Obras de arte em espaços públicos dão mais humanidade e beleza a Belo Horizonte

por Ana Clara Brant 12/08/2012 08:30

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Leandro Couri/EM/D.A Press
Obra de Burle Marx, mais conhecido por seu trabalho como paisagista, o painel O Esporte está instalado no salão de festas do Iate Tênis Clube, na Pampulha (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Ler um livro na Biblioteca Pública, participar de uma audiência no Tribunal de Justiça, registrar um boletim de ocorrência ou mesmo resolver uma pendenga de trânsito no Detran são atividades corriqueiras na vida de muitos belo-horizontinos. Mas um olhar atento durante essas ações do dia a dia pode descortinar uma experiência única. Isso porque vários espaços públicos da cidade guardam verdadeiras obras de arte que, muitas vezes, passam batidas pelos cidadãos. “Tem muita coisa boa e interessante espalhada por aí e a maioria das pessoas ignora essas preciosidades. Vale a pena prestar atenção e apreciar”, comenta Fernando Pedro, produtor cultural e diretor da C/Arte Projetos Culturais.

O historiador se refere aos diversos murais e painéis que decoram diversos lugares na capital. A maioria deles data dos anos 1940 e 1950, auge do modernismo e um momento em que havia uma grande articulação entre arquitetura e artes plásticas. O que não faltam são exemplos como os Portinari que estão nos clubes à beira da Lagoa da Pampulha, o painel de Mario Silésio na fachada do Detran ou os trabalhos de Yará Tupynambá, presentes em órgãos como a Assembleia Legislativa, a sede regional da Receita Federal ou a reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Ela é a grande muralista da cidade, mas temos outros que se dedicaram a esse ofício, principalmente os da geração Guignard, como Mário Silésio, Haroldo de Mattos e Amilcar de Castro”, destaca a pesquisadora e historiadora de arte Ivone Luzia Vieira.

Algumas das obras se revelam desconhecidas até mesmo de quem convive com elas diariamente, como é o caso dos funcionários da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade. Gente que trabalha há anos no local nunca reparou no painel pintado por Amilcar de Castro, no fim da década de 1980, que fica na fachada que dá para a Avenida Bias Fortes. Mesmo quem é frequentador assíduo do Parque Municipal desconhece o painel em mosaico português da artista plástica Elizabeth Kossovsky, que enfeita as paredes laterais do Teatro Francisco Nunes. “Dia desses, fui numa exposição aqui em Belo Horizonte e fiquei impressionada com as filas. Tudo efeito das propagandas excessivas no rádio, televisão e jornais. Sem notícia e sem marketing, as pessoas não dão atenção e ignoram mesmo. Só vão reparar e observar quando acharem que aquilo é importante”, opina a artista plástica Yara Tupynambá.

Com cerca de 40 murais em vários cantos da capital, Yara diz que a maioria se encontra em bom estado de conservação e acredita que expor em edifícios públicos não deixa de ser uma maneira de difundir o trabalho e aproximá-lo do cidadão, que não está acostumado com esse universo. “Mas essas obras têm que ter o cuidado que merecem. A gente já teve várias destruídas na cidade, inclusive o meu painel na Câmara Municipal. Depois, acabei fazendo outro”, frisa.

Preservação

A historiadora Ivone Luzia Vieira também ressalta a importância de se preservarem essas raridades, já que elas carregam um significado relevante não só para a cultura de Minas, como para a do país. “É necessário recuperar esses momentos que foram tão grandiosos. É natural que os painéis e murais se degradem ao longo dos anos, especialmente os que ficam a céu aberto, já que estão sujeitos às intempéries. Por isso, é fundamental ter uma política de recuperação dessas obras de arte”, frisa Ivone.

Não só os arquitetos e artistas do passado privilegiaram esse casamento profícuo. Alguns profissionais mais contemporâneos também apostam nessa boa relação, como o arquiteto João Diniz, que sempre procura colocar arte em seu trabalho. Parceiro do artista plástico Jorge dos Anjos em vários projetos, Diniz defende que essa integração acaba valorizando o espaço. “É muito espontâneo da nossa parte e é algo que existe desde a época do Renascimento e se consagrou muito no modernismo. O painel não é simplesmente um quadro que você coloca na parede. Ele já está integrado ao ambiente, porque foi feito especificamente para aquele local. Para mim, é sempre uma ótima maneira de valorizar o espaço”, avalia o arquiteto.

Conheça alguns dos mais importantes painéis e murais instalados em locais públicos de BH:

Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Yara Tupynambá, o romeno Emeric Marcier, Burle Marx e tantos outros grandes nomes das artes plásticas brasileira e até internacional se fazem presentes em vários lugares da capital mineira.

 

“Se bobear, deve ter muito mais painéis e murais espalhadas por aí, inclusive em residências. O que não falta é obra de qualidade na cidade e acho que é importante conhecê-las”, diz o historiador e editor Fernando Pedro. Escola da Serra, Teatro Francisco Nunes, Conservatório da UFMG, Palácio dos Despachos e o Iate Tênis Clube são alguns dos espaços da cidade que abrigam exemplares de arte. Confira um roteiro com os principais murais e painéis de Belo Horizonte.

1 – Biblioteca Pública Estadual Prof. Luiz de Bessa
(Praça da Liberdade, 21, Funcionários)
Painel de Amilcar de Castro na fachada do prédio, na esquina da Rua da Bahia com Av. Bias Fortes. Segundo a artista plástica Marina Nazareth, a obra foi encomendada no fim dos anos 1980, para um projeto cultural do extinto Banco Nacional. “Eles estavam procurando paredes e fachadas em várias cidades que tinham boa visibilidade e poderiam se transformar em arte. O Amilcar fez o desenho e na época era um laranja mais vibrante. Hoje está meio desbotado, apesar de já ter passado por uma nova pintura um tempo depois”, conta Marina, que na época era assessora de artes visuais da Coordenadoria de Cultura. O outro painel da biblioteca é de autoria de Herculano Ferreira, datado de 1981, Aprendendo a voar, que se encontra no subsolo do prédio, no Setor Infantojuventil.

2 – Detran
(Avenida João Pinheiro, 417, Centro)
Painel do artista plástico mineiro Mario Silésio, datado do fim de 1959, em azulejos azul, amarelo, vermelho e branco. Medindo 12,5m x 2,60m, o painel deve passar em breve por restauração e atualmente está protegido com plástico bolha e espuma, para evitar que as pastilhas se desprendam mais. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, o processo licitatório para a restauração do painel e do prédio-sede do Detran já foi iniciado e deve ser concluído este ano. Na foto, feita em dezembro do ano passado, percebe-se a falta de peças do painel.

3 – Palácio dos Despachos
(Praça José Mendes Júnior, s/nº, Funcionários)
Painel Civilização mineira (1959), do pintor Cândido Portinari, é uma alegoria sobre a mudança da capital mineira de Ouro Preto para Belo Horizonte. Desde 1966, o painel está em exposição no salão de entrada do Palácio dos Despachos. Em 2003, foi restaurado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), em comemoração ao centenário de nascimento do pintor. Vai passar por novo restauro em breve.

4 – Teatro Francisco Nunes

(Parque Municipal, Centro)
Painel em mosaico português da artista plástica Elizabeth Kossovsky reproduz motivos silvestres (beija-flores, pica-paus, esquilos, tamanduás e outros animais) na lateral que dá para o Parque Municipal, e faz referência às artes (música, teatro, literatura, pintura e escultura) na lateral defronte à Avenida Afonso Pena. Segundo Bernardo Mata Machado, autor do livro Francisco Nunes – do transitório ao permanente (1950-2000), o esmero na execução da obra revela que a artista e o arquiteto Luiz Signorelli estavam conscientes de que o Francisco Nunes, ao contrário das intenções iniciais, estava fadado a tornar-se obra permanente.

5 – Conservatório de Música da UFMG

(Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro)
As telas da sala de concertos do conservatório, datadas de 1926, são dos pintores Antônio Parreiras (tela maior do palco) e de seu filho Dakir Parreiras (13 telas menores na plateia). Foram especialmente encomendadas para a inauguração do prédio, em 1926, com temas baseados no libreto da ópera Tiradentes, de Manoel Joaquim de Macedo.

6 – Tribunal de Justiça de Minas Gerais
(Rua Goiás, 229, Centro)
Abriga dois painéis de Di Cavalcanti. Justiça, confeccionado em 1950, encontra-se no antigo Salão do Júri, hoje auditório Ministro Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto. Di Cavalcanti foi auxiliado pelos artistas mineiros Inimá de Paula, Marília Gianetti Torres, Nelly Frade e Mário Morais. Já o painel Minas Gerais, pintado entre 1950/51, retrata os ciclos econômicos do estado e fica localizado no mezanino do saguão da entrada do prédio. Esse painel também teve a colaboração de Inimá, auxiliado por Marília Gianetti, Nelly Frade, Israel Oliveira, Tito Costa e Nelson Alves.

7 – Receita Federal
(Avenida Afonso Pena, 1.316, Centro)
Painel Ciclo dos diamantes, pintado em 1977 por Yara Tupynambá, referente ao processo civilizatório e econômico ocorrido em Diamantina. Ficava no gabinete da Superintendência de Administração do Ministério da Fazenda de Minas Gerais e, em 1999, foi instalado no saguão do prédio.

8 – Departamento de Investigação Antidrogas
(Av. Afonso Pena, 2.351, Funcionários)
Na fachada do prédio onde funcionava o antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) encontra-se painel criado em 1958 pelo artista plástico Haroldo de Mattos. Algumas pastilhas que integram a obra estão se desprendendo, mas sua estética geométrica chama a atenção.

9 – Pampulha Iate Clube – PIC
(Rua Cláudio Manoel, 1.185, Funcionários)
Painel em óleo sobre madeira de Cândido Portinari, datado de 1959, intitulado Carnaval em Recife: frevo e maracatu, de 2,90mx3,91m. Foi criado para ficar na sede campestre do clube, na Pampulha, mas com a inauguração da sede social, em 1986, foi transferido para lá.

10 – Escola da Serra
(Rua do Ouro, 1.900, Serra)
Painel do artista plástico romeno Emeric Marcier, que viveu durante muitos anos em Minas Gerais e chegou a se converter ao cristianismo na temporada que passou por aqui. Encontro em Emaús utiliza a técnica de afresco. Segundo o assessor de comunicação da escola, Marco Sbicego, a obra, que é do fim da década de 1950, foi restaurada em maio de 2009 pelo artista plástico e restaurador argentino Eduardo Daniel Viale. “É uma cena do evangelho em que Marcier mistura arte medieval europeia com arte italiana pré-renascentista, e ainda traz influência do modernismo.”

11 – Edifício Omni Center

(Avenida Pasteur, 89, Santa Efigênia)
O prédio, com projeto do arquiteto João Diniz, conta, no térreo, com painel em alto relevo do artista plástico Jorge dos Anjos, datado de 1994.

12 – Iate Tênis Clube
(Av. Otacílio Negrão de Lima, 1.350, Pampulha)
Encontram-se no salão de festas do clube, abertos à visitação pública mesmo de não sócios, uma tela de Portinari, medindo 3mx3m chamada O espantalho ou Suicídio da consciência (1941), e o painel O esporte (1942), de Burle Marx, cujas dimensões são 7,5mx2,5m. As duas telas são tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

13 – PIC Pampulha
(Rua Ilha Grande, 555, Pampulha)
Painel de azulejos intitulado Peixes. Obra de 1961, de Cândido Portinari, com 817 azulejos e dimensões de 2,9mx6,5m. A cerâmica veio da fábrica de vitrais Conrado Sorgenicht.

14 – Reitoria da UFMG
(Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha)
Painel A Inconfidência Mineira, de Yará Tupynambá, pintado em 1969, com 40mx4m. Um dos maiores painéis da artista, que tem cerca de 40 murais espalhados pela cidade.

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