Conheça o trabalho dos profissionais por trás da arte

Desconhecidos do público, afinadores de piano, fonoaudiólogos, nutricionistas e fisioterapeutas garantem qualidade e longevidade ao trabalho de artistas populares e eruditos

por Carolina Braga 20/09/2012 08:09

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AFP PHOTO/Norberto Duarte
Ivete Sangalo é uma das clientes da fonoaudióloga Janaína Pimenta, que passa horas dentro do trio elétrico para dar suporte à voz da cantora (foto: AFP PHOTO/Norberto Duarte )
 

Eles não são exatamente artistas. Quer dizer, de uma certa forma até são. Mas fora do palco, numa função essencialmente de bastidores. São fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, afinadores e outros profissionais que cada vez mais deixam de ser figuras acessórias na cadeia de produção cultural. Com a profissionalização da arte, passam a ser primordiais, a ponto de integrar as equipes e participar ativamente da rotina de cantores, atores, bailarinos e concertistas.

Há cerca de 130 anos, a família do afinador de piano Oswaldo Vianna se dedica ao ofício em Minas Gerais. O que faz dele um profissional diferente é a preferência da clientela. Nelson Freire, Arthur Moreira Lima, Arnaldo Cohen são alguns nomes presentes em sua lista. Para quem não é da área, chega a ser curioso, mas afinador de piano faz até plantão.

“Mesmo quando o instrumento está funcionando bem eles fazem questão de que você esteja ali para dar segurança”, conta. Tanto é assim que há alguns anos Nelson Freire tinha um afinador particular que ele levava para onde ia, nos quatro cantos do mundo. Isso mudou e, recentemente, foi Oswaldo quem o acompanhou nos concertos em Tiradentes e São João del-Rei.

Todo mês, são cerca de 7 mil quilômetros rodados só para atender as demandas dos pianistas que se apresentam em Minas. Mas isso é por opção. Afinador oficial da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, foi com o grupo regido pelo maestro Fabio Mechetti a última turnê da qual Oswaldo participou. Foi para Florianópolis cuidar do piano no qual se apresentaria Arnaldo Cohen. “Não gosto de viajar, é cansativo, exaustivo, fico fora muito tempo. Prefiro a diversidade. Mas como o Arnaldo Cohen é um pianista conhecido, na época o Mechetti achou conveniente que eu fosse em alguns eventos”, lembra.

Jair Amaral/EM/D.A Press
O afinador Oswaldo Vianna tem entre seus clientes os pianistas Nelson Freire, Arthur Moreira Lima e Arnaldo Cohen (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
TRIO ELÉTRICO

A fonoaudióloga mineira Janaína Pimenta perdeu as contas de quantos carnavais passou dentro de um trio elétrico. Há 18 anos ela atende, entre outros, a cantora Ivete Sangalo, e foi justamente na Bahia que se deu conta de uma coisa: o papel do especialista em ajudar cantores e cantoras a cuidar da própria voz não poderia ficar restrito aos consultórios.

“Quando eles chegavam com lesão, relatando dificuldades no show, comecei a entender que o que fazia no consultório era um ‘merthiolate’. Precisava saber mais a fundo como era a rotina deles”, conta. A literatura básica da fonoaudiologia recomenda não gritar, cantar no máximo uma hora e meia. Então, o que dizer àqueles que, por dever de ofício, precisam ficar oito horas animando uma festa popular ou várias horas em um baile? Janaína foi buscar a reposta na prática.

O caso de Ivete Sangalo é o melhor exemplo e se transformou até em tese do mestrado da fonoaudióloga. Com uma agenda de 28 shows por mês, quando elas começaram a trabalhar juntas a cantora estava prestes a lançar-se em carreira solo e vivia fase vocal bastante complicada. Chegou a receber diagnóstico de um médico que indicava problemas graves. “Hoje, fico dentro do trio e criei um método de trabalho baseado nessas experiências emergenciais”, diz Janaína.

CONSULTÓRIO

Além da cantora baiana, Milton Nascimento e os sertanejos César Menotti e Fabiano, Vitor e Léo, Luan Santanna, Fernando e Sorocaba e Michel Teló, também são tratados por Janaína. “Atendo no consultório de segunda a quinta e depois viajo com alguns deles. Também atendo pelo Skype. Crio uma rotina para eles e vou observando o que está errado, inclusive com a equipe”, detalha. Dessa rotina fazem parte fases de aquecimento vocal, desaquecimento e até uma alimentação balanceada, antes e depois das apresentações.

A fonoaudióloga também ajuda a organizar o repertório, apontando quais as canções são mais indicadas para um determinado aquecimento da voz, para depois ajudar a atingir a nota desejada. Durante as apresentações, o computador de Janaína fica conectado à mesa de som, monitorando cada alteração vocal. Segura de que várias coisas influenciam a voz, Janaína Pimenta tem parceiros nutricionistas, psicólogos e otorrinos.

“A primeira vez que entrei no camarim do Luan Santana só tinha bala e pirulito. Fui mudando os poucos e agora é tudo direitinho. Frutas e passas. Vou orientando mesmo, porque eles não têm noção. O maior erro é não saber o quanto é importante a qualidade da alimentação”, explica. É a nutricionista Marcela Reis quem a auxilia nesse quesito. No caso das comidas, a orientação não fica restrita ao momento das apresentações. “Com o Milton (Nascimento), por exemplo, fizemos um plano alimentar para que ele não tenha refluxo, mesmo nos dias sem show”, conta Marcela.

Acervo Pessoal
A partir do momento em que o bailarino toma consciência dos pontos frágeis do seu corpo, vai começar a tomar cuidado na hora de dançar - Vitória Wilden, fisioterapeuta (foto: Acervo Pessoal)
Consciência corporal
Lá se vão 10 anos desde que a fisioterapeuta Vitória Wilden iniciou a parceria com o Grupo Corpo. Recém-chegada de São Paulo, onde havia finalizado um curso com o bailarino e coreógrafo Ivaldo Bertazzo, ela começou com atendimentos pontuais, sobretudo com os bailarinos machucados. Pouco a pouco, a fisioterapia deixou de ser tratada como urgência e virou rotina.

Atualmente, além de participar das turnês internacionais da companhia, principalmente para destinos como Paris e Lyon, Vitória atende até três vezes por semana na sede do Corpo, dependendo da agenda de apresentações. Quando estão no exterior, a rotina de “tratamento” envolve atendimentos na parte da manhã e aulas no próprio teatro onde se apresentarão.

“O papel da fisioterapia na dança é tradicional. Esse trabalho que temos feito com o Corpo tem o objetivo de dar ao bailarino conhecimento sobre seu corpo, para que possa executar movimentos sem lesões”, detalha. Claro que Vitória continua cuidando dos casos mais graves, mas o trabalho de consciência corporal é o que mais empolga a fisioterapeuta. “Para o último espetáculo, Sem mim, fizemos um trabalho preventivo”, conta. A fisioterapia no Corpo mistura técnicas de RPG, Pilates e o próprio método de Ivaldo Bertazzo. Todos têm a ver com o despertar no bailarino a consciência sobre seu instrumento de trabalho.

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