Outros territórios

por Walter Sebastião 27/10/2011 10:54

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Pedro Ferraro/divulgação
A paulista Eliete Mejorado e o mineiro Bruno Verner formam o duo Tetine, que aposta no hibridismo de linguagens (foto: Pedro Ferraro/divulgação)
 

 

Três dias para conhecer e experimentar criações que escapam de rótulos. Reunido para compor painel de arte intermídia – nascida do cruzamento de música, artes visuais, cênicas e audiovisual –, o projeto surgiu nos circuitos alternativos e vem influenciando o mainstream. Assim será a edição de estreia do Conexões exploratórias em música & performance híbrida (Coma), em cartaz de hoje a sábado, no Espaço Cento e Quatro.

“Queremos o público debatendo o que estamos fazendo”, avisa Bruno Verner, um dos curadores do Coma. Ele e Eliete Mejorado formam o duo Tetine, projeto elogiado da cena underground. Bruno explica que se trata de programação sólida e extensa com poéticas muito pessoais, marcadas pelo hibridismo.

“Todos desregulam os territórios em que atuam. São mais que apenas grupos de música ou performance”, observa. Procedimento muito comum, além do trabalho com som, corpo e visual, é o uso da própria imagem. Está em cena uma arte estranha e sensorial, feita por pessoas que têm experiência de maior ou menor percurso (traduzida em shows, livros e discos, por exemplo), construída fora dos esquemas tradicionais.

Grupos de vanguarda? “De alguma maneira, sim”, responde Bruno Verner. “Os trabalhos são herdeiros de movimentos como dadaísmo, surrealismo e arte conceitual. Carregam um pouco dessa vibração da vanguarda”, admite. Mas o músico prefere promover o diálogo dos grupos “com coisas interessantes do início dos anos 1980, quando zero de dinheiro acabava gerando trabalhos muito interessantes e singulares”. Verner lembra: naquela época, a indústria cultural ainda não havia acuado undergrounds e alternativos.

O projeto Coma ressalta investigações estéticas praticadas internacionalmente, sempre à margem. “Quando se segue o caminho que escapa a rótulos fáceis, o prazer é poder fazer o que se quer, sem amarras da indústria e da censura. Isso tira os cacoetes, traz espontaneidade para a criação”, afirma Bruno Verner. A dificuldade é encontrar espaço para exibir o realizado. “Como você não se enquadra, muita gente vira a cara. Mas tudo é um modo de operar. O essencial é ter personalidade, acreditar no que você está fazendo. E sem medo de levar um não – aliás, o que mais se ouve”, recomenda Verner.

O festival surgiu da sensação de deslocamento em relação às cenas artísticas experimentadas por Bruno e Eliete com o Tetine. Assim surgiu a ideia de um evento que reunisse todos os “estrangeiros” em relação a conceitos e categorias já estabelecidos. A primeira tentativa nesse sentido foi o projeto Babel, realizado em São Paulo, que reuniu de drag queens ao bailarino japonês Kazuo Ono.

Oficinas
Hoje, no Espaço Cento e Quatro, serão promovidas oficinas gratuitas. Às 10h, com a theremista, cantora e instrumentista austríaca Dorit Chrysler, radicada nos Estados Unidos. Às 14h, Joana Seguro, produtora portuguesa e curadora de música eletrônica e novas tecnologias, faz palestra. Às 15h, o público poderá conhecer o trabalho do DJ e músico Paul B. Davis, norte-americano que trabalha em Londres e é professor no Departamento de Artes Plásticas do Goldsmith College.

Sábado, às 15h, Andrew Horn, diretor do filme The Nomi song, participa de sessão comentada do documentário sobre o artista Klaus Nomi.

De Sampa a Londres
A atriz paulista Eliete Mejorado e o músico belo-horizontino Bruno Verner, curadores do Coma, integram o Tetine, respeitado duo experimental. Radicados em Londres, gravaram 11 discos. A dupla se conheceu durante trabalho com o grupo Oficina, em São Paulo. Uma cena de improvisação aproximou os dois, que, intrigados com o bom resultado, resolveram estender a pesquisa.

Em 1995, surgiu a pequena apresentação daquilo que o duo chamava de música eletrônica sensorial e corporal. No fim de 1999, os dois ganharam bolsa para residência em Londres para desenvolver essa proposta. Mudaram-se para lá.

Tetine começou circulando por galerias de arte e museus graças à trilha para um filme da artista plástica Sophie Calle. “Descobrimos ali uma cena que nos permitia veicular o que fazíamos”, recorda Bruno.

Além de seus 11 discos, o duo produziu a primeira coletânea do funk carioca que chegou à Inglaterra. Outra coletânea reúne “um apanhado de coisas estranhas do Brasil da década de 1980”, informa Bruno. A nova atividade da dupla é a performance com a atriz Helena Ignez, em São Paulo, para recriar a trilha sonora do filme O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla, clássico do cinema underground brasileiro.

COMA
Espaço Cento e Quatro, Praça Ruy Barbosa, 104, Centro.
. Hoje, às 21h – Planningtorock, projeto da alemã Janine Rostron, musicista, performer, programadora e videoartista, um dos nomes da chamada “nova música eletrônica de invenção”.
. Amanhã, às 21h – Dorit Chrysler e Carla Bozulich.
. Sábado, às 21h – Zilche e Tetine. A partir das 23h, Coma Club, com Paul B. Davis, Frederico Pessoa, Astronauta Pinguin, Karine Alexandrino e Bruno Verner.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Informações: www.comanet.br ou (31) 8219-9739.

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