Tatá Werneck estreia como protagonista no cinema

Filme 'TOC - Transtornada obssessiva compulsiva' foge do padrão da comédia popular e faz graça dos problemas causados pela fama

por Mariana Peixoto Pedro Antunes/Estadão Conteúdo 02/02/2017 07:00
Fábio Braga/Divulgação
Fábio Braga/Divulgação (foto: Fábio Braga/Divulgação)
Em um cenário pós-apocalíptico, uma mulher é perseguida por alguns homens. Quando um deles a alcança, ela percebe que tudo está perdido. A câmera não mostra, mas vemos que seu algoz acabou de abaixar as calças. Pronto para o bote, ele recebe uma flechada – ali mesmo. Uma jovem mascarada acaba salvando a mulher.

É num clima de Mad Max para lá de trash que tem início TOC – Transtornada, obsessiva, compulsiva, primeiro filme protagonizado por Tatá Werneck. A atriz, apresentadora, humorista, celebridade de internet (14 milhões de seguidores no Instagram) de 33 anos dá início hoje a uma nova prova de fogo: mostrar que é capaz de levar seu público ao cinema.

TOC entra em cartaz em 300 salas. É um bom circuito, mas nada comparável às 1.055 salas em que Minha mãe é uma peça 2 – de seu colega de canal Multishow Paulo Gustavo – estreou no mês passado. E há uma boa razão para isso.

O longa está longe de ser uma comédia do padrão popular, que faz graça para a família requentando esquetes que a TV já apresentou. O filme, escrito e dirigido pela dupla Paulinho Caruso e Teodoro Poppovic, tenta extrair humor da história de uma personagem que poderia ser a própria Tatá. Com muita escatologia e palavrão.

Kika K. (Tatá) é uma atriz e comediante em ascensão. Está com uma novela no ar. Fora da tela, namora seu par na trama (Bruno Gagliasso). Está prestes a assinar um contrato na TV que lhe dará seu primeiro grande papel.

Absurdo Mas está infeliz. Sofre de transtorno obsessivo compulsivo (TOC), mal dorme à noite, tem sonhos absurdos, é perseguida por um fã enlouquecido (Luis Lobianco) e, definitivamente, não acha a menor graça nas investidas do namorado, que só pensa naquilo (quando ela não quer, ele faz uso de uma réplica em borracha do órgão sexual feminino).

Obrigada a participar da noite de autógrafos de seu primeiro livro – um manual de autoajuda que ela nem sabia da existência até vê-lo publicado –, cai em si. Isso porque o autor da obra vai até ela, lhe entrega uma mensagem cifrada e some sem deixar vestígios. Com a ajuda do vendedor de livros Vladimir (Daniel Furlan), Kika vai tentar resolver a questão, além de seus próprios problemas. Até o poeta russo Vladimir Maiakovski está envolvido na história.

“É um filme tragicômico, ou uma comédia dramática. O mais importante foi não disparar um monte de piada. Ele percorre muitos territórios, é filme não convencional, talvez por apontar muitas direções”, afirma Caruso.

O projeto de fazer um filme sobre uma personagem que sofria de TOC nasceu há muitos anos, quando Tatá iniciava carreira na MTV. Ao longo do período, o roteiro mudou muito (foram 12 versões), e o transtorno deixou de ser o ponto central da narrativa, que ficou mais concentrada nas dificuldades da fama.

Ousadia “A gente não sabe como vai ser a resposta, já que o tom é um pouco crítico, triste. Mas o filme veio da nossa vontade de fazer um outro tipo de comédia. Acho que o público tem ousadia e quer ver um filme comercial, mas que, ao mesmo tempo, gere um outro tipo de comentário”, acrescenta Poppovic. A dupla de diretores e roteiristas trabalhou ao lado de Tatá, que assina também como coprodutora.

Há alguns momentos interessantes, como uma noitada da personagem em um karaokê paulista ao som de velhos hits de axé. Ou então o encontro de Kika K. com Ingrid Guimarães (que vive ela própria), mostrando o embate entre o velho e o novo na TV. Luis Lobianco e Vera Holtz, como a empresária de Kika, conseguem alguma reação do púbico. E, por fim, ver Mário Gomes, ainda que numa ponta, é sempre engraçado.

TOC, no entanto, tem mão pesada nos palavrões. “Foi uma forma de enfatizar a linguagem do dia a dia”, justifica Caruso. Na opinião dele, o filme “fala o humor” da geração da internet, justamente aquela que acompanha Tatá. “É um filme que não tem medo de mostrar vômito, o pinto do astro balançando. Isso está um pouco relacionado com a liberdade que a internet deu para o humor. Um moleque de 16 anos vai rir muito ao ver um saco sendo arrancado por uma flechada”, finaliza Caruso

Bem, esteja avisado.

TRÊS PERGUNTAS PARA

Tatá Werneck
atriz

O filme tenta refletir sobre a fama, principalmente o lado negativo. Quais as situações vividas por Kika K. que vêm de sua própria experiência?
Quando começamos a pensar no filme, a realidade da Kika ainda não era a minha. Anos depois, a personagem tinha se transformado em uma mulher famosa tentando ser feliz em meio às exigências da sua vida profissional. Não é o meu caso hoje em dia, mas reconheço demais essa busca pela felicidade da Kika diante do sucesso. Tem uma sequência, por exemplo, em que Kika está supertriste, usando uma peruca para fazer uma cena. Quantas vezes eu não tive que gravar cenas de comédia quando estava triste? Meu avô morreu no dia em que fui gravar a estreia de Tudo pela audiência. Já aconteceu de eu estar no hospital tomando soro e vir um fã, colocar o soro e pedir para tirar foto comigo. Acho que o filme fala sobre você ter que estar 24 horas por dia bem, feliz, disponível.

TOC foge do padrão comédia popular. Você só topou por causa disso?
Confio muito no Teo e no Paulinho. Acho que o filme tem muito do nosso DNA. Normalmente, o que faz os dois rirem também me faz rir. Eu tinha outros convites para filmes que talvez fossem mais populares, mas dei prioridade a essa história porque tem mais a ver com o que eu acredito. Foi uma decisão difícil, sabia que não necessariamente seria um filme popular ou de fácil digestão.

Que cacos você colocou no filme?
Costumo improvisar em tudo, mas no TOC tentei ser mais fiel ao texto. A ideia não era fazer uma comédia rasgada, então só improvisei em uma cena ou outra. A cena com a Ingrid na emissora foi de improviso, tínhamos uma base, mas a maior parte fizemos na hora. A cena do avião em que conto para a Vera (Holtz) do beija-flor e do bilhete também. E ainda a cena em que ligo pra ela às 6h para contar de outro sonho.

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