Mineiras conquistam prêmios com olhar feminino no cinema e exigem espaço

O longa A cidade onde envelheço, de Marília Rocha, foi o grande vencedor do Festival de Brasília. Outro destaque é a diretora Juliana Antunes, que finaliza Baronesa

por Ana Clara Brant 03/11/2016 20:03

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Bianca Aun/divulgação
A Cidade onde envelheço recebeu quatro prêmios no Festival de Brasília: longa-metragem, direção, atriz e ator-coadjuvante (foto: Bianca Aun/divulgação)

A última edição do Festival de Brasília, realizada em setembro, revelou a força do cinema produzido em Minas Gerais. Mais ainda: o talento da nova geração de diretoras mineiras ou radicadas no estado. O vencedor A cidade onde envelheço, que arrebatou quatro prêmios – longa-metragem, direção (Marília Rocha), atriz (Elisabete Francisca e Francisca Manuel) e ator coadjuvante (Wederson Neguinho) –, é o principal exemplo desse profícuo momento.

 



Luana Melgaço, de 37 anos, sócia da produtora Anavilhana em parceria com as diretoras Marília Rocha e Clarissa Campolina, acredita que a participação em Brasília foi muito importante, trazendo visibilidade para o trabalho feito em Minas. Três produções do estado que disputaram o Troféu Candango (A cidade onde envelheço, Solon e Estado itinerante) foram dirigidas, roteirizadas e protagonizadas por mulheres.

“É muito bom saber que diretoras, produtoras e roteiristas estão realizando seus primeiros curtas e longas e começando a se destacar”, comenta Luana. “Quando a mulher tem a oportunidade de escrever uma história a partir do seu universo, é possível desconstruir aquela imagem da sociedade baseada na razão, no olhar e no pensamento masculinos. É importante que nossa sociedade seja revista e histórias possam ser contadas também a partir da experiência das mulheres e de outros segmentos descartados e calados por essa sociedade patriarcal, branca, ocidental e machista”, defende.

Outra mineira premiada em Brasília foi Ana Carolina Soares, de 30 anos. Estado itinerante, seu primeiro curta-metragem, traz no elenco não-atores, com exceção da protagonista Lira Ribas. Ela faz o papel de Vivi, moradora da periferia de BH que passa por um período de experiência como cobradora de ônibus.


“Quando comecei a observar as cobradoras da linha que uso, veio o desejo de falar da mulher de periferia/trabalhadora e da violência urbana presente em cotidiano. Sinceramente, não esperava que o filme fosse selecionado para Brasília. Mandei já no final do processo de inscrição e foi uma surpresa. Depois da projeção, percebi que havia chegado com muita força. A participação das pessoas no debate, as reportagens e todos os realizadores que vieram conversar comigo demonstraram que Estado itinerante foi bem recebido e bem compreendido”, celebra.

Ceres Canedo/Divulgação
Estado itinerante, de Ana Carolina Soares, fala do cotidiano das mulheres na periferia (foto: Ceres Canedo/Divulgação)

Estado itinerante levou o troféu especial do júri em Brasília, ficou entre os 10 favoritos do público no 27º Festival Internacional de Curtas de São Paulo e ganhou o prêmio de melhor filme na Mostra Fronteiras Imaginárias do Festival Visões Periféricas do Rio. “Este é o momento de pauta sobre a mulher, as curadorias de festivais adotaram esse tema. As mulheres estão unidas em coletivos, cobrando participação, e, nessa mesma época, três cineastas mineiras ganharam destaque em festivais. Porém, pela quantidade de diretoras que vejo trabalhando, ainda falta o grande momento”, adverte Ana Carolina, questionando a supremacia masculina em projetos aprovados em editais.

Luana Melgaço observa que o número de diretoras e roteiristas em posição de destaque é muito inferior ao de homens. Para a produtora de A cidade onde envelheço, o mercado é machista e sexista, destinando à mulher posições secundárias. “As estatísticas impressionam: menos de 15% dos diretores de cinema brasileiro são mulheres. Isso demonstra o quanto é preciso batalhar para conquistar o espaço ainda tão destinado aos homens, além de quebrar paradigmas, enfrentar o machismo nas relações cotidianas e profissionais. É politicamente urgente que festivais, editais e instâncias públicas se preocupem em equilibrar melhor as seleções, começando pela escolha das comissões de decisão, para reverter a desigualdade de gênero e gerar novo ciclo de representatividade, tanto em funções de comando e criativas quanto na forma como as mulheres são representadas nos filmes”, ressalta.

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