Diretor brasileiro Afonso Poyart estreia em Hollywood com 'Presságios de um crime'

Diretor que despontou no cinema nacional com '2 coelhos' tem longa com Anthony Hopkins no papel de um vidente a serviço do FBI

por Carolina Braga 25/02/2016 08:00
DIAMOND FILMS/DIVULGAÇÃO
(foto: DIAMOND FILMS/DIVULGAÇÃO )

Presságios de um crime, que chega hoje às salas brasileiras, é a segunda estreia no cinema do diretor Afonso Poyart, de 37 anos. Com 2 coelhos (2012) seu primeiro longa, orçado em R$ 3,5 milhões, ele cavou um lugar na produção audiovisual brasileira e a fama de conseguir fazer um cinema de ação totalmente brazuca. Com o novo filme, Poyart experimentou pela primeira vez o gosto de participar da máquina de produção hollywoodiana. E não achou tão bom.

“Óbvio que não foi fácil. É uma indústria muito consolidada”, afirma. Presságios de um crime é um thriller psicológico com um histórico de problemas de produção. Mark Pellington (O suspeito da Rua Arlington) foi o primeiro diretor anunciado, em 2008. A participação dele não vingou, e o roteiro foi reescrito duas vezes depois disso. Ou seja, Afonso Poyart pegou, conscientemente, uma batata quente.


“Estava preparado para o que viesse”, conta. Encontrou uma equipe comprometida, profissional, mas nem um pouco aberta ao improviso. As relações foram tensas, inclusive com o protagonista, o ator (e produtor-executivo) Anthony Hopkins. “A parte do set de filmagem foi a que menos amei. Tem certo vício industrial. É quase uma fábrica”, diz Poyart.


Na opinião do diretor, o cinema que se faz no Brasil ainda pode ser chamado de artesanal. Não apenas pelo modo como é filmado, mas pela liberdade com que o processo é conduzido. “Tive liberdade criativa, mas em um set de filmagem lá é mais difícil sair do plano e ir atrás do improviso”, explica. Adepto da ideia de que o acaso contribui com o cinema, ele diz que seu maior aprendizado no exterior foi justamente com o rigor. “Saber manusear uma equipe.”


Depois dessa experiência, ele voltou ao cinema nacional com Mais forte que o mundo, cinebiografia do lutador José Aldo. “Já estamos finalizando som e os efeitos visuais”, conta. A previsão é de que na metade do ano o longa esteja pronto. Mais forte que o mundo tem José Loreto como protagonista. Também estão no elenco Cleo Pires, Rômulo Arantes Neto, Milhem Cortaz, Jackson Antunes, Claudia Ohana e Rafinha Bastos.


MMA Com orçamento de R$ 5 milhões, o filme vai contar a história do lutador de MMA desde sua saída de Manaus, onde teve uma infância marcada por violência doméstica, até a consagração no octógono. Por mais que o diferencial do roteiro seja a superação do atleta e o acerto de contas com os traumas do passado, Poyart promete mais um filme de ação.


Depois da experiência no exterior, o brasileiro assegura que existem aqui fornecedores capacitados para esse tipo de produção. “Eles vêm, resolvem e pronto. O que não temos é a mesma experiência rodada. Por isso precisamos trabalhar juntos para desenvolver a coisa.”


Ele conta ter rodado em Mais forte que o mundo uma cena de perseguição, com dublês e mão de obra 100% nacional. “Pensei em contratar fora, mas achei um pessoal aqui que fez muito (bem). Tivemos quatro meses de treinamento com os atores. Eles pegaram com muita vontade”, diz. Para o diretor, o negócio é fazer. “Em qualquer lugar tem sempre a primeira vez”, sintetiza.


Usar a tecnologia 3D, por exemplo, é o próximo passo em sua carreira. Ele vai começar a adaptar para o cinema o livro Bateau Mouche: uma tragédia brasileira, de Ivan Sant’Anna. A Paris Filmes comprou os direitos. A ideia é fazer um longa na linha de O impossível (2012), sobre o tsunami na Tailândia, estrelado por Naomi Watts. Mais uma prova de fogo para o cinema de ação de Poyart.

Crítica

Se em 2 coelhos, mesmo como poucos recursos, Afonso Poyart conseguiu chamar a atenção para a originalidade com que conta uma história de ação, em Presságios de um crime o caminho é inverso. Curiosamente, mesmo tendo ao seu dispor a engrenagem de Hollywood, o thriller psicológico não escapa em momento algum dos clichês.


A trama gira em torno da história de uma dupla de detetives do FBI que pede ajuda a John Clancy (Anthony Hopkins), um recluso médico aposentado. Dotado de poderes premonitórios, ele é chamado para ajudar na resolução de uma série de crimes bizarros. A construção de cada cena é tão estranha e artificial quanto a ação do bandido, no caso, um Colin Farrell em desempenho mecânico.
Por mais talentoso que Anthony Hopkins seja, há nele um ar de insatisfação que se sobrepõe ao personagem. A atriz Abbie Cornish (Sem limites, 2011) é muito dura como Katherine Cowles, a policial que abre mão da vida pessoal em favor da carreira. Jeffrey Dean Morgan (P.S Eu te amo, 2007) como o agente Joe Merriweather, é quem mais bem consegue lidar com as dualidades humanas, mesmo em um cenário adverso.


Por se tratar de um thriller psicológico, Presságios de um crime é cercado por uma aura fantástica que joga mais contra do que a favor do suspense. Como diretor, Poyart escolhe apostar em planos fechados e muitas cenas em câmera lenta. Ele justifica essa linguagem pelo fato de o longa lidar com premonições do futuro.


Quando altera o tempo da imagem, é como se quisesse também modificar a relação dos espectadores com aquele tempo/espaço. Não funciona. O certo exagero que há no uso desse recurso distancia o espectador, em vez de aproximá-lo do clima de mistério, fantasia e medo.

 

Cotação: ruim.

 

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