Cineasta Cacá Diegues desfila pela Marquês de Sapucaí vestido de "Oscar"

Usando terno dourado, diretor foi homenageado pela escola Unidos de Belfort Roxo, que busca uma vaga no grupo especial do Rio de Janeiro

por Helvécio Carlos 08/02/2016 11:39
Helvécio Carlos/EM/D.A Press
Cacá Diegues descansa em cadeira de praia após o desfile da Unidos de Belfort Roxo (foto: Helvécio Carlos/EM/D.A Press)
Só quem encara o Sambódromo sabe: ao final do desfile, ninguém será o mesmo. O cansaço físico é inevitável, mas a emoção que se sente ali anestesia o pé dolorido e revigora o corpo em frangalhos. Ninguém, nem mesmo quem está acostumado a emocionar o público com obras que transitam pelo universo do carnaval brasileiro, escapa das alegrias e belezas da Marquês de Sapucaí. Que o diga o cineasta Cacá Diegues. %u201CFoi um sonho. Por mim, não acabaria nunca%u201D, revelou ele, emocionado, assim que acabou o desfile da escola de samba Inocentes de Belford Roxo, no início da madrugada de domingo (7/2). A agremiação da Baixada Fluminense, que homenageou o cineasta com o enredo Cacá Diegues - Retratos de um Brasil em cena, está na briga por uma desejada vaga no Grupo Especial. Aos 75 anos, o diretor de "Orfeu do carnaval", "Xica da Silva" e "Bye bye Brasil" conta que se sentiu muito lisonjeado com o convite. %u201CNão tinha contato com a comunidade de Belford Roxo, que prestou essa homenagem de forma espontânea e muito carinhosa%u201D, afirmou. Stepan Nercessian, um dos atores mais presentes na obra do diretor - ele interpretou José no filme "Xica da Silva"-, fez questão de desfilar. %u201CCacá ultrapassa o cinema. Ele une a expressão cultural do morro e da periferia com a expressão cultural da elite, da intelectualidade. Cacá faz essa ponte%u201D, elogiou. %u201CTenho paixão por Cacá Diegues%u201D, derreteu-se.
Vanessa Carvalho/Photo Press/AE
Carro alegórico da Unidos de Belfort Roxo que teve o cineasta Cacá Diegues como tema de seu enredo (foto: Vanessa Carvalho/Photo Press/AE)
Sempre que pôde, cineasta visitou o barracão da escola. Porém, como está finalizando seu próximo longa, O grande circo místico, não teve tempo de se preparar fisicamente para o Sambódromo. Nem precisou. Com desenvoltura, fez bonito ao lado da mulher, Renata Almeida Magalhães, no alto do carro alegórico "O Oscar do samba". Cacá e Renata contaram com o apoio do Carvalhão, "guindaste-personagem" do carnaval carioca. O casal foi levado até a plataforma, a cinco metros do chão, dentro de uma cesta. %u201CIsso não foi problema. Meu coração vibrou logo na curva da concentração para a Sapucaí. Quase enlouqueci. Ouvir o som do público, ver as pessoas acenando é muito emocionante. Uma afluência de emoções%u201D, disse ele. Quando tudo acabou, lá estava Cacá Diegues sentado no meio fio de uma das avenidas laterais do Sambódromo, esperando a van que o levaria para casa. Bem-humorado, só fez uma queixa: %u201CNa minha idade, sentar no chão e levantar é duro%u201D. Mas nada foi problema. Sentadinho ali, atendeu os integrantes da Inocentes de Belford Roxo que passavam por ele. Todos queriam fotos com o "enredo".
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O cineasta homenageado ao lado dos netos, que participaram do desfile (foto: Helvécio Carlos/EM/D.A Press)
Lá pelas tantas, um grupo de moças acenou para Cacá e, feliz da vida, de braços dados, seguiu cantarolando um trecho do samba-enredo: %u201CValeu, Cacá/ Por vir ao mundo/ E alegrar tanta gente%u201D. Parecia coisa de cinema. Alvinegro de coração, Cacá Diegues avisou: %u201CAssim como o Botafogo, vamos trazer a Belford Roxo para a Primeira Divisão%u201D. Os amigos, que estavam reunidos no Jardim Pernambuco, no Leblon, curtiram a ideia. Antes de seguir em três vans para o Sambódromo, Cacá fez um pedido à turma: %u201CPor favor, não usem celular. Isso tira ponto da escola. Melhor nem levar. Se levar, não use na avenida%u201D. E brincou: %u201CVou ali me vestir de Oscar e volto%u201D. Depois, surgiu com terno e sapatos dourados. "Levanta o pescoço. Postura e alegria!%u201D, recomendou a produtora Renata Almeida Magalhães, mulher do cineasta. Foi a senha para a turma seguir para a van. Cacá, Renata e o ator Stepan Nercessian foram no mesmo grupo. No caminho, cantaram o samba-enredo. %u201CAgora, vamos dar uma relaxada como se faz na véspera de prova%u201D, brincou Renata, escondendo um pouco a ansiedade. O clima na van de "seu" Cacá ficou mais animado quando alguém teve a ideia de pôr para tocar a canção "A luz de Tieta", de Caetano Veloso, tema do filme homônimo de Diegues. O setentão mostrou fôlego de rapaz. Como o acesso às ruas próximas à concentração estava fechado, o comboio do cineasta parou em frente à estação do metrô Cidade Nova. Dali para o outro lado, os bons minutos de caminhada não tiraram o humor de Cacá Diegues. Munidos de celulares, fãs queriam fotos, fotos e mais fotos. A cada clique, uma frase amistosa. %u201CO refrão é emocionante%u201D, disse um dos foliões, citando os versos "Meu coração é pura emoção/ O cinema hoje invade a passarela/ Canta a cidade do amor/ Bate forte no peito/ Inocentes chegou". Cacá ficou mais alegre ainda ao encontrar os netos Monah, de 11 anos, e Mateo, de 10. As crianças não desgrudaram do vovô coruja. Quando o "enredo" chegou à concentração, alguém ofereceu uma cadeira portátil, dessas de praia. Sentadinho, ele continuou tirando fotos com os fãs. Pouco depois das 23h, Cacá Diegues e Renata, içados pelo Carvalhão, ocuparam os lugares no carro alegórico. Daí em diante, foi só alegria.

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