As aventuras de Juca e Chico ganham reedições

Clássico da literatura alemã traduzido por Olavo Bilac ganha novas versões por duas editoras

por Agência Estado 27/08/2012 15:03

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(foto: Divulgação)
Você está sendo provocado. Por duas editoras e dois meninos travessos, maldosos, incorretíssimos. Pulo do Gato e Iluminuras relançam ao mesmo tempo as travessuras de Juca e Chico. Clássico da literatura alemã escrito por Wilhelm Busch em 1865, e traduzido no Brasil em 1915 por Olavo Bilac, o livro é uma provocação à tendência do politicamente correto que canibaliza a literatura infantil. Na época, era um retrato do sadismo infantil e uma crítica à burguesia. Hoje, é tudo isso, além de uma ironia ao que as crianças têm à disposição para ler. As reedições vieram para bagunçar o coreto, como diz o editor e dono da Iluminuras, o argentino Samuel Leon. Quem tem mais de 40 anos talvez se lembre dos versos bem-humorados dos impiedosos Juca e Chico, nome dado por Olavo Bilac para Max e Moritz no Brasil - a última edição foi de 1976, pela Melhoramentos. Os dois meninos cometem sete travessuras, todas cruéis, numa narrativa rítmica divertida. Eles começam provocando o degolamento das galinhas de dona Chaves (ou Oliveira, na tradução da Iluminuras), seguem roubando as próprias aves assadas, serram a madeira da ponte para o alfaiate cair no rio, colocam pólvora no cachimbo do sacristão, depositam besouros na cama do tio, subtraem doces do padeiro e rasgam sacos de farinha até que o castigo, igualmente cruel, de uma moralidade europeia rígida do século 19, vem após os sete pecados. Comportamentos nada exemplares para os dias atuais, mas que agradaram estudiosos da literatura infantil. "É um livro divertido, irreverente e destemido. Hoje, você tem tudo muito comportado, pasteurizado e, nele, existe a violência, a travessura, a maldade, o castigo", diz a crítica literária Marisa Lajolo. Ela acha bom que as crianças vejam isso, porque "faz parte do comportamento humano" e serve para entender que existe um preço a ser pago pelas coisas erradas. Mas essa não é uma provocação gratuita, como bem alerta Leonardo Chianca, editor e dono da Pulo do Gato: "Juca e Chico é uma novela clássica universal, tem importância histórica e literária, excelente qualidade artística, e pode trazer elementos para discutir se temos ou não de seguir tantas regras do politicamente correto". Uma educação que vem sendo questionada por boa parcela de educadores e editores - tão em pauta que fez coincidir a reedição pelas duas editoras, sem precisar de efemérides. "Tem uma sintonia de pensamento aí acerca do papel da literatura infanto-juvenil. É uma alegria saber que outros editores também estão repensando esse papel", diz Leon, que quer agora "cutucar" os educadores. "Certas questões, que estão muito em voga, são, na verdade, uma enorme bobagem, como tentar censurar Monteiro Lobato. As crianças são divertidas, são ótimas, maravilhosas, mas também são difíceis, travessas, fazem maldades e a vida continua", complementa. Apesar de se tratarem do mesmo livro, as reedições são obras distintas. A versão da Pulo do Gato mantém a tradução de Bilac, um texto quase centenário que não perdeu o frescor e continua muito divertido em suas rimas - e tem nisso um ponto alto. A edição da Iluminuras, por sua vez, mexe e preserva exatamente o inverso. As ilustrações seguem a ordem e as cores utilizadas por Busch, autor que é considerado um precursor dos quadrinhos modernos. Mas o texto é uma nova tradução, feita por Claudia Cavalcanti - que já traduziu Georg Trakl e Paul Celan e, pela Iluminuras, foi tradutora de outro clássico alemão, João Felpudo, de Henrich Hoffmann -, que é muito diferente do texto de Bilac.

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