Mostra do fotógrafo e arquiteto Rui Roda traz paisagens marcadas pelo descarte e abandono

Cemitério de navios africano e imagens da arqueologia industrial inspiram a obra do artista que expõe na Escola Guignard

por Walter Sebastião 02/08/2012 10:16

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Rui Roda/divulgação
Rui Roda retrata navios encalhados a 20 quilômetros de Luanda, capital de Angola (foto: Rui Roda/divulgação )
 
Às voltas com estudos sobre a reutilização de espaços nas cidades contemporâneas, o português Rui Roda visitou a Praia de Sarico, a 20 quilômetros de Luanda, capital de Angola. Ao longo de 30 quilômetros há cerca de 30 navios encalhados – alguns foram abandonados por empresas, outros ficaram à deriva ou chegaram ali levados pela correnteza. “É paisagem inquietante e espantosa”, conta Roda. O interesse dele não é só pelo insólito “cemitério de monstros”, mas especialmente pela interação e convivência dos moradores com as gigantescas embarcações.
Fotos registrando a experiência compõem a mostra Esqueletos de aço, que será aberta nesta quinta-feira, às 19h, na Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). Rui vai lançar livro que reúne seus trabalhos. A exposição exibe duas imagens de Sarico. Uma delas feita no inverno, em preto e branco. Expressa a admiração (“e incompreensão”) de Rui em relação à arqueologia industrial, ao museu de artefatos obsoletos, “cujas balas no corpo denunciam a passagem pelos anos 1970 e conflitos de um país”.
A outra, colorida, foi feita no verão, trazendo “paisagem aberta à nova ordem, bastante permeável à rotina da vida, do lazer e de atividades das comunidades”. O artista explica que há ali relações contraditórias “entre corpos artificiais e humanos”. Os últimos trazem vida para um local que é cemitério.
“A contemporaneidade, a sociedade pós-moderna, responde com a reutilização a problemas e questões que a modernidade resolvia com demolições”, observa Rui. Esse é o tema do doutorado dele em design. A série integra trilogia que também abarca esqueletos urbanos (edifícios abandonados em várias cidades). Seção da exposição mineira mostra como a criatividade social recria esses contextos. “Problemas podem ser oportunidades, desde que haja novas atividades para esses espaços”, observa. Exemplo disso são os lofts nova-iorquinos: hoje tipologia construtiva, eles vieram do reaproveitamento de construções industriais abandonadas ou sucateadas.
As fotos foram produzidas como suporte iconográfico para as pesquisas de Rui Roda. “Essas imagens criam relações com a sociedade, com a civilização e com a natureza humana, pontuando possibilidades”, explica o arquiteto, que não gostaria que elas fossem vistas apenas do ponto de vista estético.
Professor de design, Rui Roda tem se dedicado, por meio da fotografia, a recolher experiências emblemáticas de estruturas artificiais abandonadas em cidades como Milão, Londres, Buenos Aires, Rio de Janeiro e Tóquio.
 
ESQUELETOS DE AÇO
Fotos de Rui Roda. Abertura nesta sexta-feira, às 19h. Galeria de Arte da Escola Guignard, Rua Ascânio Burlamarque, 540, Mangabeiras, (31) 3194-9310. De segunda a sexta-feira, das 10h às 12h e das 14h às 18h30. Até dia 16. 


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