Flip mantém desafio de balancear fama e intimismo

Apesar dos altos e baixos, festa literária se encerra com saldo positivo

por Agência Estado 10/07/2012 10:56

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Reprodução / www.flickr.com/photos/flipfestaliteraria
Mesa redonda com principais autores da Flip fechou o evento no domingo, 8 (foto: Reprodução / www.flickr.com/photos/flipfestaliteraria)
Aumento de público e problemas na Tenda do Telão; perfeita homenagem a Drummond e decepção com Jonathan Franzen - a Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, encerrou sua 10ª edição na noite de domingo com os habituais altos e baixos, mas deixou a impressão de que os acertos foram mais decisivos que os erros. Afinal, poucas vezes um autor foi tão bem homenageado como o poeta de A rosa do povo, com mesas brilhantes analisando sua obra, exposição fotográfica e leitura dos principais poemas antes de cada encontro. O grande desafio da Flip sempre foi o de apresentar escritores - artistas habituados, por força do ofício, à solidão e ao recato - para uma grande plateia, transformando o evento em algo mediático e popular. Alcançar o equilíbrio da contradição é a meta e, na maioria das vezes, somente após o término do encontro é que se sabe se o alvo foi atingido. O "problema" foi bem apresentado pelo escritor sergipano Francisco Dantas que, na manhã de domingo, 8, antes de revelar sua predileção por Faulkner e Onetti, lembrou que o escritor não é um ator, pois vive isolado dos vivos mas cercado pelos imaginários. Portanto, não se deve cobrar uma performance inesquecível. Mas, feliz incoerência, Dantas terminou como um dos destaques da Flip. Também a homenagem a Carlos Drummond de Andrade por conta dos 110 anos de seu nascimento - da conferência de abertura com Silviano Santiago e Antonio Cícero, passando pela modernidade avaliada por Antonio Secchin e Alcides Villaça, até a atualidade do poeta mostrada por Armando Freitas Filho (em vídeo), Eucanaã Ferraz e Carlito Azevedo (que leu, emocionado, um poema seu inédito), a celebração foi impactante e abrangente, unindo o culto com o palatável como, de resto, se caracteriza a obra de Drummond. Outros encontros acertaram ao apresentar profundidade e bom humor. Como o que reuniu o americano de origem russa Gary Shteyngart e inglês de origem paquistanesa Hanif Kureishi ou, mais cedo no mesmo domingo, o hilariante bate-papo entre a escocesa Jackie Kay e o gaúcho Fabrício Carpinejar, que se tornou o muso desta Flip ao enaltecer, por meio de seus versos, a beleza escondida atrás da feiura - por conta disso, provocou uma invasão na Livraria da Vila da Flip, mulheres em busca de seus livros para serem autografados. No sentido inverso, reforçando a observação de Francisco Dantas, o espanhol Enrique Vila-Matas ofereceu uma brilhante dissertação sobre literatura na noite de sábado, 7, substituindo, à última hora a ausência de J. M. G. Le Clézio. Sempre sentado, em tom monocórdio, ele leu suas 13 observações sobre o fazer literário, um conciso mas bem estruturado apanhado a respeito da escrita, o que deliciou apenas um terço da plateia pois o restante deixou paulatinamente a Tenda dos Autores. Curiosamente, o próprio Vila-Matas previu o que aconteceria pois, antes de iniciar a leitura, sabia que ela estava fadada ao fracasso. Idêntica decepção provocou a mesa que reuniu o poeta sírio Adonis e o escritor Amin Maalouf, na sexta-feira, 6, quando assuntos políticos dominaram a conversa, relegando a segundo plano justamente a poesia, em especial a já clássica criada por Adonis. Já o americano Jonathan Franzen, para esconder seu nervosismo diante de um grande público, que o alçou à condição de estrela da Flip, pareceu optar por uma performance, marcada por pausas e tiradas que, na maioria das vezes, não provocaram o efeito esperado.

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