Cine Theatro Brasil Vallourec adapta seu teatro de câmara para funcionar como sala de cinema

Primeiro ciclo de mostras temáticas, em outubro, exibirá sucessos hollywoodianos dos 80

por Eduardo Tristão Girão 19/09/2016 09:43

Com o chocho O especialista, filme com Sylvester Stallone e Sharon Stone, o Cine Brasil encerrou suas atividades em 1999. Referência cultural e arquitetônica do Centro de Belo Horizonte, em plena Praça Sete, ele foi restaurado e reaberto 14 anos depois, incluindo dois teatros, espaço para exposição e um café.

ARQUIVO EM
Público em frente ao Cine Brasil, na Praça Sete, em 1944 (E); sala deixou de funcionar em 1999. (foto: ARQUIVO EM)
 

Mês que vem, voltará a funcionar como cinema – ainda que esporadicamente – com uma mostra de títulos hollywoodianos dos anos 1980 que ocupará o teatro de câmara, recém-equipado com aparelhos de som e projeção.

Originalmente, o cinema funcionou onde hoje está o grande teatro, que tem capacidade para 1.000 pessoas. O teatro de câmara, que já abrigou bingo e restaurante popular, tem 200 lugares e recebeu investimento de R$ 400 mil para que pudesse ser utilizado como sala de exibição.

 

O espaço conta com tecnologia compatível à dos cinemas do circuito comercial da cidade, o que inclui sistema de som 5.1, projetor adequado ao sistema DCP (digital, que substituiu a película) e estrutura para títulos em 3D.

A tela e a estrutura de som são removíveis, de maneira a permitir que o espaço continue a ser usado por outros tipos de produção, como shows e peças teatrais, sem que a acústica seja comprometida.

 

“As acústicas de teatro e cinema são distintas, com exigências diferentes. Fizemos ‘ginástica’ para conciliar isso. Não que sejamos o melhor, mas poucos lugares funcionam como cinema e teatro simultaneamente com tanta qualidade como este”, afirma Alberto Camisassa, presidente do Cine Theatro Brasil Vallourec.

CONVIVÊNCIA

Ele conta que, desde o início da reforma do imóvel, em 2006, havia o desejo de retomar o cinema: “Sabíamos que não seria no grande teatro, mas que um dia daríamos um jeito de, pelo menos, ter algumas exibições. Para viabilizar, tivemos de optar pelo teatro de câmara”.

 

Entretanto, foi preciso pensar num arranjo que tornasse possível a “convivência” dos filmes com a programação – segundo a gestora de planejamento e ação cultural do espaço, Sandra Campos, a agenda de segunda a quarta está cheia até o fim do ano.

Jair Amaral/EM/D.A.PRESS
O consultor e curador Rafael Ciccarini e Alberto Camisassa, presidente do Cine Theatro Brasil Vallourec, no teatro de câmara, que teve estrutura adaptada para exibir filmes (foto: Jair Amaral/EM/D.A.PRESS)

Para dar consultoria técnica ao projeto e definir que filmes exibir e como oferecê-los ao público, foi chamado Rafael Ciccarini, professor de história do cinema e diretor do Instituto de Comunicação do Centro Universitário Una.

 

“O Cine Brasil era um cinema popular, de uma época em que fazia sentido exibir filmes para 1.000 pessoas de uma vez. Seria insensato competir com cinemas de shopping e não há sentido em fazermos outra Sala Humberto Mauro. Procuramos o caminho do meio”, diz Ciccarini.

 


Essa terceira via, segundo ele, consiste em apostar em “filmes relevantes, de virtudes inegáveis e com comunicação com o espectador, que atraiam cinéfilos e, também, o público em geral”. Optaram, então, por operar por meio de mostras semestrais.

 

A primeira delas, batizada de História Sem Fim, comemora os três anos do Cine Theatro Brasil Vallourec e começa dia 26 de outubro, com curadoria de Ciccarini, que selecionou filmes significativos dos anos 1980, como De volta para o futuro, E.T. – O extraterrestre, Os intocáveis e Scarface.

“Nessa época, Hollywood voltou a encontrar a veia de filmes para o grande público, de espetáculo e efeitos especiais, em contraponto aos filmes da fase anterior, autorais e com críticas aos Estados Unidos e às ambiguidades da sociedade, como Taxi driver, O poderoso chefão e Um estranho no ninho. Por isso, Steven Spielberg é tido como um herói pela retomada do cinema rentável, com Tubarão – uma superprodução que justifica o espectador sair para ir ao cinema”, analisa Ciccarini.

A abertura do evento, na véspera, será marcada por exibição no mínimo inusitada de O Mágico de Oz (1939) no grande teatro: a primeira metade do filme terá as legendas trocadas pelas letras do disco The dark side of the moon, do Pink Floyd, que será tocado do início ao fim por banda formada com músicos da cidade que conhecem bem o repertório de rock.

 

Tal sincronia, aparentemente, evidencia série de coincidências, como se letra e música tivessem sido criadas em função do filme.

CCBB só terá salas em 2019
O Centro Cultural Banco do Brasil em Belo Horizonte anunciou há mais de um ano a intenção de ter salas de cinema. Entretanto, o projeto vai demorar a se tornar realidade para o público.

 

“Não tenho uma dimensão do tempo de obra. Não será algo simples, pois ocorrerá com o CCBB funcionando, já que a ideia é não fecharmos durante esse período. Nossa previsão é para o final de 2018 ou princípio de 2019”, afirma o gerente-geral da instituição, Carlos Nagib.

Atualmente, o CCBB-BH se ocupa das licitações relativas ao projeto e de testar a capacidade de carga do quarto andar do edifício, onde seriam instaladas duas salas de exibição, uma com 80 lugares e outra com 100.

 

Instalações hidráulicas, elétricas e de ar-condicionado já estão prontas, mas ainda é preciso fazer restauro do ambiente, bem como sua adaptação para receber aparelhagem de projeção e som.

“Sentimos essa demanda por cinema desde que abrimos. Sabemos que BH tem público grande de cinéfilos. O CCBB trabalha com mostras e seleção por meio de editais.

 

Mostras dão panorama e formam público, o que é importante. Além disso, é possível atrairmos movimentação grande o dia todo com vários horários de exibição e gente que vai ao cinema passando nas nossas exposições e vice-versa”, afirma Nagib.

SAVASSI

Inaugurado em 1948 e fechado em 1990, o Cine Pathé, na Savassi, está perto de voltar a funcionar. Semana passada, foi fechado acordo entre a Prefeitura de Belo Horizonte e um empreendedor que investe no local para restauro do espaço e cessão ao poder municipal por 100 anos.

 

O objetivo é reabri-lo como cinema público de rua, como o Cine Santa Tereza, que também passou por longo período fechado – ambos estarão ligados ao Museu da Imagem e do Som. O contrato ainda não tem data para ser assinado.

 

HISTÓRIA SEM FIM
Confira os filmes da mostra


• Clube dos cinco
(EUA, 1985, de John Hughes)

• De volta para o futuro
(EUA, 1985, de Robert Zemeckis)

• De volta para o futuro 2
(EUA, 1989, de Robert Zemeckis)

• De volta para o futuro 3
(EUA, 1990, de Robert Zemeckis)

• E.T. – O extraterrestre
(EUA, 1982, de Steven Spielberg)

• O exterminador do futuro
(EUA, 1984, de James Cameron)

• História sem fim
(EUA/Alemanha, 1984,
de Wolfgang Petersen)
• Império do sol
(EUA, 1987, de Steven Spielberg)

• Os intocáveis
(EUA, 1987, de Brian De Palma)

• Scarface
(EUA, 1983, de Brian De Palma)

* De 26/10 a 4/11, no teatro de
câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec. Ingressos a R$ 10 (inteira) e
R$ 5 (meia-entrada).

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