Oficcina Multimédia completa 35 anos de trajetória e estreia montagem As últimas flores do jardim das cerejeiras

Espetáculo será encenado nesta quinta-feira e é fiel ao espírito experimental da companhia

por Carolina Braga 03/05/2012 07:00

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Maria Tereza Correa / Em / D.A Press
(foto: Maria Tereza Correa / Em / D.A Press)
 
Repetir, repetir, repetir até ficar diferente. A ideia de Manoel de Barros é o que há 35 anos rege o Grupo Oficcina Multimédia. Dirigida por Ione de Medeiros, a companhia mineira celebra a data com a agenda cheia. A partir de hoje, As últimas flores do jardim das cerejeiras, montagem inspirada em Tchéckov, está em cartaz no Galpão Cine Horto. Mas a celebração não para por aí. 
Em junho, a Multimédia participa do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua, o FIT, com o experimento Dressur Play it again, inspirado no filme Casablanca. Isso sem falar no início dos trabalhos para a próxima montagem, com estreia prevista para março de 2013. “Vamos fazer uma peça sobre monstros. Começamos estudando a Bíblia”, adianta a criadora. 
Ione de Medeiros ainda não tem ideia do que o espetáculo vai ser. Mas o público pode ter uma certeza de antemão: sairá do teatro com perguntas. É performance? É dança? É música? É teatro? Essa tem sido dúvida bastante comum em se tratando do Grupo Oficcina Multimédia (GOM). Criado em 1977 pelo músico Rufo Herrera e Ione de Medeiros como um dos corpos da Fundação de Educação Artística, o grupo sempre teve a experimentação de linguagens como norte. 
“Foram anos para que as pessoas reconhecessem o que fazíamos como teatro. Ninguém sabia dar nome”, lembra a diretora. Formada em música em Petrópolis, Ione sempre seguiu suas intuições. No início da década de 1970 mudou-se de Juiz de Fora para Belo Horizonte, com a recomendação de procurar Berenice Menegale. “Me falaram que em Belo Horizonte havia uma casa de música que eu tinha que conhecer”, recorda. 
Assim foi feito. Ione chegou à capital e logo começou a dar aulas de pré-musicalização para crianças. Depois vieram os festivais de inverno da UFMG, até que seguiu outra recomendação. “Todo mundo me falava que precisava conhecer o Rufo Herrera. Ele fazia a trilha sonora do espetáculo O último carro, dirigido por João das Neves. Fui para o Rio de Janeiro só para ver a montagem. Foi paixão à primeira vista. O Rufo é um guru que veio trazendo o que eu queria: a ideia da arte total”, lembra Ione de Medeiros. 
O Oficcina Multimédia foi efetivamente criado pouco tempo depois disso, quando Rufo ministrou uma oficina de arte integrada no Festival de Inverno da UFMG e, a partir de então, iniciaram os experimentos. Os primeiros trabalhos já davam sinais do quão emaranhada eram as tramas artísticas, embora a música ainda fosse a referência mais forte. A partir de 1983, Ione de Medeiros assumiu a direção do GOM e desde então assina a criação de 21 montagens. “A gente tinha simpatias e antipatias em todas as áreas. Agora isso está melhorando um pouquinho”, diz. 
Vanguarda Não há como não situar o Grupo Oficcina Multimédia como um conjunto de artistas que sempre estiveram à frente de seu tempo. Ione de Medeiros não nega seu papel de vanguarda, mas prefere colocar panos quentes. “A bandeira é perigosa, porque te prende de certa forma”, justifica. Apesar da autoria de trabalhos inovadores, ela ressalta que estar à margem nunca foi e nem será seu objetivo. “Sempre achei que aquilo era uma possibilidade. Não entendia por que as pessoas não aceitavam”, diz. 
Atualmente, o Grupo Oficcina Multimédia possui seis integrantes. Além de Ione de Medeiros, formam o elenco Escandar Alcici Curi, Fabrício Trindade, Henrique Mourão, Jonatha Horta Flores e Marco Vieira. A diretora chega a ser pragmática para ao definir o processo de criação. “Não tem aquela preocupação se estou inovando. Isso não tem que ser a meta. A ação é o que nos leva a descobrir as coisas”, explica. 
Assim, a rotina do grupo se divide em dois períodos. Entre 14h e 18h, todos se dedicam à produção no escritório montado na casa de Ione. A partir de 19h vão para o galpão alugado na Rua Grão Mogol para se dedicar às experimentações de corpo, voz e movimento. “O foco não é o texto, não é o teatro, não é a musica, é mesmo uma trama. Tudo tem que se equiparar, ter uma equivalência de valores”, explica. 
A diretora diz não exigir exclusividade dos atores, mas prioridade. Assim, além do trabalho no grupo os artistas se dedicam ao cinema, à moda e outras áreas. Claro que as habilidades também são aproveitadas nas montagens. “Às vezes é por falta de dinheiro mesmo, mas na maioria das vezes é para dar espaço para o crescimento dos artistas, em áreas que interessam a eles”, diz. Assim, tanto cenários como figurinos e vídeos são elaborados pelos próprios integrantes. 
Ione de Medeiros conta que sempre é perguntada sobre como se dá o processo de seleção para os atores do grupo. Ela é taxativa: “Currículo não adianta. Às vezes nem olho. Tem que conversar, ver como a pessoa é, como o corpo dela acolhe o que fazemos”, explica. Ou seja, é preciso que haja afinidade. Aliás, é o que também, de certo modo, se espera do público. “Nunca achei que estava transgredindo. É só uma possibilidade de fazer teatro. Não que seja melhor nem pior, certa ou errada. É uma entre muitas”, conclui. 
 
Ulisses
Além das montagens teatrais, o Grupo Oficcina Multimédia também é o responsável pela organização do Bloomsday, homenagem ao escritor James Joyce. Há 21 anos, o GOM lembra o 16 de junho (data em que transcorre a ação do romance Ulisses, do escritor irlandês) em Belo Horizonte, em eventos sempre marcados pela experimentação e irreverência, o que, aliás, acompanha a trajetória do grupo e do escritor. Oficina por seus integrantes
 
 “É uma escola de vida. Aqui se aprende de tudo, desde conviver em grupo, respeitar o outro, valorizar o seu trabalho e o do outro”diz Escandar Alcici Curi, 
31 anos, há 11 no grupo 
 
“Uma proposta multimeios, na qual o ator pode chegar com uma bagagem diversificada e se integrar” diz, Henrique Mourão, 
31 anos de idade, há 10 no grupo  
 
“É a ampliação da formação artística de um ator”diz,Fabrício Trindade, 
23 anos, há quatro no grupo.  
 
“Um coletivo onde se tem oportunidade de experimentar. Podemos fazer isso em vários sentidos e com as diversas maneiras de se trabalhar dentro de um espetáculo”diz Marco Vieira, 22 anos de idade, há dois no grupo  
 
“É um grupo de bastante trabalho, vigor e experimentação. É bem específico e com continuidade. Por mais que o elenco tenha se transformado, a pesquisa nunca esteve paralisada. Trabalhamos com a arte e tentamos vivê-la de várias formas”diz Jonatha Horta Flores, 31 anos, há 11 no grupo. 
As últimas flores Do jardim das cerejeiras
Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3613, Horto, (31) 3481-5580). Hoje, 21h, amanhã e sábado, 19 e 21h, domingo, 18h. R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). 


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