Diretores brasileiros adotam estratégias para promover seus filmes em circuito independente

Brigando por espaço nos cinemas com grandes lançamentos de Hollywood, cineastas se desdobram para estar presentes em pré-estreias de seus filmes e encontrar o público pessoalmente

por Mariana Peixoto 09/08/2017 08:00

Sessão Vitrine/Divulgação
'Rifle', segundo longa do gaúcho Davi Pretto, participa do projeto Vitrine, no Cine Belas Artes, nesta quarta, e entra em cartaz quinta, no Cine 104. (foto: Sessão Vitrine/Divulgação)

Acompanhada de sete das oito personagens de seu documentário, Divinas divas, a atriz Leandra Leal participou da Parada Gay de São Paulo. O desfile, no carro que levava o nome de seu filme, ocorreu em 18 de junho, quatro dias antes da estreia do longa sobre a geração pioneira das divas do transformismo nos cinemas.

Para divulgar seu terceiro longa-metragem, O filme da minha vida, que chegou às salas na última quinta-feira, 03, Selton Mello fez um verdadeiro périplo. Participou de todos os programas de TV possíveis – de Conversa com Bial, da Globo, ao Sr. Brasil, da TV Cultura. Também esteve, no último mês, em um sem-número de pré-estreias. Além das sessões para convidados, o diretor viajou a 10 cidades brasileiras – de Fortaleza a São Paulo – para as chamadas sessões especiais, pagas, abertas ao público em geral.

Aproveitando a popularidade que têm, os dois atores e diretores vêm utilizando maciçamente suas redes sociais (tanto as pessoais quanto as dos filmes) para divulgar os longas. Isso porque sabem que têm que alcançar visibilidade em meio aos blockbusters norte-americanos, que chegam ao país embalados para o grande público. Caso não garantam uma bilheteria satisfatória na semana de sua estreia nos cinemas, os filmes podem morrer na praia.

Divinas divas, quase dois meses após ter estreado, continua em cartaz em algumas salas no Brasil. Já em exibição também nas plataformas de video sob demanda, teve, até agora, uma plateia de 30 mil pessoas nos cinemas. Um número ínfimo para uma produção americana, mas excelente para um documentário independente que estreou em um circuito restrito.

O filme da minha vida poderia ter ido melhor. Estreou em sétimo lugar, com 77,2 mil espectadores (dados do Filme B, maior portal dedicado ao mercado cinematográfico no Brasil), num circuito de 262 cinemas. O palhaço, filme anterior de Selton Mello, estreou em segundo lugar, atraindo 180 mil espectadores, em novembro de 2011 com um circuito semelhante. Segundo longa de Selton Mello, O palhaço chegou ao fim de sua temporada na telona com 1,5 milhão de espectadores.

Se nomes populares têm que arregaçar as mangas para garantir espaço para seus filmes, imagine obras de autores desconhecidos. O gaúcho Davi Pretto é um deles. Seu segundo longa, Rifle, será apresentado nesta quarta-feira, 09, às 19h50, no Cine Belas Artes. A exibição integra a Sessão Vitrine Petrobras, iniciativa dedicada ao cinema independente brasileiro. As sessões, que ocorrem Brasil afora, têm um preço promocional de R$ 12 a inteira. A partir desta quinta, 10, o longa entra em cartaz no Cine 104, com uma sessão diária (a sala não funciona aos domingos e segundas).

''O que acontece hoje é que o circuito de exibição é muito cruel com filmes que se arriscam, que não têm um impacto de divulgação forte como um Homem-Aranha. E, geralmente, são filmes que não terminam quando a sessão acaba. A presença dos realizadores é sempre muito importante para conversar posteriormente com o público'', comenta Pretto. O boca a boca é essencial em produções menores.

Em Rifle, que venceu três troféus no Festival de Brasília de 2016 (entre outros festivais), um jovem misterioso que vive numa região remota do país vê sua vida mudar quando um fazendeiro tenta comprar a pequena propriedade de sua família. Além de ter percorrido o circuito de festivais, Pretto vem participando ativamente da divulgação de Rifle. Hoje, estará em Recife, num debate. O diretor também encara as redes sociais como um instrumento essencial para a divulgação. ''Vejo muita diferença de agora para 2014, quando lancei meu primeiro longa (Castanha). A visualização é muito maior. Em três, dias o trailer de Rifle teve 300 mil views. As coisas estão acontecendo muito rápido.''

Mesmo com o mundo digital a serviço da divulgação dos projetos, a presença do diretor e/ou do elenco em sessões é ainda muito relevante. O argentino Papu Curotto passou alguns dias no Brasil para falar sobre Esteros, seu primeiro longa. Em BH, a coprodução Argentina/Brasil está em cartaz no Cine Paragem.

Ambientado em Pasos de Los Libres, cidade na fronteira com Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, Esteros conta a história de dois amigos de infância, Matias e Jerônimo. Durante a adolescência, a atração sexual é vivida por ambos sem maiores problemas. Já adulto, Matias retorna à cidade natal com uma namorada. Ao ver Jerônimo tantos anos depois, o desejo reaparece. Com ele vem um conflito moral.

O filme, que traz um pouco da história do próprio diretor, estreou na Argentina em fevereiro. Para Papu Curotto, a dificuldade para emplacar no circuito comercial um filme independente é a mesma, no Brasil ou em seu país. ''Toda a equipe vem trabalhando ativamente nas redes sociais, principalmente no Facebook. Só temos como usar os meios alternativos, já que a mídia convencional é muito cara'', conta o diretor. Para a divulgação no Brasil, a página do filme agora está toda em português.

 

REDES SOCIAIS SÃO USADAS PARA PESCAR ESPECTADORES

Artistas que despontaram junto com as mídias sociais, Clarice Falcão e Luis Lobianco fazem também o papel de divulgadores de seus próprios trabalhos. ''Não costumo ir muito a programa de TV. Meu Twitter, Instagram e Facebook acabaram me ajudando para ter uma relação mais direta com o público'', diz Clarice Falcão.

Ela procura não se colocar como uma celebridade nas redes. ''Não faço o gênero de postar look do dia. Mostro mais o que estou fazendo, divulgo show. E gosto da troca com os fãs'', afirma Clarice, que elege o Twitter como a rede que ''tem o público mais fiel''. ''Até reconheço várias das caras que me respondem sempre.''

 

Lobianco também não faz o gênero celebridade da web. ''Não me interessa abrir para coisas mais pessoai'', diz o ator do Porta dos Fundos. Para divulgar seus trabalhos, ele utiliza o Instagram e uma página no Facebook. É ele o responsável pelas postagens. ''Pessoalmente, não sou nada tecnológico. O que faço é aliar meu trabalho a elas. Mas acho que, se não fosse ator, não teria algumas redes sociais.''


No entanto, o público geralmente se interessa mais pelas firulas do cotidiano de um artista, comenta Lobianco. ''As pessoas gostam mais de me ver numa foto tomando café com a fulana do que quando coloco algum material (vídeo, texto, foto) de divulgação de uma peça, um programa ou um filme.'' Para ele, o ator tem que se aproveitar de todos os meios para divulgar um trabalho. ''O corpo a corpo é superimportante quando se precisa lançar um material novo. E sua presença é necessária não só em eventos oficiais, mas em programas de TV, conversas com jornalistas. Acho que uma estreia bem coberta faz toda a diferença.''

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