Em entrevista, Marcos Veras fala sobre novo filme e revê a carreira

O ator está em cartaz com o longa 'O filho eterno'

por Correio Braziliense 05/12/2016 09:23

CB/DA PRESS
Comediante, Marcos Veras encarou com naturalidade o papel dramático (foto: CB/DA PRESS)

O ator Marcos Veras para e faz as contas: foram 13 longas em cinco anos. Entram na relação os inéditos Festa da firma, de André Pellenz, e Os saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood, de João Daniel Tikhomiroff; o sucesso cômico O shaolim do sertão e o recém-lançado O filho eterno, de Paulo Machilini. No drama, ele vive Beto, um pai que aprende, aos poucos, a amar o filho, que tem Síndrome de Down. Antes, porém, ele tem que vencer o próprio preconceito. A trama se passa nas décadas de 1980 e 1990. “Muita coisa avançou de lá para cá, tanto quanto ao preconceito como na luta pela igualdade. Mas o caminho ainda é grande”, reflete o ator.

 “O cinema me descobriu e eu estou muito feliz com isso. Mas não quero ficar preso a uma ou outra linguagem”, afirmou Veras, em entrevista ao Correio. Por isso, o ator vai a Portugal com a peça Acorda pra cuspir e, quando voltar, começa a preparação para o elenco de Pega ladrão, novela que deve substituir Rock star na faixa das 19h, na Globo.

 
Ainda sobra tempo para pensar sobre o humor, falar sobre política e planejar um programa de tevê no qual retomará o papel de apresentador desempenhado no Encontro com Fátima Bernardes, entre 2012 e 2015.

 Drama x comédia
Vi com naturalidade o convite para O filho eterno. Venho fazendo mais comédias, mas sou ator e gosto de mostrar esse meu outro lado. A comédia é sublime, é meu habitat natural. Por isso o drama é um desafio ainda. Estou fora da minha zona de conforto, o que é muito bom. O público estranha no começo, mas depois vê que só tem a ganhar com isso.

O livro
 Assim que recebi o convite e roteiro para fazer O filho eterno, corri atrás do livro. Já tinha ouvido falar. Mas era só. Eu precisava entender, no livro, o universo daquele pai para depois ampliar a pesquisa sobre o tema. Daí fui atrás de filmes como O oitavo dia (de Jaco von Dormael — 1996) e o brasileiro Colegas (de Marcelo Galvão — 2012), dois títulos muito bons.

Parceiro de cena
Atuar com Pedro Vinicius (o ator que vive Fabrício, filho de Beto, no filme tem Síndrome de Down) foi muito tranquilo. Foi leve. Não parecia que estávamos falando de um assunto tão pesado, como a aceitação desse filho pelo próprio pai. Quando atuamos com crianças, tudo no set é feito para elas. Nós, atores adultos, temos que estar preparados para os improvisos que elas trazem para a cena. Pedro tem uma espontaneidade e uma sinceridade que são dele. Além disso, eu amo crianças — tenho uma sobrinha que adoro e já dei aula de teatro para meninos de 7 a 10 anos.

Inclusão social
 Sou naturalmente otimista. Mas não posso deixar de ser realista também. A Síndrome de Down está mais inserida na sociedade hoje do que na década de 1980, quando se passa o filme. Até mesmo na medicina, houve avanços. O médico do filme chama a doença de “mongolismo” e o menino de “mongol”. Hoje isso não aconteceria, ele seria mais científico e menos preconceituoso. Além disso, já vemos escolas que aceitam meninos com Down e que eles estão inseridos em alguns setores da sociedade. Mas ainda precisa de avanços. Tem que incluir nas artes, na política e na sociedade como um todo. 


Intolerância
 Não sei se estamos vivendo um período de mais intolerância do que antigamente. Acho que o que está acontecendo é que quem já era intolerante ou preconceituoso ou reacionário agora tem voz. As redes sociais estão reverberando isso. O que era conversa de bar entre amigos virou post pra todo mundo ver. Mas eu acho que a minha geração e a que vem depois têm outro modo de lidar com a internet, de avaliar melhor as coisas que são lidas e saber separar as coisas.

Cinema

Estou num casamento feliz com o cinema. Cinco filmes meus estrearam em pouco tempo e ainda tem dois inéditos. Em 2012 eu joguei para o universo que queria fazer mais cinema. Daí veio Copa de elite e não parei mais. Fiz comédia, drama, papéis pequenos e três protagonistas.

Humor
 A comédia andava meio careta. A tevê viveu um hiato de ousadia depois de uma boa fase com Chico Anysio e TV Pirata. Daí a gente apareceu com o (canal na internet) Porta dos Fundos. Foi uma renovação do humor ácido, sarcástico. Além disso, o Porta meio que profissionalizou a comédia em vídeos da internet, o que foi bom pra todo mundo. Hoje a ousadia já voltou à tevê, com nomes como o do Marcelo Adnet. O humor voltou a viver um bom momento. E vai melhorar mais!

Casamento

A gente (Marcos é casado com a atriz Julia Rabello, a Marisa da novela Rock story) se respeita muito como atores. Quando atuamos juntos, a intimidade acaba sendo levada para cena, mas sabemos o limite. Além disso, somos atores muito diferentes, o que é legal. Quando estamos separados, a gente se ajuda. Eu assisto à novela dela e dou palpite e vice-versa. Mas a gente não quer estar preso aos mesmos projetos. Não somos uma dupla.

Apresentador
Gosto do diferente. Eu era apresentador e mediador no Encontro com Fátima Bernardes e foram três anos incríveis. Isso me rendeu reconhecimento e amizades que duram até hoje. Eu quero voltar a apresentar. Tenho um projeto que já foi apresentado a algumas emissoras, mas vou com calma. Quero que seja um projeto bem pensado antes de ir ao ar. A ideia é de um programa sobre tudo, não necessariamente de humor. Mas, com certeza, bem-humorado.

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