Cidade Maravilhosa ganha filme especial da diretora mineira Juliana de Carvalho

'São Sebastião do Rio de Janeiro', documentário dedicado à história da capital fluminense, busca evitar clichês

por Walter Sebastião 07/07/2016 08:45

A Cidade Maravilhosa ganhou um filme diferente: São Sebastião do Rio de Janeiro, da diretora mineira Juliana de Carvalho. O média-metragem narra da criação da capital fluminense aos dilemas de seu futuro, apresentados por historiadores, arquitetos e urbanistas com objetividade e riqueza de informações.

“Procurei fazer um filme histórico em que a cidade – e não a carioquice – é a personagem”, avisa Juliana de Carvalho. “E sem colocar carga ideológica ou conceitos sobre o Rio de Janeiro”, acrescenta.


Ela evitou, deliberadamente, destacar os temas violência, tráfico, paraíso e erotismo. “Apesar de o jogo Flamengo e Fluminense ser mesmo um acontecimento na cidade, enfatizar esse aspecto é chavão”, observa, informando que relativizou a presença do futebol no cotidiano da cidade.

Bang Filmes/Divulgação
Documentário traz imagens do Rio antigo e explica o papel da cidade na colonização brasileira (foto: Bang Filmes/Divulgação)

O filme coloca na tela conflitos, interações e deslocamentos de diversas populações (índios, africanos, franceses e portugueses) pelo trecho do território entre a serra e o mar. Esse processo deixou rastros em comunidades, bairros, logradouros e monumentos que o Brasil e o mundo conhecem. A diretora diz que o documentário mostra para os próprios brasileiros como se deu a colonização do país.

“Até por ter passado por todos os ciclos econômicos, a cidade revela um longo processo, que misturou elementos de várias sociedades e origens, dos nativos aos imigrantes, gerando essa cultura rica e multicolorida que é patrimônio do Brasil”, observa. “Nesse lugar, aconteceram coisas incríveis. Ele merece ter a sua história contada”, afirma a cineasta, observando que aquela cidade do Novo Mundo foi capital de um império europeu.

ÁGUA

Para Juliana, o Rio é lugar bonito, mas difícil de viver, inclusive por ter pouca água potável – problema que vem se agravando. O segundo longa da diretora (em parceria com Bebeto Abrantes) é justamente sobre o Rio Paraíba do Sul, que abastece 90% da capital fluminense, além de 16 milhões de pessoas que vivem em torno de sua bacia – inclusive em Minas Gerais e São Paulo.

“Abordo o tema da sustentabilidade e da necessidade de preservar a natureza. Como em todo o mundo, está posto para o Rio de Janeiro enfrentar e encontrar soluções para as mazelas urbanas, sob o risco de colapso social. Diariamente, o Paraíba do Sul é assoreado, degradado, poluído. Vai chegar uma hora em que vai acontecer o mesmo de Mariana”, observa, referindo-se ao desastre ecológico ocorrido na cidade mineira.

Na origem do filme está o fascínio do cidadão interiorano pelo Rio de Janeiro e por viver perto do mar. Acrescente-se o fato de a capital fluminense ter história antiga: desde o período colonial, traz fortes ligações com Minas Gerais e desempenhou papel importante na ocupação do Sudeste. Pesa também a aura de capital cultural do país, conta a cineasta.

A cidade tem população e modo de vida que refletem – “e muito”, ressalta – a sociedade brasileira. “Com suas desigualdades, violências, falta de cuidado com a natureza, história, beleza, diversidade e desejo de ser feliz, o Rio é tambor e espelho do Brasil. Além disso, o brasileiro conhece pouco a história das cidades, inclusive daquela onde ele mora”, observa Juliana de Carvalho. Ela nasceu em Juiz de Fora e mora no Rio de Janeiro há 30 anos.

NA TV
Outro projeto de Juliana de Carvalho, já em desenvolvimento, é uma série para a televisão chamada Construindo o Brasil.
Os documentários se voltarão para cidades que construíram a territorialidade brasileira – locais que, em algum momento, moldaram o sentimento de brasilidade. O primeiro episódio é sobre Salvador.

SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO: A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE
Documentário de Juliana de Carvalho. 90 minutos. Classificação: livre. Em cartaz às 14h10, no Belas 3
 

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