Incêndio na Cinemateca Brasileira queima mil rolos de filmes nacionais

Equipe de especialistas busca as causas do acidente registrado na madrugada desta quarta (03/02). Cinemateca faz o levantamento dos títulos atingidos

Carolina Braga 03/02/2016 16:46
Tulio Fernandes
O galpão atingido pelo incêndio fica afastado da sede da Cinemateca por recomendação técnica. (foto: Tulio Fernandes)
Um incêndio atingiu um galpão da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, na madrugada desta quarta (03/02). Localizado na Vila Clementino, na Zona Sul da capital paulista, o espaço era usado como depósito de material autoinflamável. Conforme orientações técnicas, ele foi construído em local afastado da sede, porém no mesmo terreno. O fogo começou por volta das 5h30 e foi controlado em meia hora. Não houve vítimas.

De acordo com uma fonte da Sociedade dos Amigos da Cinemateca, que preferiu não se identificar, o estrago não foi grande. Em nota, a Cinemateca Brasileira informou que destruiu pouco menos de 0,4% do total do acervo. “Cerca de mil rolos de filmes foram queimados. Deste total, a grande maioria está conservado em outras mídias/suportes. Os filmes destruídos estavam todos em domínio público e o levantamento da pequena parte afetada, sem duplicação, será informado pela Cinemateca nos próximos dias”, afirma a instituição em nota.  As causas do acidente serão apuradas por equipes especializadas e pelo Corpo de Bombeiros.

Responsável pela preservação da produção audiovisual do país, a Cinemateca Brasileira é vinculada à Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. De acordo com a secretaria, o fogo atingiu a câmara 3 do depósito de nitrato, utilizado na produção de películas brasileiras até a década de 1950. Até o fechamento desta edição, não se sabia que obras foram danificadas. O fogo atingiu um quarto de uma área de 80 metros quadrados. A primeira medida foi a retirada de todos os filmes do galpão para a posterior identificação dos filmes danificados.

No local estão armazenadas matrizes (originais) de produções audiovisuais. Segundo a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, há cópias das obras guardadas na área atingida. Não foram danificados outros setores da Cinemateca. O secretário do Audiovisual, Pola Ribeiro, foi a São Paulo acompanhar a avaliação técnica dos prejuízos.
Além de desenvolver atividades de difusão e restauração de filmes, a Cinemateca Brasileira guarda um dos maiores acervos da América Latina, com cerca de 200 rolos de longas e curtas-metragens, além de cinejornais e material documental como livros, revistas, roteiros originais, fotografias e cartazes.

“Pegou fogo no galpão mais isolado, mas muitas matrizes foram destruídas. Ao que parece, todas já haviam sido duplicadas, garantindo que o conteúdo não se perca”, afirmou João Brant, secretário-executivo do Ministério da Cultura, em sua página no Facebook.

Brant lembrou que a Cinemateca Brasileira passava por reestruturação. “Ontem mesmo (terça-feira), assinamos dois contratos que materializam essa retomada, e agora vem essa tragédia”, lamentou.

A Cinemateca Brasileira foi inaugurada em 1946, quando foi montado o Segundo Clube de Cinema de São Paulo. Criado em 1941, o primeiro clube foi fechado pela ditadura Getúlio Vargas. Na década de 1960, a Cinemateca Brasileira se tornou fundação, o que possibilitou a realização de convênios. O centro de operações foi inaugurado em 1979, possibilitando a organização mais efetiva de projetos de documentação e pesquisa.

MUSEU DA LÍNGUA Este é o quarto incêndio na Cinemateca Brasileira. Os outros ocorreram em 1957, 1969 e 1982. O incidente se deu 43 dias depois de o fogo atingir o Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, prédio histórico da capital paulista. O bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz morreu ao tentar apagar as chamas.

De acordo com a direção da instituição, o acervo é virtual e poderá ser resgatado por meio de backups e arquivos, mas a reabertura do prédio – muito danificado – deve ocorrer em 2018. (Com agências)

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