Veja por que 'Em ritmo de fuga', com Ansel Elgort, é o filme da temporada

Com trama sobre piloto de fuga que ouve música o tempo todo, longa de Edgar Wright chega nesta quinta (27) aos cinemas. Leia entrevista com diretor

por Mariana Peixoto 27/07/2017 08:35

Sony Pictures/Divulgação
Ansel Elgort, Jamie Foxx, Eiza González e Jon Hamm (foto: Sony Pictures/Divulgação)
São Paulo – A vida pode ser menos ordinária com a música certa saindo de fones de ouvido. É isso que o diretor britânico Edgar Wright (Heróis de ressaca, Scott Pilgrim contra o mundo), de 43 anos, prova ao longo de 112 minutos, tempo de duração do filme-sensação desta temporada.

 

Em ritmo de fuga (o título genérico que o adorável Baby driver ganhou no Brasil), que estreia nesta quinta (27), nada contra a corrente do cinema comercial da atualidade. E faz isso para contar uma história de uma simplicidade gritante. A maneira que ela é contada, nada simples, é que faz a diferença.

Baby (Ansel Elgort, tão encantador agora quanto o garoto que morria de câncer no blockbuster A culpa é das estrelas) é um motorista de fuga. Obrigado a prestar contas a um gângster (Doc, que Kevin Spacey, como sempre, tira de letra), é o responsável por levar criminosos de um ponto a outro de Atlanta.

Ele tem cara de anjo, mas dirige como o demo. Cada rota de fuga é desenhada na cabeça do garoto ao ritmo de músicas que ele escolhe entre dezenas de iPods. Baby – órfão que vive com Joseph (C. J. Jones), um pai postiço surdo, que “ouve” as músicas através das batidas da caixa de som – tem um zumbido no ouvido. Para abafá-lo, passa a vida usando fones.

O que incomoda sobremaneira alguns de seus parceiros de crime, principalmente o mais cruel deles, Bats (Jamie Foxx). Doc não repete equipes nos golpes. Somente Baby é o único que está em todos. Por vezes, o garoto tem que lidar com o casal Buddy (Jon Hamm) e Darling (Eiza González), ou o descerebrado Eddie (Flea, o baixista da banda Red Hot Chilli Peppers). Mas a vida do protagonista muda quando ele conhece a garçonete Debora (Lily James).

TURNÊ Em ritmo de fuga virou o filme do verão do hemisfério norte. Caiu nas graças mundo afora, fazendo com que diretor e protagonista empreendessem uma turnê promocional global. Quando chegaram a São Paulo, no último fim de semana, Wright e Elgort já somavam 42 dias de viagem.

Ficaram três dias no país – nesta quinta estão na Cidade do México, semana que vem chegam ao Japão – numa maratona de entrevistas e pré-estreias. A promoção do filme no Brasil atraiu dezenas de fãs de Elgort para a porta do hotel em que o ator se hospedou – recebidos por ele com a maior boa vontade para selfies e autógrafos.

O longa começa com uma impecável sequência de seis minutos. É um grande número musical, só que sob quatro rodas. O garoto pega seu iPod e somente no momento em que a música Bellbottoms, do trio The Jon Spencer Blues Explosion, tem início, é que o roubo também começa. Ao longo do tempo da canção, o assalto é realizado e ele, através de uma perseguição de carros espetacular, coloca todos a salvo. Toda a ação, inclusive curvas e paradas bruscas, é sincronizada com as batidas da música.

Várias outras sequências promovem o encontro entre música e ação (houve um coreógrafo para as cenas mais ousadas). Por vezes, uma canção é inclusive pauta das conversas dos personagens (confira na lista abaixo). Wright demonstra pleno domínio das filmagens que, exceção ao padrão atual, não utilizaram efeitos visuais (só 5% do filme tem efeitos, mais voltados para correção das cenas).

E mesmo que dublês tenham trabalhado nas perseguições mais complicadas, Elgort também pilotou os carros em várias cenas (fez, inclusive, um curso para dirigir em alta velocidade).

Elgort, com sua cara de menino e seu 1,90m, está em cena o tempo inteiro. “É raro isto acontecer, mas acaba fazendo com que o espectador se veja no personagem, experimente seus altos e baixos”, disse o ator de 23 anos. Mesmo dançando pouco, ele, dada a precisão de seu personagem, pode ser comparado a Gene Kelly. Sobre quatro rodas.


Veja a sequência inicial de Em ritmo de fuga 

 

 

DESCUBRA AS CANÇÕES DO FILME


Edgar Wright teve a ideia de Em ritmo de fuga há muitos anos, ao ouvir Bellbottoms. A música do trio Jon Spencer Blues Explosion é a primeira de quatro dezenas de canções que integram a trilha sonora do longa. Confira algumas que são essenciais para a trama:

. Easy (The Commodores) – Essa canção, que é a preferida de Ansel Elgort para o karaokê, aparece duas vezes no filme. 

Na versão clássica e na gravação da cantora Sky Ferreira, que interpreta a mãe de Baby. Além de Sky, outros cantores fazem pequenas participações na história, como Jon Spencer (guarda da prisão) e Paul Williams (açougueiro).

 

 

. Baby driver (Simon e Garfunkel) – Wright é fã da dupla folk, que conheceu nos antigos LPs dos pais. A canção acabou gerando o título original do filme.


. B-A-B-Y (Carla Thomas) – Por mais de uma vez, o personagem de Ansel Elgort tem que soletrar seu nome, para a incredulidade dos que perguntam como ele se chama. A trilha traz outras canções com Baby, como Baby let me take you (The Detroit Emeralds) e When something is wrong with my baby (Sam & Dave).

. Debra (Beck) – A garçonete de Lily James se lamenta por se chamar Debora, pois só há duas canções com seu nome. A outra, também na trilha, é Debora, do T.Rex.

 

 

. Hocus Pocus (Focus) – O clássico do rock progressivo aparece em sua totalidade em uma das grandes cenas de perseguição do filme.


Cinco perguntas para...

Edgar Wright - diretor de Em ritmo de fuga

Sony Pictures/Divulgação
(foto: Sony Pictures/Divulgação)


Baby driver, a canção de Simon e Garfunkel, tem os seguintes versos: “And I was born one dark gray morn/With music coming in my ears” (E nasci numa manhã sombria/Com música chegando aos meus ouvidos, em tradução livre). De que maneira essa canção influenciou o filme?
Curioso você mencionar isso, pois escrevi esses mesmos versos na primeira página do roteiro. O filme não é baseado na música, mas traz o espírito dela. Essa canção, para mim, é também um jovem e veloz motorista.

Em ritmo de fuga é um musical com muita ação ou um filme de ação com muita música?
Os dois. Quando apresentei a ideia para o estúdio, disse que seria um filme de carros dirigidos pela música. Não é um musical tradicional, não é Os miseráveis, é basicamente uma história em que o protagonista está ouvindo música o tempo inteiro. Você vive aquelas coisas através dos olhos deles e ouve as canções também através dos ouvidos dele.

Li mais de uma vez na imprensa internacional que precisou de um britânico mostrar a Hollywood como se faz um bom filme de ação, algo que andava meio perdido em meio às franquias de super-heróis cheias de efeitos especiais. O que você tem a dizer sobre isso?
Tenho que tomar cuidado, pois qualquer coisa que eu diga pode soar cabotino. E prefiro ser mais modesto. A verdade é que isso não tem a ver com a minha nacionalidade. O que fiz foi tentar fazer uma nova versão para um estilo de filme de que estava sentindo falta nos cinemas. Queria fazer um filme como aqueles a que assisti quando era garoto (Bullit, Operação França e Caçada de morte, produções dos anos 1960 e 1970, são referências do diretor).

Quão difícil foi convencer o estúdio de que você não queria fazer um filme de ação usando a tela verde (o chamado chroma key)?
Tivemos que entrar em um acordo, pois todo mundo do estúdio achava que seria complicado demais (não utilizar efeitos visuais). Na minha opinião, os efeitos visuais são uma falsa economia. Parece mais fácil filmar, mas não é fácil fazer direito. O tempo que você economizar de filmagem por causa da tela verde vai representar incontáveis horas de pós-produção. Lógico que para filmar (sem os efeitos) é mais difícil, pois você precisa de todos os atores no set. Mas, no fim das contas, o público sente a diferença. Você não precisa saber o que são efeitos visuais, o que é tela verde, para perceber que, quando uma coisa é real, é melhor.

Originalmente, Em ritmo de fuga seria rodado em Los Angeles. Foi complicado mudar o filme para Atlanta?
Fui meio relutante em filmar em Atlanta, pois todos os filmes estão sendo rodados lá agora (o estado da Georgia oferece 30% de isenção fiscal para produções filmadas ali). Fiquei preocupado em não conseguirmos uma boa equipe ou usar locações que estão em outros filmes. Mas, no final, achei que ele ficou muito melhor lá do que ficaria em Los Angeles. Mesmo que haja muitos filmes feitos lá, poucos têm Atlanta como cenário. No filme, você localiza a cidade nos detalhes: o jornal, a rádio, o banco. E todos os cenários são reais, inclusive com os mesmos nomes.

 

A repórter viajou a convite da Sony Pictures 

MAIS SOBRE CINEMA