'O escaravelho do diabo' chega à telona

Marcos Caruso interpreta o delegado Pimentel, que sofre do mal de Alzheimer, na adaptação do livro de Lúcia Machado de Almeida

por Mariana Peixoto 14/04/2016 09:07
Aline Arruda / Divulgação
Marcos Caruso interpreta o delegado Pimentel, que sofre do mal de Alzheimer, na adaptação do livro de Lúcia Machado de Almeida (foto: Aline Arruda / Divulgação )
Um garoto que perde o irmão mais velho, sua maior referência. Um homem idoso que começa a perder a lucidez, sua maior arma no trabalho. O escaravelho do diabo, filme de Carlo Milani que adapta um clássico da literatura infantojuvenil do século 20 é, tanto no papel quanto na tela, uma narrativa de suspense. A questão central é: quem é o assassino que presenteia suas vítimas com aquele estranho inseto?

A adaptação cinematográfica, no entanto, traz à tona questões que vão além da história principal. Ao tratar de perda, ela acaba aproximando ainda mais os dois protagonistas, que se apoiam um no outro.

Só quem viveu em outro planeta nunca ouviu falar da coleção Vaga-Lume. As pessoas podem até não ter lido nem um de seus livros (e são pelo menos 50!), mas já ouviram ao menos falar da série criada em 1973 pela editora Ática que formou, desde então, gerações de leitores.

O escaravelho do diabo, lançado em capítulos pela escritora mineira Lúcia Machado de Almeida em 1953 na revista O cruzeiro, foi o livro que deu origem à série, nos anos 1970 (e é, ainda hoje, o segundo título mais vendido da coleção).

A história gira em torno de um garoto, Alberto, que perde o irmão, Hugo, assassinado. Ele havia recebido no dia anterior um escaravelho e foi morto com uma espada. Inconformado, Alberto decide ir atrás do assassino. Descobre, depois que outras pessoas são mortas, que as vítimas são sempre ruivas. Começa, apesar da pouca idade, a colaborar com o responsável pelas investigações, o Delegado Pimentel.

ADAPTAÇÃO Isto é tudo o que livro e filme têm em comum – o final, para os fãs do livro, é diferente. Espertamente, Milani, em sua estreia na direção de longas-metragens (sua formação é televisiva), adaptou a história para os dias atuais. Assim, Alberto conta com toda a sorte de gadgets para ajudar na investigação. Traz à tona ainda uma questão bastante atual: o Mal de Alzheimer, ainda em estágio inicial, que atinge o delegado Pimentel.

“Milani e eu podíamos ter optado por várias formas para interpretar isto. Como não é o assunto central do filme, a doença não poderia ser pintada com tintas muito fortes, para não ofuscar o protagonismo do garoto. E acho que, com quanto mais leveza você trata um problema dramático, mais emocionante ele se torna aos olhos de quem vê”, comenta Marcos Caruso, que interpreta o delegado.

Ainda que conhecesse o livro de Lúcia Machado de Almeida (seu filho o leu na infância), o ator optou por não lê-lo. “Não queria dar pistas falsas para o público e, além do mais, o roteiro já tinha ferramentas fortes para a construção do personagem.” Já o intérprete do protagonista, Thiago Rosseti, 13 anos (tinha de 11 para 12 nas filmagens) foi proibido de fazê-lo.

Para chegar ao seu primeiro grande papel no cinema (até então sua maior experiência era com publicidade), Rosseti passou por uma seleção com 150 crianças. “Como estava contracenando com atores muito bons, para mim não foi nem um pouco difícil fazer o papel. Não recebi o script, só sabia o que tinha que falar na hora de filmar. Era para não perder a espontaneidade. Eu lia uma vez e não errava o texto”, comenta.

Na adaptação, O escaravelho ganhou como cenário a fictícia Vale das Flores. O serial killer obcecado por escaravelho e ruivos deixa em polvorosa uma cidade pacata que, apesar de ser pequena, não se descola dos tempos atuais. Alberto, por exemplo, não desgruda de seu tablet. Utiliza-o tanto para pesquisar o crime quanto para se comunicar com a mãe. Séries de TV como CSI também são uma referência, assim como uma cantora jovem que atiça os pré-adolescentes do filme.

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