ávlis e Leonardo Fernandes vão contar essa história é que o vai definir a diferença. “Fui fiel à forma. O desenho do espetáculo é o mesmo. As instruções aos atores é que estão mais maduras”, conta Anderson. O novo Coisas invisíveis tomou forma em dois meses de ensaio. O diretor atribui o tempo otimizado justamente pela transformação da maneira como ele se relaciona com os atores. “Quero tocar na percepção do ator, no que ele está apreendendo da cena. No início não era assim, ia muito mais por um rigor formal”, analisa. Por causa disso, os ensaios têm se tornado muito mais longas conversas do que propriamente exaustivas passagens de cena. O entendimento do texto, assinado por Gustavo Naves Franco, também é outro. “Sinto a história como se fosse um amor inocente, a primeira precipitação. Na época, para mim não era só isso, era um tratado sobre as relações”, diz. Como marca as comemorações dos 10 anos da Cia Clara, a nova montagem de Coisas invisíveis vai ocupar o mesmo palco no qual estreou, o Teatro João Ceschiatti. A banda que executará a trilha ao vivo também terá a mesma composição daquela de 2003: Lis Peixoto nos vocais, teclado e violão, e João Márcio e Marcus Marangon nos violões. A peça marcou determinado momento na cena teatral de Belo Horizonte. Era um tempo em que muitos grupos surgiam, havia uma geração interessada em pensar o teatro de maneira diferente. Em certo sentido, Anderson Aníbal contribuiu com esse movimento ao oferecer um teatro delicado, simples e reflexivo. >> O QUE VER » O ano em que virei adulto Sexta-feira e sábado, às 20h30; domingo, às 19h, no ZAP 18, Rua João Donada, 18, Serrano, (31) 3475- 6131. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). » Coisas invisíveis Nesta sexta-feira, às 21h; sábado, às 19h e às 21h; domingo, às 19h, no Teatro João Ceschiatti. Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Informações: (31) 3236-7400. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Uma pergunta para dois

O que significam 10 anos de teatro?

“Um trabalho de resistência e coragem que tece, ao longo do tempo, encontros e parcerias, buscando a construção de uma arte coletiva, necessária em um mundo cada vez mais consumista e hostil” >> Cida Falabella

“Encontros e desencontros, afetos e desafetos, chegadas e partidas; milhões de reinícios e novas tentativas, porque a vida é assim, imprevista, surpreendente. Depois de 10 anos de ensaios, de tentativas de organizar o impossível, você começa a descobrir que a vida (e o teatro, consequentemente) se torna melhor quando passamos a aceitar a realidade como mágica. É preciso coragem para ver que a realidade é mais criativa que nós. Depois desse tempo, se não fosse a coragem, não estaríamos mais aqui” >> Anderson Aníbal



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