Missão cumprida

Os professores Paulo Lisboa e Clébio Maduro ajudaram a formar gerações de gravuristas no estado. Com satisfação, a dupla constata a qualidade da produção artística de seus alunos

por Walter Sebastião 31/08/2012 10:04

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Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A Press
Visitante observa gravura na exposição A resistência da técnica, em cartaz na galeria da Cemig (foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Em cartaz na Galeria de Arte da Cemig, a exposição A resistência da técnica traz muitas histórias. É o panorama do que jovens gravadores vêm realizando e traz a público o que produziu em oficinas nas escolas de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Guignard, da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), coordenadas por Clébio Maduro e Paulo Lisboa.

Há quase três décadas, a dupla incentiva a prática da gravura em metal. Clébio tem 60 anos, é de Mendes Pimentel (MG) e mora em Lagoa Santa. Paulo, de 58, nasceu em Leopoldina, atua na cidade natal e em Belo Horizonte. Mestres da gravura brasileira, ambos ganharam prêmios no Brasil e no exterior.

Clébio Maduro ficou emocionado ao visitar A resistência da técnica, que será encerrada hoje. “Os artistas, em sua maioria, são meus alunos. Tenho muito tempo como professor”, surpreende-se. Com prazer, ele identificou nos trabalhos “o uso da linha, sem medo de doer”. Vindo de Amilcar de Castro, esse ensinamento dá potência gráfica às obras. “O importante é a coragem da linha, não importa se certa, errada ou torta. Ela conduz o gesto do artista”, afirma.

Professor desde 1978, Clébio ressalta o fato de Paulo Roberto Lisboa ter se dedicado ao ensino a partir de 1998. “Divide a responsabilidade”, brinca, contando que se sentiu sozinho em algumas ocasiões. Desde 2003, Paulo Lisboa articula grupos dedicados à gravura em metal. O primeiro deles, o Sala 8, expôs em várias cidades mineiras. “Podendo ajudar, ajudo mesmo. O meio artístico é difícil, estímulo é importante. Passei muito aperto”, observa. 

Os dois são famosos pelo rigor. “Todo aluno meu ganha nota máxima. Mas perde pontos pelo que faz”, brinca Clésio. Paulo Lisboa ri de sua fama de exigente. “Não veio? Vou dar falta. Fez péssimo trabalho? A nota é baixa”, garante. “Arte pode ter um por cento de dom, mas o resto é trabalho. Escritor só aprende a escrever escrevendo. O artista só define o traço, o gesto, desenhando – sempre e muito”, ensina Paulo. Contemporânea na Escola Guignard, a dupla se iniciou em gravura em metal com George Helt. 

No começo da carreira, Paulo Lisboa fez de tudo um pouco: cartuns, cartazes, gravuras e letreiros. “Neste momento, a moçada está criando trabalhos muitos bons”, avisa. Prova disso é a exposição em cartaz na Cemig, que será apresentada no Centro Cultural e Turístico da Fiemg, em Ouro Preto. Outras cidades do interior mineiro também receberão a mostra.
 
Saiba mais a técnica 
 
A matriz da gravura em metal é uma chapa de cobre, latão ou ferro. Sobre essas superfícies metálicas enceradas são feitos desenhos, sulcados na superfície com instrumentos pontudos ou ácidos corrosivos. A tinta fica depositada nos sulcos. Imprimem-se as imagens com essa matriz. O procedimento surgiu de tecnologias da ourivesaria, que possibilitam impressões de alta qualidade. Trata-se de uma das mais antigas técnicas de gravura. Há obras datadas de 1500 produzidas por importantes artistas do Renascimento, como o alemão Albrecht Dürer (1471-1528).
 
Entrevista 
 
CLÉBIO MADURO E PAULO LISBOA
Professores 
 
Os mestres 
 
O que é essencial na gravura? 
Clébio Maduro – O rigor na composição, a técnica, o tema. Sou rigoroso sem ser metódico. Como educador, não posso fazer trabalho a toque de caixa. Gravura é arte com raiva – não a de querer matar alguém, mas da vontade de produzir. Isso, às vezes, extravasa sobre a chapa. Mas tudo com consciência.
Paulo Lisboa – Gravura é crônica por meio de linhas e manchas. Misturo invenção com o real. Coleto resquícios de histórias, pequenos detalhes e fragmentos que vão formando um todo. Não sou poeta, mas poetizo as formas. 

Ao analisar o passado, como veem o realizado? 
CM – Vejo que tenho uma poética visual. Mas não me agarro ao passado nem estou preocupado se algo vai ficar ou não. Faço o melhor que posso. E pronto.
PL – Fico feliz por ter descoberto uma linguagem e por ainda ter muito a fazer. Às vezes, vendo muito; outras vezes, nada. Quem compra pode ser um cara do Louvre ou um zé-mané. Não importa. O importante é eles gostarem do que fiz. Isso é a medalha de ouro.
 
Por que a opção pela gravura em metal?
CM – Na roça, com 6, 7 anos, fazia carimbos com caroço de abacate e saía carimbando tudo. Na juventude, continuei com desenhos e ilustrações. Jogava futebol no time da cidade de Matozinhos e comecei a me machucar muito. Com medo de quebrar a mão, decidi assumir a arte. Acabei entrando para a Escola Guignard para ser pintor, como todo mundo. Mas as salas eram cheias de madames. Tive aulas de gravura em metal, gostei. Vi o ateliê vazio, sem alunos e sem professores, decidi ficar. Fazia o que queria, sem ser perturbado. Ganhei curso com José Lima, no Rio de Janeiro. A partir daí é a briga: eu e a gravura de metal. 
 
PL – No ensino médio, tive uma professora que foi aluna de Goeldi. Como minha família, ela incentivou o meu gosto pelo desenho. Fiz uma xilo, ainda em Leopoldina. Em 1976, em Belo Horizonte, estudei pintura na Escola Guignard. Durante um período de crise com o curso, descobri a gravura em metal. E fiz, sem preocupação com teoria ou estilo. Amilcar de Castro viu, gostou e me recomendou para estudar no ateliê do Ingá, em Niterói. Lá, tive como professores Edith Bhering, José Assumpção e Mário Dóblia, ex-técnico da Casa da Moeda. Voltei para Leopoldina, montei ateliê e comecei a pesquisar. A gravura virou meu combustível. 
 
A RESISTÊNCIA DA TÉCNICA
Trabalhos de Afrânio Prado, Alessandro Lima, Bruno Lanza, Caio Álvares, Carlos Pedrosa, Carol Merlo, Clébio Maduro, Déa Matilde, Eduardo Rosa, Felipe Abranches, Flávia Carvalho, Giovanni Xisto, Iara Ribeiro, Jaider Laerdson, Jair Carvalho, Leandro Figueiredo, Luís Matuto, Luiza Pacheco, Maíra Caldas, Marcelo Adão, Márcia Stanyslaw, Paulo Fiotti, Paulo Roberto Lisboa, Rafael Casamenor, Raquel Rodrigues, Roberto Freitas, Tales Sabará, Thiago Pena e Udson Xavier. Galeria de Arte da Cemig. Avenida Barbacena, 1.200, Santo Agostinho. Hoje (último dia), das 8h às 19h. Entrada franca. 


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