Mostra de Cinema de Tiradentes encerra edição que foi ameaçada por falta de verba

A realização do evento chegou a ser comprometida, segundo afirma sua coordenadora, Raquel Hallak

por Walter Sebastião 30/01/2016 08:00
LEO FONTES/UNIVERSO PRODUÇÃO
(foto: LEO FONTES/UNIVERSO PRODUÇÃO)
Tiradentes – Às vésperas de completar 20 anos de existência, a Mostra de Cinema de Tiradentes esteve ameaçada, segundo sua coordenadora, Raquel Hallak. Até dezembro de 2015, quase um terço do orçamento necessário para a realização do evento estava incerto, diz ela, devido à suspensão da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. A situação foi contornada porque uma empresa concordou em patrocinar a mostra sem o uso do mecanismo.

“A crise chegou. Sentimos o impacto dela, mas conseguimos reverter a situação”, diz. O impacto impôs cortes, cobrou criatividade, simplificação nas atividades e trouxe o risco da diminuição do evento. “Por isso encerramos a 19ª edição com o sentimento de missão cumprida. Avançamos, continuamos surpreendendo as pessoas, dando acesso e pensando a produção nas diferentes regiões do Brasil”, afirma Raquel, citando que foram exibidos filmes de 13 estados na 19ª edição, que termina hoje.

A coordenadora da Mostra de Tiradentes pontua que “realizar um festival de cinema no interior é muito distinto de fazê-lo em capital que já tem infraestrutura montada. Implica montar estrutura completa, inclusive transporte dos participantes”. O pano de fundo desse contexto é o fato de que, entre os 853 municípios mineiros, pouco mais de 60 têm salas de cinema.

“Tela grande, no interior do Brasil, é novidade. O grande show musical chega às cidades, de alguma forma os livros estão nas bibliotecas, existem alguns museus. E o cinema, onde fica nesse contexto? Temos um mundo enorme a trabalhar em Minas e, se pensarmos no Brasil, maior ainda”, argumenta. Ela não defende criação de mais festivais (“Hoje o desejo de todas as prefeituras”), mas sim mostras itinerantes.

Para Raquel, a Mostra de Tiradentes conseguiu se firmar no calendário nacional de festivais porque “a cada edição renova o diálogo com as forças constitutivas”. “Somos um dos poucos festivais que discutem a estética”, observa.

Sem especificar os planos para a edição comemorativa dos 20 anos do festival, em 2017, a coordenadora diz apenas que está sendo discutida uma nova mostra que trabalha, transversalmente, os temas presentes nos eventos abrigados no projeto Cinema sem Fronteiras: a Mostra de Tiradentes, em janeiro, dedicada à produção contemporânea; a de Ouro Preto, em junho, sobre cinema e patrimônio; e a de Belo Horizonte, em outubro, debatendo o mercado.

. O repórter viajou a convite da 19ª Mostra de Tiradentes

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