Retrospectiva traz destaques dos 42 anos de carreira de Juvenal Pereira

Trabalhos em exposição no Espaço Cento e Quatro, de Belo Horizonte, remontam trajetória iniciada na capital mineira

por Ailton Magioli 14/08/2012 09:20

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Fotos: Juvenal Pereira/Divulgação
Tambor de crioula, marca da cultura musical do Maranhão, herança dos africanos (foto: Fotos: Juvenal Pereira/Divulgação )
 
A fotografia brasileira atingiu tamanho amadurecimento que isso permite a realização de eventos como a semana belo-horizontina dedicada à linguagem, cuja segunda edição será aberta nesta terça-feira, 14, no Espaço Centro e Quatro. A opinião é de Juvenal Pereira, de 65 anos, o convidado de honra, que apresentará a exposição Poeta da luz, sua primeira individual na capital mineira. Coincidentemente, trata-se da primeira retrospectiva do fotógrafo em 42 anos de carreira.
 

Autor das célebres imagens dos integrantes do então iniciante Clube da Esquina ao lado do presidente Juscelino Kubitschek, em Diamantina, no início dos anos 1970, Juvenal nasceu no Triângulo Mineiro, trabalhou em vários jornais e revistas. Atualmente, ele mora em São Paulo.

Não por acaso, ressalta a curadora Marilia Pnaitz, Poeta da luz começa com uma panorâmica de Romaria (antiga Água Suja, onde nasceu o fotógrafo) e termina com recortes das montanhas de Ouro Preto.

“É uma satisfação estar em Belo Horizonte, onde, além de ganhar base intelectual, iniciei-me no jornalismo graças às fotos do Clube da Esquina com JK”, diz, orgulhoso, Juvenal Pereira. Ex-funcionário do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, a contragosto da família ele pediu demissão do emprego público para ingressar na carreira.

De Belo Horizonte, Poeta da luz deve seguir para o Sesc paulista e já tem presença garantida na Foto Rio 2013. “Mas quero levá-la a todas as capitais em que trabalhei”, anuncia Juvenal. Além de BH e São Paulo, estão no roteiro Salvador, Manaus, Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Com fotos feitas desde 1971, a retrospectiva reúne cerca de 4 mil imagens – 3.850 reunidas em uma instalação. Outras compõem uma espécie de jogos de memória. Setenta foram ampliadas, entre elas as panorâmicas.

Índios, negros, artistas e personalidades, homenagem ao Clube da Esquina e o funeral do presidente JK, em Brasília, estão na exposição, além de imagens da yãkwa (festa da etnia enanewe-nawe, do Noroeste do Mato Grosso), do congado em Justinópolis, na Grande Belo Horizonte, e do tambor de crioula, dança africana praticada por descendentes de escravos no Maranhão.

Fotografado por Juvenal Pereira ao longo de 30 anos, o bambu ganhou destaque na exposição. “Essa madeira, a mais usada do Brasil, tem estética maravilhosa e impressionante variedade de espécies”, explica ele, lembrando que os pioneiros aviões Demoiselle e 14 Bis tinham estrutura de bambu.

No congado, os bastões atraíram o olhar do fotógrafo, que expressou como eles dão significado especial à autoridade do capitão.

TRAMAS
Em tiras na horizontal e na vertical, duas fotos iguais foram cortadas por Juvenal para criar o que ele batiza de tramas – tranças feitas com fotografias, tecido ou cestaria indígena. Objetos iluminados deram origem a uma espécie de pequenos oratórios, com palcos de madeira em LED, nos quais foram coladas fotos recortadas.

Nas panorâmicas de Ouro Preto, em que Juvenal apresenta o amanhecer e o entardecer da cidade histórica, ele faz uso do díptico, em que imagens semelhantes precisam se juntar para a proposta funcionar.

Fixadas em placa de aço corten – as mesmas usadas por Amílcar de Castro em suas famosas esculturas –, as 3.850 imagens da instalação são produto de pequenas cópias de contato coladas em compensado (MDF) com placa de ímã.
 
BOOM
A fotografia vive um de seus melhores momentos, afirma Juvenal Pereira. “Tudo começou em 1992, quando criamos em São Paulo o Mês da Fotografia, realizado em maio, que acabou contribuindo para o incremento do mercado”, diz o fotógrafo. Com isso, criou-se o hábito de comprar fotos e ampliou-se o número de colecionadores e de galerias especializadas. “Atualmente, a maior parte das bienais e exposições de arte usam a fotografia como suporte”, comemora o veterano. Além de individuais nos museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro, ele tem fotos em coleções famosas como a Pirelli-Masp e participou de coletivas em Moscou, Washington e São Francisco.
 
POETA DA LUZ
Exposição de fotografia. Espaço Cento e Quatro, Praça Ruy Barbosa, 104, Centro. Abertura nesta terça-feira, 14 de agosto, às 20h. 


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