Livro sobre a animação brasileira mostra como o gênero se fortaleceu no país

Graças ao esforço dos realizadores, filmes nacionais encantam o mundo

Alê abreu / Divulgação
Cena de O menino e o mundo, indicado ao Oscar em 2016 (foto: Alê abreu / Divulgação)
Há 100 anos, o cartunista Álvaro Marins (1891-1949) “inaugurou” o cinema de animação brasileiro. Autor de Kaiser, ele foi o primeiro a produzir um filme no país utilizando as técnicas do gênero, abrindo as portas para novas experiências.


Para contar essa história e outras que vieram depois, Ana Flávia Marcheti escreveu Trajetória do cinema de animação no Brasil. Viabilizado por financiamento coletivo, o livro surgiu do desejo da designer de conhecer melhor esse mercado. “Queria um livro sobre referências visuais que falasse do processo criativo das produções de animação, assim como os artbooks dos grandes estúdios”, lembra.

Porém, em suas primeiras pesquisas, Ana Flávia não achou o que procurava. “Só encontrei dois livros: Arte da animação: técnica e estética através da história, de Alberto Lucena Jr., e A experiência brasileira no cinema de animação, de Antônio Moreno. Ambos registravam fatos históricos até determinada época, porém sem o foco que eu queria”, explica.

A designer, então, resolveu escrever um livro que ocupasse essa lacuna. “Foram mais de três anos de pesquisas. Foi difícil, pois é um processo braçal ir juntando as informações e confirmá-las com pessoas da área. Um garimpo mesmo”, revela.

Por meio de análises e entrevistas, o livro oferece uma linha do tempo que apresenta a trajetória da animação brasileira. A obra está dividida em cinco capítulos: “Origem”, “Um impulso”, “Experimentando”, “Expandindo” e “Contemporâneos”. O projeto gráfico privilegiou imagens das produções. Da pioneira Kaiser (1917) às contemporâneas Guida (2015), de Rosana Urbes, e O menino e o mundo (2013), de Alê Abreu, que disputou o Oscar de animação em 2016.

DOCUMENTAÇÃO A pesquisadora chama a atenção para o fato de a animação brasileira não ter sido bem documentada, embora o cenário atual seja melhor que o do passado. “As informações são difíceis de encontrar, estão muito dispersas”, argumenta. Porém, observa que vários estudos surgiram nos últimos tempos. “Há mais livros, como o do Sávio Leite, Maldita animação brasileira. Temos o documentário Luz, anima, ação, de Eduardo Calvet, um documento importante sobre a história da animação brasileira. Outras pesquisas estão por vir”, afirma.

A designer ressalta a importância de que outros pesquisadores se voltem para o tema. “No Brasil, a animação é muito vasta, não cabe apenas em um livro ou em um documentário”, observa. “Pesquisar é importante para nós nos estudarmos, buscar a nossa linguagem visual. É fundamental entendermos que existe mercado nacional. Animação não é só mão de obra barata, estamos exportando conteúdo nacional de excelente qualidade”, reforça.

ESFORÇO
Uma das características que mais chamaram a atenção de Ana Flávia foi a capacidade dos cineastas de criar sob condições desfavoráveis. “Mesmo sem recursos materiais e de mercado, os pioneiros foram lá e produziram com a própria mão. Eles se financiavam pelo simples desejo de fazer. A animação brasileira surgiu da vontade de pessoas que queriam que existisse um mercado nacional”, explica. “Hoje em dia, já sabemos fazer um filme de animação e estamos aprendendo a formatar um mercado (para o gênero)”, aponta.

TRAJETÓRIA DO CINEMA DE ANIMAÇÃO NO BRASIL
De Ana Flávia Marcheti
Edição independente
300 páginas
R$ 150



De Annecy ao Oscar

Em 22 de janeiro de 1917, foi exibido Kaiser, o primeiro filme brasileiro de animação. Mas se perdeu no tempo o curta do cartunista Álvaro Marins, conhecido como Seth, exibido no Cinema Pathé, no Rio de Janeiro. Hoje, o Brasil é reconhecido internacionalmente, com premiações consecutivas no festival de animação mais importante do mundo, o Annecy, organizado na França pela Associação Internacional de Filmes de Animação (Association d’International du Film d’Animation).

Por dois anos consecutivos, longas brasileiros ganharam o Prêmio Cristal em Annecy. Uma história de amor e fúria, de Luiz Bolognesi, foi o vencedor em 2013. O menino e o mundo (2013), de Alê Abreu, recebeu o prêmio de melhor filme pelo júri e pelo público, em 2014. Dois anos depois, disputou o Oscar. O curta Guida (2015) é dirigido por Rosana Urbes, a única brasileira premiada no evento francês.

Em 7 de setembro, estreia em 400 salas do país Lino, de Rafael Ribas, animação comprada pelos estúdios Fox. O filme é dublado por Selton Mello, Paolla Oliveira e Dira Paes.

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