'Zoom' é um filme metalinguístico que conta várias histórias e é falado em duas línguas

Longa marca estreia de Pedro Morelli na direção. Cineasta propõe brincadeira com estereótipos

por Mariana Peixoto 31/03/2016 08:00
PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO
(foto: PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO)
Emma é uma quadrinista que trabalha numa fábrica de bonecas infláveis. Convivendo diariamente com os corpões de plástico, sonha em colocar prótese nos seios. Nas horas vagas, dedica-se a contar a história de Edward, um diretor de cinema metido a besta que sofre com um problema anatômico, por assim dizer. O cineasta, por seu lado, está trabalhando num filme sobre Michelle, modelo que quer ser escritora. O romance a que ela se dedica tem como protagonista ninguém menos do que Emma.

Complicado? A comédia dramática Zoom é uma história dentro de uma história, dentro de outra história. Mais: mistura live action com animação. No caso, a técnica é a chamada rotoscopia, processo em que se desenha a partir da imagem filmada (algo que Richard Linklater fez em Waking life, de 2001, e O homem duplo, de 2006). A narrativa é ainda falada em duas línguas (português e inglês), com cenários tanto no Brasil quanto no exterior (as filmagens foram realizadas no Canadá).



Um filme um tanto ousado, ainda mais se tratando de um diretor estreante. Pedro Morelli, filho de Paulo Morelli, um dos sócios de Fernando Meirelles na produtora O2, era um garoto de 21 anos quando atuou como estagiário de Ensaio sobre a cegueira (2008). Coprodução Brasil e Canadá, tinha como produtor o canadense Niv Fichman. “Dois anos depois, quando eu estava com 23, ele me propôs um projeto em que eu fosse diretor. Perguntei: ‘Qual é o briefing?’. E ele me disse que não tinha ideia, que inventasse o que quisesse. A condição era que o projeto fosse original”, conta Morelli.

Os anos se passaram, ele foi ganhando experiência (codirigiu com o pai Entre nós, de 2013), e trabalhando no roteiro, assinado por Matt Hansen. “Quando o Niv me deu liberdade, pensei num roteiro que tivesse uma pegada diferente na estrutura”, conta Morelli, que pegou como maior referência o norte-americano Charlie Kaufman (Quero ser John Malkovich, Adaptação). Além de trabalhar com a metalinguagem, característica de alguns trabalhos de Kaufman, Morelli ainda queria uma boa dose de nonsense. “É como a escadaria do Escher, em que você sobe, mas está sempre no mesmo lugar.”

Como são três histórias, uma dentro da outra, o espectador vai sendo “enganado” ao longo da narrativa. Nunca se sabe se o que está vendo é real ou ficcional. Como se trata de uma produção internacional, o elenco é também dividido. Mariana Ximenes é a modelo Michelle, brasileira que mora em Toronto e namora Dale (Jason Priestley, do extinto seriado Barrados no baile). Alison Pill é a quadrinista Emma, que criou o personagem Edward, interpretado por Gael Garcia Bernal.

Deixar com que o astro de seu filme vire uma animação foi uma ousadia de Morelli. “E foi isso o que mais o atraiu no filme, pois é algo muito raro. Ele gostou da ironia (do “problema” do personagem) e de ter sido desenhado frame a frame”, comenta o cineasta, que também brincou na história com o passado de Priestley. No filme, seu personagem é o estereótipo do machão que já teve dias melhores. “O Jason já foi um galã. Tratar dos padrões de beleza em um ator que é conhecido por isso traz uma camada interessante”, finaliza Morelli. Zoom estreia hoje somente no Brasil – no Canadá e nos EUA, o filme deve chegar ao circuito entre julho e agosto.

Barrados no baile foi escola

O ator Jason Priestley nem liga mais. Passaram-se 16 anos desde o fim de Barrados no baile, mas, em todo o mundo ele continua sendo identificado como Brendon Walsh, irmão gêmeo de Brenda (Shannen Doherty). Os dois mudavam-se com a família para Beverly Hills, e era o título original, Beverly Hills 90210, da série apresentada durante quase 10 anos pelo canal Fox, entre outubro de 1990 e maio de 2000. O acréscimo numérico ao título refere-se ao código postal de uma das regiões mais elitistas da Califórnia e dos EUA.

Brendon e Brenda estudavam na exclusiva (e fictícia) West Beverly Hills High School e, como todos os demais adolescentes, eram confrontados com problemas de identidade, droga, sexo. “O programa era muito bem escrito e dirigido, e até avançado para a época. Foi muito influente. Tenho o maior orgulho de ter feito parte daquela experiência.” E ele acrescenta: “Além de ator, sou também diretor e até nisso o Barrados foi importante para mim. Foi lá que comecei a dirigir”.

Priestley conta como entrou para o elenco de Zoom. “Através da produtora canadense Rhombus Media. Eles me enviaram o roteiro, achei intrigante. Não conhecia Pedro, mas aí me informaram que a empresa produtora era a mesma de Cidade de Deus, que é um grande filme. Por que não?, pensei comigo. Vim para o Brasil há dois anos, quando filmamos, e não me arrependo. “ (Estadão Conteúdo)

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