Livro Crisálidas reúne fotografias de personagens que representam atitudes de transgressão sexual

Artista húngara Madalena Schwartz viveu em São Paulo a partir dos anos 1960

por Walter Sebastião 02/06/2012 07:00

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Crisálida, além de significar casulo, designa o estado intermediário que passam as larvas para se transformarem em borboletas. A palavra dá nome ao livro com fotos de Madalena Schwartz (1921-1993), uma importante e expressiva fotógrafa especializada em retratos. É conjunto de imagens de atores e atrizes, boemia artística dos anos 1970, amigos ou vizinhos da fotógrafa, que transgridem identidades sexuais. De Ney Matogrosso, na época vocalista dos Secos & Molhados, até Elke Maravilha, além de integrantes do grupo Dzi Croquettes, companhia que foi pioneira em mostrar, fora do circuito gay, a cultura drag. A organização do volume é de Jorge Schwartz, filho da fotógrafa. Madalena Schwartz é húngara de nascimento. Chegou à Argentina em 1934, onde residiu até a década de 1960, quando fixou residência no Brasil. Casada, mãe de dois filhos, ganhou a vida à frente da lavanderia Irupê, no Centro de São Paulo. Um dos filhos adquiriu uma máquina fotográfica e o equipamento despertou o interesse da mãe. Estudou, a partir de 1966, no Foto Cine Clube Bandeirantes e, em 1967, ganhou menção honrosa no 1° Salão Nacional de Arte Fotográfica de São Carlos (SP). Na década de 1970, publicou fotos nas revistas Iris, Planeta, Claudia e Status, entre outras. A primeira exposição individual foi em 1974, no Museu de Arte de São Paulo. Entre 1979 e 1991, trabalhou para a Globo e colaborou com a Abril. “Sempre que era para fotografar gente, procuravam por ela”, observa Jorge Schwartz.
Madalena Schwartz/Divulgação
Elke Maravilha, 1983 (foto: Madalena Schwartz/Divulgação)
Crisálidas é série muito original. Ninguém fez fotos com o jeito como Madalena realizou. Não é livro sobre travesti nem sobre Dzi Croquettes, mas que mexe com a questão de gênero”, explica Jorge Schwartz, chamando a atenção para a dubiedade revelada nas imagens. São fotos posadas (“e não instantâneos feitos rapidamente”), em cenários improvisados, realizadas em sessões agendadas. E sem espectadores. “Minha mãe se envolvia muito com os modelos, estimulando-os a ficar à vontade, a se soltar. E mergulhava na realização das fotos com intensidade. Por isso as imagens têm tanta força”, afirma Jorge, lembrando que, 40 anos depois, as fotos continuam despertando muito interesse. “Minha mãe lidava com quem posava para ela com uma mistura de admiração e interesse”, acrescenta Jorge Schwartz. As fotos foram feitas em quarto transformado em estúdio, “com muita luz”, do apartamento que Madalena Schwartz morava com a família, no 30º andar do Edifício Copan (SP). A ousadia das imagens causou espanto no marido da fotógrafa, “um senhor húngaro”, que nada tinha a ver com o ofício da mulher. “Mas ele sabia que o trabalho dela tinha importância”, observa Jorge. Madalena, por sua vez, era uma mulher tímida, absolutamente refratária a ser fotografada ou dar entrevistas. “A máquina fotográfica acabou sendo o instrumento de comunicação dela”, acredita o filho.
Madalena Schwartz/Divulgação
Ney Matogrosso, 1974 (foto: Madalena Schwartz/Divulgação)
Imigrantes
A obra de Madalena Schwartz, para Jorge, integra-se ao produzido por geração de fotógrafos imigrantes ou filhos de imigrantes (Maureen Bisilliat, Thomas Farkas, Cláudia Andujar Hildegard Rosenthal), cujo ponto comum é a decisão de fazer, “cada um de acordo com o seu temperamento”, retratos do Brasil. Crisálidas é o segundo livro da fotógrafa. O primeiro, também organizado pelo filho, chama-se Personae (Editora Companhia das Letras), foi publicado em 1997 e é considerado um mural social do Brasil dos anos 1980. “Fiz os dois livros com carinho, acredito que neles está o núcleo de maior relevância da obra de minha mãe. E estou me dando alta no que se refere a novas publicações”, avisa. O acervo de Madalena é do Instituto Moreira Salles e, parte dele, da TV Globo. A emissora carioca, estima, deve ter material suficiente para mais um volume. Jorge Schwartz é, desde 2008, diretor do Museu Lasar Segall (SP). É pesquisador e estudioso de literatura na América Latina, com trabalhos voltados para as relações entre modernismo e vanguardas. Organizou a exposição Do Amazonas a Paris, com obra de Vicente do Rego Monteiro, e foi curador das mostras Da antropofagia a Brasília e Profissão fotógrafo: Hildegard Rosenthal e Horacio Coppola. Coordenou a tradução das obras completas de Jorge Luiz Borges, que valeu a ele o Prêmio Jabuti. Atualmente, coordena a edição das obras completas de Oswald de Andrade. CRISÁLIDAS •De Madalena Schwartz, organizado por Jorge Schwartz •Instituto Moreira Salles •136 páginas, R$ 80

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