Trajetos da filosofia à ciência

por João Paulo 08/09/2012 14:45

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Se nos primeiros ensaios há uma mescla entre reflexão e ação política, o artigo sobre Erich Auerbach (1892-1957) tem corte mais teórico. Auerbach foi autor de uma das mais importantes obras de estética do século 20, Mimesis, publicada originalmente em 1946. Leopoldo Waizbort explica como o autor realizou seu projeto de investigar a condição humana a partir da literatura, em abordagem histórica que vai de Homero e do Antigo Testamento ao romance de maturidade Virginia Woolf. Além de dissecar o argumento de Auerbach, o autor esquematiza todos os passos seguidos em Mimesis, identificando as épocas e os autores tratados, sempre com um comentário pessoal sobre cada um dos capítulos do livro. No que tange à influência de Auerbach nos estudos literários brasileiros, Waizbort identifica um diálogo com a obra máxima de Antonio Candido (Formação da literatura brasileira – Momentos decisivos: 1750-1880), além da recepção nos estudos de Luiz Costa Lima, autor que tem nos conceitos de mimesis e história suas principais balizas teóricas.

Os quatro ensaios que completam o volume são mais técnicos, certamente em função dos autores abordados. Dois deles são sobre filósofos, Wittgenstein e Popper, e dois sobre cientistas, Werner Heisenberg e Einstein. No texto sobre Wittgenstein (1889-1951), José Arthur Gianotti analisa a importância da obra do autor austríaco para ao pensamento filosófico ocidental, a partir do Tractatus e das Investigações filosóficas, tendo como foco a relação entre linguagem e filosofia. O artigo foge um pouco do esquema seguido no livro pelos outros autores, mais didáticos e introdutórios, assumindo um caráter mais analítico e técnico.

No texto sobre Karl Popper (1902-1994), de Jézio Hernani Bonfim Gutierre, são analisadas as contribuições do autor no campo da epistemologia e da filosofia política. O autor apresenta a tese sobre a demarcação científica (a preocupação em discernir o que é ou não ciência) e acerca do pensamento liberal e da crítica ao historicismo. No que se relaciona à influência de Popper no Brasil, Jézio Gutierre mostra que, seguindo uma tendência também identificada na Europa, o pensamento popperiano, em epistemologia e em filosofia política, foi sempre objeto de interesse tanto entre filósofos profissionais como entre cientistas e políticos. Nesse tipo de recepção, embora cresça em repercussão, nem sempre honra a complexidade do trabalho do autor, tomado muitas vezes de forma maniqueísta. Tanto no caso de Wittgenstein como no de Popper, trata-se da busca acerca dos modelos e dos limites do conhecimento.

Os capítulos finais, sobre o pensamento de Heisenberg (1901-1976) e de Einstein (1879-1955), independentemente da importância dos autores no âmbito da ciência, parecem apontar mais, no caso brasileiro, para o imenso fosso que havia no começo do século 20 entre o Brasil e a Alemanha em termos de ciência e tecnologia. Muito mais que um capítulo da história da ciência, talvez se trate de um fenômeno no âmbito da sociologia do conhecimento, tal o descompasso. Por isso, passado mais de um século de algumas de suas teorias, é reconfortante ver tanto a contemporaneidade hoje experimentada entre os institutos de pesquisa dos dois países como a incorporação de seus principais insigths em áreas que vão além da ciência e hoje se expressam em vários campos da cultura e da arte.

Pensamento alemão no século 20: grandes protagonistas e recepção das obras no Brail, em seu segundo volume, é um instrumento de trabalho útil para quem se adentra no universo dos pesquisadores, em particular e no campo das ideias. Ao mostrar a criação em meio a múltiplas determinações de ordem epistemológica e política, é também uma porta de entrada para a compreensão da relação entre as ideias e seu contexto. Como sintetizam os organizadores, há ainda um elemento a mais nessa história, que torna o livro bastante atual: no Brasil do século 21, o pensamento alemão do século 20 se sente em casa.

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