Palhaços se tornam personagens de destaque na cena teatral de Minas

Coletivo em Belo Horizonte reúne mais de 150 artistas

por Carolina Braga 05/08/2012 07:24

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Valéria Guimarães / Divulgação
(foto: Valéria Guimarães / Divulgação)
Hoje tem palhaçada? Tem, sim, senhor. E qual dia não tem? Ultimamente, tem sido bem raro. O interesse em torno dessa figura secular dos picadeiros tem se mostrado cada vez mais presente nas ruas e palcos de Belo Horizonte. Como o público tem respondido à altura, o interesse faz entrar em cena a velha lei da oferta e da procura, seja no número de espetáculos ou na quantidade de cursos e oficinas voltados para a linguagem do palhaço. “O mais interessante é que há algum tempo quem procurava essa formação no Brasil geralmente eram pessoas ligadas ao mundo artístico. Agora, não. Profissionais de diferentes áreas se inscrevem. Curso de palhaço não é só para quem quer ser palhaço. Tem um sentido psicocênico”, afirma Rodrigo Robleño. No mês passado, ele comemorou 20 anos em cena como o palhaço Viralata do Brasil. Em paralelo à agenda de apresentações, lida com o aumento na demanda pelos cursos que ministra. “O último que lecionei na Funarte foi igual vestibular: 4,8 candidatos por vaga”, contabiliza. Se é difícil acertar em cheio sobre o que tem impulsionado pessoas de várias áreas a se aproximar da arte do palhaço, não há dúvida quanto à paixão que essa linguagem desperta. “O palhaço é tudo aquilo que quero ser e não posso e tudo aquilo que sou e escondo”, diz a atriz Mariana Arruda, integrante do grupo Maria Cutia. Criada em 2006, a companhia traz no repertório a prova do interesse crescente pelos clowns. “Começamos como um grupo de brincantes e nessa perspectiva caímos no palhaço. Fomos estudando e aos poucos colocamos algumas canções da peça em uma linguagem mais próxima do clown. Na hora de criar o segundo espetáculo, tivemos essa vontade”, conta. Atualmente em circulação pelo Norte de Minas, Concerto em ré tem em cena uma banda de palhaços apresentando um show de rock n’roll de trás para a frente. Em julho, Mariana Arruda ministrou a oficina “Bota esse nariz vermelho pra fora” e, por mais que esperasse uma procura alta, ainda assim ficou surpresa. Foi necessário montar turma extra. “Foi muito interessante, porque veio muita gente que não faz teatro. Muito educador, uma depiladora, uma dona de franquia de colchões, psicólogos, pessoas de diferentes universos e contextos”, lembra.  “Percebemos que nos últimos 20 anos essa é uma linguagem que foi procurada por artistas de teatro. Os atores começaram a ver no palhaço possibilidade interessante para o estudo da arte da representação. É uma maneira de estabelecer um contato mais direto com o público”, explica o ator Cristiano Pena. “É uma arte que trabalha em duas direções que me atraem. Uma para dentro, ao falar e relacionar com suas características pessoais. A outra é uma linha direta com o público. O jogo é na hora. O palhaço é um ser presente, que faz com que você se doe ao público”, comenta Rodrigo Robleño. Para Robleño, por ser uma maneira de se relacionar consigo mesmo, a busca pelo universo do clown talvez possa ser explicada pela necessidade inata do ser humano de querer rir e se conhecer. “É um brincar com as suas qualidades. O meio do caminho entre ser ator e ser espectador”, diz. Depois de passar quatro anos com a trupe do Cirque du Soleil, Rodrigo Robleño voltou a Belo Horizonte e se surpreendeu com o aumento da cena de clowns. A articulação entre os artistas e a movimentação política do setor das artes chamaram a atenção do artista, que rapidamente aderiu aos agitos provocados pelos colegas. Hoje, com seu Viralata, Robleño integra o Coletivo de Palhaços, rede informal de profissionais que se dedicam ao ofício nas ruas e teatros de Belo Horizonte.
Richard Ruguetti / Divulgação
(foto: Richard Ruguetti / Divulgação)
RUAS E PRAÇAS
Segundo cálculos de Cristiano Pena – integrante do grupo de teatro Terceira Margem e também colaborador do coletivo –, atualmente, o grupo reúne cerca de 150 profissionais, sejam oriundos do teatro ou de famílias circenses. Da reunião de artistas com interesses comuns surgiram iniciativas como a Jornada Interplanetária de Palhaços, que caminha para a sétima edição, e também o Qua quara qua qua, ocupação de praças realizado pelo coletivo. São eventos assim que têm contribuído para a presença constante dos seres de narizes vermelhos na agenda cultural da cidade. “O Qua quara qua qua foi idealizado há dois anos. Começamos ocupando uma praça do Buritis e agora estamos em 11 pontos da cidade. Uma vez por mês, cada palhaço ou grupo escolhe uma praça perto da sua casa e faz um espetáculo”, detalha Rodrigo Robleño. Em momento de entressafra, o projeto retoma as atividades em setembro, sempre com apresentações gratuitas. Ao mesmo tempo em que percebem a efervescência na classe, os artistas comemoram a receptividade da plateia. “O público também tem aumentado. Há uma receptividade muito grande não apenas com a figura do palhaço, mas também com a arte em espaços abertos”, comenta Cristiano Pena. O aumento da audiência não quer dizer que não existam desafios para os criadores. O primeiro deles, por incrível que pareça, tem a ver com preconceito. “No Brasil ainda tem a associação do palhaço com a criança. É um desafio para a gente. Quando apresentamos o Concerto em ré, muito adulto vem comentar que gostou muito. Sempre respondo que o espetáculo não é para crianças. As nossas questões estão lá. É uma dramaturgia para adulto”, detalha. Rodrigo Robleño também se diverte com isso. “Quando acaba o espetáculo, é muito frequente que os pais venham falar comigo: ‘Meu filho adorou’, mas está na cara que ele curtiu muito mais”, conta. Palhaçada do dia Confirmando a presença constante dos narizes vermelhos na programação cultural, hoje, às 16h, o Grupo Trampulin apresenta Manotas musicais. Como Benedita Jacarandá (Adriana Morales) e Sabonete (Tiago Mafra) resolveram que são músicos, vão colocar som nas caixas do Teatro Izabela Hendrix, Rua da Bahia, 2.020, Lourdes, (31) 3292-4405.

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