Fala comigo mostra o romance entre um adolescente e uma mulher acima dos 40

''Subversivo nos detalhes'', na opinião de seu diretor e roteirista, Felipe Sholl, longa estreia hoje em BH

por Silvana Arantes 13/07/2017 08:00


VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO
Tom Karabachian e Karine Teles interpretam o inusitado casal (foto: VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO)
Um garoto de 17 anos que se sente muito só e tem o hábito de se masturbar enquanto telefona para as pacientes da mãe, que é psicóloga. Uma mulher de 43 anos, cujo marido saiu de casa, que enfrenta a solidão tentando conversar com o silêncio. É assim que o roteirista Felipe Sholl descrevia seu primeiro longa-metragem como diretor, Fala comigo, que chega hoje aos cinemas (Belas Artes e Cine 104, em Belo Horizonte), depois de ter vencido a edição 2016 do Festival do Rio.

Com o passar do tempo – a primeira versão da história ficou pronta em 2005, quando Sholl ainda estudava roteiro – as respostas do diretor foram mudando. “É sobre pessoas que procuram o amor em lugares improváveis”; “É sobre intimidade e como achar intimidade nos dias atuais” foram algumas das novas definições para a história.

Sholl avalia que, embora seu filme não seja “diretamente político, pois foca na intimidade, na vida privada das pessoas”, acabou sendo “subversivo nos pequenos detalhes”. Um detalhe que o diretor cita é o fato de Clarice (Denise), a mãe do adolescente Diogo (Tom Karabachian), reagir com naturalidade à hipótese da homossexualidade do filho. “Naquela família, ser gay é muito tranquilo. A cara de alívio que a Denise faz é um pequeno alento. É claro que é uma família de psicólogos, de pessoas esclarecidas, mas gosto dessa ideia.” Outra “subversão” que o diretor aponta é o fato de “esse filme ter uma família tradicional brasileira que está se desintegrando, e a única possibilidade de sucesso que se tem ali está nesse casal improvável”.

O romance de Ângela (Karine Teles) e Diogo tem na música um ponto de contato. Ela estudou piano; ele toca violão e compõe. A canção Tudo que a vida me der, que Diogo canta para Ângela no primeiro encontro e se torna uma espécie de música do casal, foi escrita (previamente ao filme) por Tom, que é ex-guitarrista da banda Dônica e filho do músico Paulinho Moska.

SOLAR “Eu estava meio sem graça de pedir ao Tom para me mostrar uma música dele, porque, se não gostasse, seria constrangedor. Mas a Karine pediu, e ele veio com essa, que é perfeita para a cena. Não precisei fazer nenhum ajuste”, diz Sholl. O diretor afirma que, por causa da “personalidade solar” de Tom, adaptou o roteiro para tornar o personagem menos “sombrio” do que era no papel.

Por seu desempenho como Ângela, Karine Teles recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio, o que tornou Fala comigo vencedor em duas importantes categorias. “É maravilhoso ganhar prêmio. Além do orgulho e da honra que a gente sente, tem repercussões práticas excelentes. As pessoas passam a valorizar o seu trabalho”, afirma o diretor.

O outro lado da moeda das premiações, que se afigura como alta expectativa em torno dos futuros trabalhos dos premiados, Sholl diz já conhecer bem. “Tenho 35 anos. Quando fui para o Festival de Berlim e ganhei o Teddy (com o curta-metragem Tá), tinha 26 e senti mais esse peso. Fui chamado de promessa, fui chamado de aposta. Dá um medinho. Será que vou cumprir a promessa? Mas, ao mesmo tempo, é uma coisa que te empurra. Essa responsabilidade me faz tentar mais fazer o melhor filme que eu puder fazer.”

Classificado pelo Festival de Berlim como um prêmio “engajado”, o Teddy é atribuído a “filmes e pessoas que abordam temáticas queer em larga escala e contribuem assim com mais tolerância, aceitação, solidariedade e igualdade na sociedade”.

Com seu próximo projeto de longa, Glória, Sholl diz querer “passar uma mensagem de aceitação dos profissionais do sexo na nossa sociedade”. A história é a de um “jovem de 20 e poucos anos, de família rica do interior do Nordeste, que vai para o Rio fazer mestrado em antropologia”, conta o diretor e roteirista. “A tese dele é sobre profissionais do sexo cariocas, e ele mesmo vai se tornar garoto de programa. O filme fala sobre sexualidade e prostituição. Em geral, deixar de ser garoto de programa envolve a ideia de redenção. No caso desse personagem, ele é salvo pela prostituição.”

 

Confira o trailer:

 

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