Quando o cinema encontra a política

Morto aos 90 anos, diretor polonês Andrzej Wajda deixa uma obra que registra momentos cruciais do século 20

Kacper Pempel/reuters 13/8/13
Kacper Pempel/reuters 13/8/13 (foto: Kacper Pempel/reuters 13/8/13)

O diretor Andrzej Wajda foi um artista que carregou por toda a vida a alma de seu país. Esse sentimento de pertencimento à pátria marcou profundamente seus filmes, mas não impediu também que sua obra alcançasse universalidade. Morto no domingo aos 90 anos, Wajda foi um cineasta político e a história de seu país, no centro de muitas das turbulências do século 20, foi tema recorrente de seus filmes.


Wajda morreu em Varsóvia, vítima de insuficiência pulmonar. Nos últimos meses, os amigos constataram que sua saúde estava se deteriorando, mas, mesmo assim, Wajda se mantinha muto ativo, apoiado por sua esposa, Krystyna Zashwatowicz, atriz, diretora e cenógrafa.


Ontem, importantes nomes da política e das artes destacaram a importância do cineasta e seu legado. “Todos somos Wajda. Víamos a Polônia e a nós mesmos através dele. E a entendíamos melhor. A partir de agora, será mais difícil”, lamentou no Twitter Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu e ex-primeiro-ministro polonês. Lech Walesa, líder histórico do sindicato Solidariedade e Prêmio Nobel da Paz, foi tema de um dos filmes de Wajda. “Um grande personagem, um grande polonês, um grande patriota e um grande diretor passaram à eternidade”, lamentou Walesa.


A escola de cinema de Lodz, de onde saíram todos os grandes nomes da sétima arte na Polônia, incluindo Wajda, colocou ontem bandeiras negras em sua entrada. “Foi um homem corajoso, de uma grande autoridade, um mestre para os jovens”, comentou o ator Daniel Olbrychski, que atuou em 13 filmes de Wajda.


Andrzej Wajda nasceu em 1926. Tinha 13 anos quando os alemães invadiram a Polônia, em 1939, o que deu início à Segunda Guerra Mundial. Por causa disso, uniu-se à resistência e tentou a carreira militar, mas, sem sucesso, optou por estudar cinema. Em 1954, estreou na direção de longa com Geração. Três anos mais tarde, realizou Kanal, que lhe rendeu o prêmio do júri em Cannes e, em 1958, Cinzas e diamantes.


O diretor deixa uma longa série de filmes célebres, muitos deles dedicados à crítica ao domínio soviético na Polônia e ao stalinismo. Inclui clássicos como O homem de mármore (1977), crítica à Polônia comunista, seguida três anos depois por O homem de ferro, que conta, quase em tempo real, a história do Solidariedade, o primeiro sindicato independente do bloco comunista. O filme lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes.


Um de seus filmes de maior sucesso foi Danton – O processo da revolução, de 1983, instigante drama político em que Wajda foca na relação entre Danton e Robespierre, figuras-chave da Revolução Francesa, iniciada em 1789. Em 2000, ao entregar um Oscar honorário a Andrzej Wajda, Jane Fonda curvou-se diante dele, anunciando-o como o homem que verdadeiramente representava o cinema político. Foi aplaudido de pé. Em Katyn (2007), sua obra recente mais controversa, resgata o episódio do massacre de poloneses pelo Exército Vermelho durante a Sergunda Guerra Mundial. Wajda seria e continua a ser um dos homenageados na Mostra de Cinema de São Paulo, que começa dia 20. Dezessete dos seus filmes serão exibidos ao longo da mostra.

 

 

 

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