Nélida Piñon conversa com o público sobre o Livro das horas

O volume de memórias revela detalhes de sua amizade com Clarice Lispector e da luta contra a ditadura na década de 1970

por Carlos Herculano Lopes 12/09/2012 11:03

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A carioca Nélida Piñon relembra passeios a Minas Gerais e revela seu amor pelo cachorrinho Gravetinho (foto: Divulgação)
Primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, com obras traduzidas para diversas línguas, a escritora Nélida Piñon estará hoje em Belo Horizonte para lançar Livro das horas, volume de memórias que acaba de sair pela Editora Record.
Em linguagem que caminha entre a erudição e o afeto, nesta obra, como um rio caudaloso, a escritora não se prende a nada para fazer o que mais sabe: contar histórias. 
Como uma Sherazade moderna, essa carioca filha de espanhóis da Galícia – que estreou na literatura em 1961, com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo – vai desenrolando um longo fio de suas memórias, sem cronologia definida ou planos pré-estabelecidos. Tudo acalentado sob o calor das lembranças, que tanto podem nos levar a conhecer a Nélida criança, passeando com a família nas estâncias hidrominerais do Sul de Minas, quanto a autora famosa, que priva da intimidade de colegas como Clarice Lispector, Gabriel García Márquez e Carlos Fuentes.
AMIZADE As páginas que dedica à amiga Clarice são de mexer com a sensibilidade de qualquer um. Nélida revela que as duas costumavam ir a uma cartomante chamada Nadir, no subúrbio carioca. “Após essas jornadas, nos entretínhamos em algum bar, tomando café ou Coca-Cola”, conta. Foi ela quem segurou a mão esquerda da autora de A hora da estrela na hora da morte.
Em Livro das horas, Nélida revela o desejo da amiga, de origem judia, de ser enterrada conforme os rituais cristãos. Isso acabou não ocorrendo, pois a determinação não foi registrada em documento.
Nélida guardou fielmente o segredo. “Só comento agora por me parecer historicamente oportuno revelar facetas de Clarice Lispector que já não podem afligir seus familiares”, escreveu. Discreta ao falar de seus amores, sentimentos que prefere guardar para si, a autora confessa o imenso carinho que tem por um cãozinho de estimação, Gravetinho.
MANIFESTO Engajada na luta contra a ditadura civil militar pós-1964, Nélida figurava entre os autores que, em 1977, foram ao Ministério da Justiça, em Brasília, entregar o manifesto de intelectuais contra a censura. Ao lado dela estavam Jeferson Andrade, Lygia Fagundes Telles e o historiador Hélio Silva. “A entrega foi um sucesso atestado por fotos e por entrevistas concedidas à imprensa”, lembra. 
Todas essas histórias podem ser conhecidas em Livro das horas, que nos leva a saber também como foram os anos de formação da autora, reconhecida internacionalmente com prêmios como o Príncipe de Astúrias, concedido pelo governo da Espanha. Com o romance Vozes do deserto ela ganhou o prestigiado Jabuti, em 2005. 
LIVRO DAS HORAS 
Lançamento do livro de Nélida Piñon e bate-papo com a autora. Hoje, a partir das 19h30, no Espaço Multiuso do Sesc Palladium, Avenida Augusto de Lima, 420, 4º andar, Centro. Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501.


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