Protagonista do filme 'Um homem só', que estreia hoje em BH, Vladimir Brichta se divide entre cinema, TV e teatro

Mineiro de Diamantina, o versátil ator gosta de se dedicar a papéis cômicos e dramáticos. No momento, grava 'Rock Story', próxima novela das sete da TV Globo

por Helvécio Carlos 29/09/2016 09:11
Fotos: Páprica/divulgação
(foto: Fotos: Páprica/divulgação)
São Paulo – A expressão meio lá, meio cá cai como uma luva para Vladimir Brichta, que se considera mineiro e baiano. O ator nasceu em Diamantina, passou uma temporada com os pais na Alemanha e foi morar na Bahia quando voltou para o Brasil. “Minha falta de caráter é tanta que quando vou fazer peça em Minas digo que tenho orgulho de ser mineiro. Quando chego na Bahia, falo que tenho orgulho de ser baiano. Não vejo mal nisso. Já que existe poliamor, por que não pode haver o polinatural?”, brincou ele durante coletiva de lançamento do filme Um homem só, que estreia hoje em BH. O “baianeiro” Brichta já levou a filha Agnes para assistir à vesperata, mas frequenta muito pouco a cidade natal. “Meu pai ama Diamantina”, conta.

No longa, ele interpreta Arnaldo, homem cansado da rotina e do casamento com Aline (Ingrid Guimarães). Para se livrar da chatice do dia a dia, planeja fazer um clone de si mesmo em uma clínica. Não dá certo: Arnaldo acaba enrascado tanto com o clone quanto com o novo amor, Josie (Mariana Ximenes), funcionária de um cemitério de animais de estimação.

“Acho muito generosos os personagens que me permitem abrir o leque no cinema e na televisão. O Arnaldo, de alguma forma, está dentro de uma comédia, mas me dá a oportunidade de trabalhar a linha menos cômica, abordando o drama”, observa.

Trabalhar com dublê para contracenar com ele mesmo foi um desafio. “Isso me alegrou, especialmente pela parte técnica, área em que não gosto de pensar muito. Prefiro me sentir como um cavalo correndo solto à beira da praia. Interpretar Arnaldo foi um exercício, pois ele sai do arquétipo do malandro, do cafajeste alto-astral, para outro diapasão”, comparou Brichta. Entre seus trabalhos mais recentes estão Armane (Tapas e beijos) e Celso (Justiça), produções da TV Globo.

“O filme reserva uma surpresa para o público. Tanto eu quanto a Ingrid (Guimarães) fazemos personagens sérios. Já o Milhem Cortaz, um dos caras mais brabos do cinema nacional, está hilário”, diz Vladimir. Ele se diverte ao lembrar o primeiro encontro no set com Mariana Ximenes. “Ela está a cara da Píppi Meialonga (criação da escritora sueca Astrid Lindgren). Quando era criança, fui apaixonado por essa personagem. Quando vi a Mari caracterizada, gritei: vou viver este romance!”.

Aos 40 anos e 23 de carreira, Brichta tem a certeza de que, apesar do sucesso de A máquina, de João Falcão, “peça emblemática em minha carreira”, a montagem de Calígula, dirigida por Fernando Guerreiro, foi o seu melhor trabalho.

“A máquina virou um acontecimento importante, representou a guinada na vida e na carreira de todos os envolvidos – eu, Lazinho (Lázaro Ramos), Wagner (Moura), Gustavo Falcão e Carina Falcão. Até hoje os jovens chegam perto de mim para elogiar a peça. Curiosamente, eles não viram a montagem, mas têm a referência porque alguém falou sobre o trabalho”, comenta.

JOÃO FALCÃO Brichta e os colegas do elenco não descartam a possibilidade de remontar A máquina, que estreou em 2000. Centrado em seu ofício, o ator reconhece ter feito trabalhos importantes, mas assegura: o melhor está por vir. “Minha carreira de teatro na Bahia me dá orgulho. Tive a sorte de João (Falcão) ter me chamado para A máquina e imediatamente a televisão me chamar, até conquistar o lugar de protagonismo”, frisa. Porém, nem tudo foram flores. “Houve o momento em que comecei a questionar a qualidade do meu trabalho nas novelas. Pedi um tempo, voltei para o teatro e novamente para a TV, fazendo séries naquele universo de humor de que sempre gostei, com o qual me identificava. Tenho muita coisa para viver, lugares para visitar, muita gente com quem quero trabalhar e repetir parcerias”, conta ele.

Já gravando Rock story, novela das sete da TV Globo, com estreia prevista para novembro, Brichta interpreta Gui, um roqueiro bad boy. “Ele começa meio decadente, não por conta da música, mas por causa do temperamento. No primeiro capítulo, joga uma garrafa de água em um cara de costas para o palco, que mexia no celular”, revela.

Brichta não deve cantar “ao vivo” em Rock story, devido ao ritmo industrial da gravação de capítulos. “Vivo música o tempo inteiro, sempre toquei em casa e gostei de cantar. Mas não me tornei músico”, conclui.

O repórter viajou a convite da Downtown Filmes


ENTREVISTA
Cláudia Jouvin, DIRETORA


Um homem só marca a estreia de Cláudia Jouvin como diretora de cinema. Roteirista da série Mr. Brown e filha do cartunista e roteirista Cláudio Paiva, ela conta que o filme, que custou pouco mais de R$ 3 milhões, terá 50 cópias exibidas no país. No Festival de Gramado, o longa faturou os prêmios de melhor atriz (Mariana Ximenes), ator coadjuvante (Otávio Muller) e fotografia (Adrian Teijido).

Um homem só traz um pouco de ficção científica, com o clone, mas também de comédia dramática. Qual é o gênero de seu filme?
Ele é multigênero. Mais romance do que ficção científica, que está ali como ferramenta para contar a história de amor. Não se trata de comédia escrachada como as que dominam o cinema nacional atualmente. Na verdade, não temos tradição de comédia romântica no Brasil. O mais importante da temática é saber qual é a metáfora que você quer usar, o que dizer com aquela ferramenta. No meu caso, quis saber o que nos faz ser esse ser único.

Qual a diferença entre trabalhar na TV e no cinema?
As maneiras de narrar são muito distintas. A tensão, o alcance, tudo é diferente. Sabemos de tudo isso. Em casa, o cidadão chega do trabalho e perdeu o primeiro bloco. Em algum momento, precisa abrir a porta para o cachorro, o filho chora. Quem vai ao cinema está disposto a acompanhar aquela história ali. O alcance da TV é muito grande. Escrevemos para o seringueiro do Acre e para a perua do Leblon. A preocupação é diferente. A TV vem se sofisticando visualmente e está cada vez mais parecida com o cinema. Isso é muito legal. Tem muita gente boa chegando, graças a Deus.

Por que usar um cemitério de animais como pano de fundo para a trama?

Quando fui a um deles, percebi como é melancólico o lugar onde as pessoas vão enterrar os bichinhos. Quem tem um bicho sabe como é doloroso perdê-lo. Curiosamente, durante a etapa de captação para o filme o meu gato morreu. Chorando, liguei para saber como enterrá-lo. Meu marido não acreditava que eu fazia pesquisa para o roteiro com um gato morto na sala...

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