Juan de Nieves avalia o que viu de interessante nas artes plásticas no Brasil

Professor da Universidade de Santiago de Compostela, o espanhol explica também a função de um curador

por Sérgio Rodrigo Reis 14/07/2012 10:35

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Jair Amaral/EM/D.A Press
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
 
Amado por uns, odiado por outros, imprescindível ou desnecessário. As opiniões são as mais diversas quando se pensa na figura do curador. Responsável por fornecer visões e contribuições à obra de artistas com trajetórias consolidadas ou em início de carreira, esse profissional é uma figura não tão antiga no cenário internacional, mas que, pouco a pouco, tem conquistado um espaço algumas vezes até exagerado. O fato é que cada vez mais os bons criadores não têm conseguido se manter longe dos curadores. Em boa parte das ocasiões, a parceria tem sido positiva. 
A curadoria é uma disciplina relativamente nova no campo das artes visuais. Surgiu em meados dos anos 1960, na Europa e nos Estados Unidos. Com o advento e difusão de novas linguagens estéticas, a função começou a ter mais relevância, até porque as obras de arte passaram a necessitar de outras leituras. É quando o ambiente deste novo agente do campo da produção estética se tornou mais promissor e necessário. 
O espanhol Juan de Nieves, integrante da Associação Internacional de Curadores de Arte Contemporânea e professor do doutorado de arte, museologia e crítica contemporânea da Universidade de Santiago de Compostela, esteve pela primeira vez em Belo Horizonte na última semana. Veio participar da programação de inverno do Museu Histórico Abílio Barreto, evento realizado em parceria com o Instituto Cervantes. Trouxe não só visões mais atuais da função, como também conheceu artistas, ateliês e instituições locais. Os desafios da profissão e as soluções que presenciou no Brasil em vários aspectos lembram a situação europeia.
NOVOS OLHARES Há tipos diferentes de profissionais. Alguns mais teóricos e acadêmicos, que se dedicam a escrever e articular uma teoria em função da obra dos artistas, e outros com perfis de produtores, preocupados em mediar o processo entre os artistas e demais agentes. “O que não podem ser nunca é uma espécie de intérprete da obra de arte”, diz Juan, citando inúmeros outros bons atributos. “Às vezes, pode ser quase um advogado, às vezes um comunicador, um educador, um dinamizador, um diplomático e até um administrador”, enumera. 
A figura do curador como estrela do mundo das artes é fenômeno recente. Nas listas dos profissionais mais influentes da arte contemporânea, lançadas periodicamente por publicações especializadas, não é raro artistas renomados dividirem o pódio com curadores. Eles não estão ali por acaso. Juan de Nieves explica que, em geral, são pessoas com capacidade de articulação, com presença em comissões de museus importantes. Para ele, a situação é sinal de que a função está se normalizando e, como toda profissão, alguns se destacam mais que outros.
Juan de Nieves também tem uma opinião sobre como deveria ser uma exposição ideal. Considera que é aquela capaz de constituir uma experiência para a audiência no campo mais amplo. “Seja por meio de uma mostra histórica, retrospectiva, coletiva ou site específico”, diz. No caso de mostras de acervos, algo comum nas temporadas anuais dos museus, o êxito é mais complicado, mas a regra é parecida. “As mostras têm que contar bem uma história”, ensina. Uma alternativa, quando os acervos são irregulares, é propor um recorte temático e buscar empréstimos em outras instituições para completar a visão do curador sobre o assunto abordado.
 
Oásis em Brumadinho deixa a realidade de fora 
 
“Nos últimos 20 anos, a arte brasileira contemporânea tem sido uma das mais interessantes em âmbito internacional”, afirma Juan de Nieves. Para o especialista, figuras como Lygia Clark, Hélio Oiticica e tantos outros construíram uma outra visão de mundo baseada na alteridade. “Suas produções são fundamentais para compreender a produção atual internacional.” O especialista faz um paralelo entre a produção nacional e a de fora. Acha que a arte brasileira propõe uma curiosa simbiose entre o físico e o político. “É uma arte da percepção, corporal e, ao mesmo tempo, com forte conotação política. Já nas propostas conceituais europeias e americanas, falta uma dimensão mais humana”, sugere. 
 
A força de instituições artísticas que surgiram recentemente no Brasil impressionaram Juan de Nieves. Em Minas Gerais, ele visitou Inhotim, em Brumadinho, espaço dedicado a obras de artes contemporâneas. A proposta do lugar, apesar da beleza exuberante, não o convenceu. “É um oásis”, resume. “Pareceu-me uma célula resguardada do resto do mundo. Espécie de microcosmos protegido. A realidade está lá fora.” Para ele, só o tempo dirá se a proposta da instituição de estabelecer conexões entre a prática artística e a natureza se dará como originalmente proposta. No seu caso, não funcionou: saiu de lá do jeito que entrou.  


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