Mostra Faces do Subúrbio traz o diretor Emílio Fontana a BH

Com exibições gratuitas, a mostra apresenta 23 filmes que discutem as diversas representações do espaço periférico no cinema brasileiro

por Márcia Maria Cruz 10/08/2017 11:29
 
Mostra Faces do Subúrbio/Divulgação
'Nenê Bandalho' será exibido no Sesc Palladium cem sessão comentada pelo diretor Emílio Fontana (foto: Mostra Faces do Subúrbio/Divulgação)
A 1ª Mostra Faces do Subúrbio exibe hoje (10) o filme Nenê Bandalho (1971), que se tornou um símbolo na luta contra a ditadura. Após a exibição, haverá bate-papo com o diretor Emílio Fontana, de 87 anos. “Vou abrir a sessão falando de uma história que poucas pessoas sabem. Quando o 'Nenê' estava previsto para ser exibido no Festival de Brasília era cotado para receber o prêmio de melhor filme, mas recebemos recado do ministro da Justiça. Quando seria avaliado pelo juri popular, a Polícia Federal aprendeu o projetor. Na época, o festival foi suspenso pela ditadura, sendo retomado anos depois”, recorda-se. Às 17h30, será exibido Crueldade Mortal, de Luiz Paulino dos Santos. As exibições acontecem até 17 de agosto.

Emílio destacou que não é ativista, mas como artista não pode se eximir em relação ao momento que o país vive. “O que me entristece é perceber que minha obra ainda é atual”, afirma. O personagem Nenê é perseguido como se fosse um bicho pela polícia e pela comunidade. Mas o filme mostra como o desenrolar dos fatos levou Nenê a ser conhecido como um assassino. “O filme nos inspira a pensar como consumo é a grande arma da direita e da injustiça social, mostra como a classe dominante ainda nada de braçadas”, afirma. O diretor afirma que tem cada vez se interessado mais pela cultura hip hop, universo a que a mostra lança olhar. Na próxima terça-feira (15)  às 17h30, será exibido Aqui Favela, o Rap Representa, de Junia Torres e Rodrigo Siqueira.

O curador da mostra Affonso Uchôa compôs um panorama do cinema que trata da periferia ou que seja produzido lá. “Gostaria de fazer um painel sobre a relação cinema e periferia. Para dar ideia da diversidade, busquei filmes de todas as épocas, documentários, ficção ou que está entre as duas coisas. Filme com pegada social, engajados politicamente e filmes com um olhar um pouco amargo, não idealizado, sobre a periferia.” Affonso fez a busca tendo como ponto de partida o  Cinema Novo e chegou até a produção mais contemporânea, que tem  jovens de periferia como produtores.  “O Cinema Novo foi o ponto de virada. A primeira vez que o cinema se voltou para a periferia. Mudou o olhar e passou a entender a favela como espaço importante para se entender a sociedade brasileira”, diz.

Mostra Faces do Subúrbio/Divulgação
"Ostentação', de Fernando Rossi e Marcelo Lin (foto: Mostra Faces do Subúrbio/Divulgação)

Uma das sessões especiais trará cinco curtas-metragens de jovens da região metropolitana de Belo Horizonte que atuam no cinema. “A ideia é apresentar o início dessa produção desses jovens, como eles começam a fazer cinema, como trazem os lugares onde vivem, como abordam a questão da memória”, afirma. No curta Preterir, Marcos Donizetti propõe reflexão sobre a solidão da mulher negra, a partir de histórias e vivências de mulheres de diferentes idades, moradoras da capital e região metropolitana. Fernando Rossi e Marcelo Lin apresentam o curta Ostentação, em que faz reflexão sobre como a ideia de exibir bens materiais está presente na sociedade contemporânea.  

Um dos homenageados da mostra é o diretor carioca Aloysio Raulino (1947-2013). Na quinta-feira (17), haverá exibição de diversos curtas do diretor com sessão comentada por Daniel Ribão. “Nessa mostra buscamos por filmes que não mostrassem a periferia de forma estereotipada. O Aloysio Raulino é uma inspiração de como o cinema pode colocar em xeque o estigma ao propor novas imagens da periferia”, afirma Affonso. 
 
A mostra abriu espaço para que os jovens das comunidades de Belo Horizonte pudessem descer para o Sesc Palladium para se apresentarem. Foi o que aconteceu no último sábado quando foi exibido A batalha do passinho, de Emílio Domingos. Logo depois, o Sesc Palladium se tornou palco da Disputa Nervosa, nome dado pelo La da Favelinha à competição dos dançarinos. “A recepção do público está sendo muito boa. Não é um público de cinéfilo, mas de pessoas interessadas em descobrir.  Fizemos a mostra na aposta que a imagem estereotipadas podem ser mudadas. E é muito legal as pessoas verem com esses meninos são talentosíssimos”, afirma Affonso.
 
1ª Mostra Faces do Subúrbio até  17 de agosto no Cine Sesc Palladium. A entrada para toda a programação é gratuita, com retirada de ingressos 30min antes da sessão. Telefone: (31) 3270-8100. Programação completa   na página do Facebook. 

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