Livro sobre a trajetória de Sábato Magaldi reafirma papel do escritor na história das artes cênicas

Sábato Magaldi começou sua carreira em BH ligado à revista literária Edifício, ao lado de Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Fernando Sabino

por Ailton Magioli 23/06/2012 09:49

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l. c. leite/ae
(foto: l. c. leite/ae)
 
A generosidade e o amor ao teatro foi o que mais chamou a atenção da atriz e professora Maria de Fátima da Silva Assunção no crítico e também professor Sábato Magaldi, de 85 anos. Depois de transformar o mestre em objeto de mestrado e doutorado, defendidos na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, ela brinda o público com uma visão inédita do consagrado crítico teatral no livro Sábato Magaldi e as heresias do teatro, que está sendo lançando pela Editora Perspectiva.
A trajetória do crítico mineiro começa na Belo Horizonte natal e se estende até São Paulo, depois da passagem pelo Rio de Janeiro, período no qual Maria de Fátima se dedica a investigar a atuação de Sábato Magaldi na imprensa, mais especificamente no Diário Carioca, onde escreveu de 1950 a 1952. Para muitos, o crítico mineiro foi um dos mais influentes observadores do teatro brasileiro de sua geração, ao lado de Décio Almeida Prado e Yan Michalski, 
Na opinião da professora, são muitas as contribuições de Sábato para o teatro brasileiro. “Sua forma não judicatória de criticar, seu olhar para o entorno da montagem (os modos de produção), sua delicadeza ao lidar com os atores e sua capacidade de, mesmo sendo um apaixonado pelo texto dramático, acompanhar as mudanças ocorridas nos palcos, quando o texto deixa de ser o centro da encenação, sempre com abertura para o novo.”
Foi pesquisando a atuação do crítico no Rio que Maria de Fátima descobriu a importância da prática jornalística desenvolvida por ele em início de carreira, como formulação do que era e do que poderia ser o teatro no Brasil, além de também colocar em discussão conceitos fundamentais das artes cênicas.
O professor Sábato Magaldi, gosta de dizer, ela conheceu por meio dos seus livros e textos. “Não tive a sorte de ser sua aluna. Assim, foi lendo os seus livros que aprendi muito sobre o teatro e mais especificamente sobre teatro brasileiro. Sábato produziu uma historiografia singular sobre o nosso teatro, que vai muito além dos fatos. Seus textos são reflexivos e escritos de dentro do teatro, sua análise, além de estética, é ética.”
Mesmo conhecendo o teatro somente pelos textos dramáticos, Sábato Magaldi, segundo Maria Assunção, se aventurou a escrever sobre ele. “Quando ele começou a fazer crítica, em 1950, sua experiência era literária e adquirida em Belo Horizonte, quanto escrevia na revista Edifício. Na época, o teatro era quase inexistente em Minas Gerais e sua experiência como espectador era ainda incipiente”, informa. Na época, Sábato era amigo de Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Wilson Figueiredo, Autran Dourado e Fernando Sabino, além de crítico nato, aguçado e atento.
Ainda no início dos anos 1950, de acordo com a atriz e professora, Sábato Magaldi soube ver o potencial da obra de Nelson Rodrigues, o que só seria descoberto depois da morte do dramaturgo, nos anos 1980. “Ele também apoiou as aventuras dos atores Jayme Costa e Bibi Ferreira no teatro moderno”, acrescenta, lembrando que na Escola de Arte Dramática (EAD), de São Paulo, ao passar a lecionar história do teatro, acabou responsável pela criação da disciplina história do teatro brasileiro. “Só por isso ele já mereceria todas as homenagens. O olhar do crítico é o mesmo do historiador e professor”, conclui Maria de Fátima Assunção.
 
Trecho
“ Sou antes de tudo uma atriz, todavia, sou professora de teatro, e espectadora também. De cada lugar, a todo tempo, meu olhar parte do interior da realização teatral. A atriz, a professora, a espectadora, todas, falam adentro de um teatro descoberto por acaso, quando cursava o quinto período da faculdade de jornalismo, da UFF, em 1982. Foi a partir desse lugar, do lugar da atriz, que um dia esbarrei, também casualmente, com um texto de Sábato Magaldi, no qual o crítico declarava encarar o seu papel como o de parceiro do artista criador, irmanados um e outro na permanente construção do teatro, e o fazia até mesmo por deleite pessoal; e dizia que para se ter uma compreensão do nosso teatro é preciso a constatação de que ninguém nos ensinou a amá-lo. A afirmação, daquele modo, em tom amoroso e solidário, manifestou em mim forte admiração e identificação com o crítico em plena expressão de ‘um homem envolvido na realidade do teatro’. A consciência de ter encontrado o objeto de minhas pesquisas veio um tempo depois, e permanece até hoje”.
 
Sábato Magaldi e as heresias do teatro, de Maria de Fátima da Silva Assunção 
 
Três perguntas para...  
 sábato magaldi
crítico e professor
 
Até que ponto Belo Horizonte foi importante na sua formação de crítico e professor de teatro?
Na adolescência, em Belo Horizonte, pensava em ser crítico literário. Hélio Pellegrino era meu primo e me aproximou de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Rezende. Todos colaboraram na revista Edifício. O título foi homenagem a Carlos Drummond de Andrade, nosso grande ídolo. Fui dos fundadores da publicação, ao lado de Wilson Figueiredo, Octávio Mello Alvarenga, Autran Dourado, João Etienne Filho, Francisco Iglésias e outros. A revista teve só quatro números, mas foi a confirmação literária para todos nós. 
Por que o senhor decidiu ir embora para o Rio e, posteriormente, para São Paulo?
Jacques do Prado Brandão sempre dizia que “só ficava em Minas, mineiro com defeito de fabricação”. Todos os mineiros escritores seguiram o exemplo de Carlos Drummond de Andrade. No Rio, trabalhei no gabinete de Cyro dos Anjos antes de começar a escrever sobre teatro no Diário Carioca, substituindo Paulo Mendes Campos. A decisão de ser crítico de teatro estava tomada. Do Rio, fui fazer curso de estética na Sorbonne, em Paris, com Etienne Souriau, onde fui convidado por Alfredo Mesquita para lecionar teatro na Escola de Arte Dramática (EAD), de São Paulo. Trabalhei 38 anos como repórter e crítico nos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde e o mesmo tanto como professor na EAD e na Escola de Comunicação e Artes da USP. 
Como era a rotina do senhor na Belo Horizonte daquela época? 
Saí de Belo Horizonte com 22 anos, depois de terminar o curso de direito. Autran Dourado e Francelino Pereira foram meus colegas. Lembro-me que todos as semanas nosso grupo esperava na Praça da Liberdade a chegada do suplemento do Jornal do Brasil. Discutíamos as matérias, aumentávamos nosso conhecimento. 


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