Filme argentino traz história real de família de sequestradores

Oitavo longa de Pablo Trapero, 'O clã' apresenta uma trama forte baseada em crime que mexeu com a opinião pública daquele país

por Correio Braziliense 14/12/2015 10:43

Fox Filmes/Divulgação
Família que ficou conhecida na década de 1980 por sequestrar e matar várias pessoas. (foto: Fox Filmes/Divulgação)
Filmes de arte, quando despontam nas salas de cinema, esbarram fatalmente na concorrência muitas vezes predatórias. Disputar com Star wars, prestes a estrear, não será tarefa fácil para O clã, longa argentino de imenso apelo de público entre os hermanos. O diretor de O clã, Pablo Trapero, conta que experimenta momento único, de máxima popularidade. O susto vem da espantosa bilheteria dos compatriotas, impactados pela representação, em cinema, de caso real de uma família, aparentemente normal, de assassinos.


“De um modo louco, as pessoas chegavam a fazer selfies(!), em frente à casa dos Puccios (os criminosos). Esbarrar com isso suplanta a vida cotidiana. Teve gente relatando que assistiu ao filme quatro vezes, a fim de decifrar algo dos atos de loucura”, conta Trapero ao Correio. Pela fita, o diretor — pré-candidato à vaga no Oscar — levou o Leão de Prata no Festival de Veneza e menção honrosa no último Festival de Toronto. No terreno das comparações, ser visto como uma espécie de Martin Scorsese não o deixou nada triste. “Ele sempre foi uma pessoa que admirei”. Com o filme, foi até convidado para homenagear Martin Scorsese, na ocasião do prêmio Lumière, entregue em Lyon (França) há 45 dias.

 

Dono da maior abertura na história do cinema argentino, em termos de público, Trapero ostenta, com O clã, a posição de segundo filme mais visto, superando até sucessos como Nazareno Cruz e o lobo (1975) e Relatos selvagens (2014). O assunto pode ser sério, mas o diretor argentino recorre à gargalhada quando visualiza duelo entre o sangue frio de seus personagens e os transtornados tipos de Relatos selvagens. “Em silêncio, prestei uma homenagem aos filmes de Buñuel, numa situação surrealista. Arquimedes Puccio (o protagonista) é um personagem, a princípio, odiado pelos espectadores que quase não podem acreditar no que veem, ficando entregues ao medo e à fascinação”, observa.

 

Trapero assegura a validade do que se vê na tela, no retrato da violenta família, que andava solta e incógnita, com bom trânsito na sociedade portenha. “Eles brindavam datas de família, enquanto mantinham, em casa, pessoas em cativeiro. O contraste entre o que seja público ou privado é uma das propostas de O clã. Nisso residem as alegrias e as angústias dos personagens”, explica o cineasta.

 

Tiros na cabeça de vítimas, negociações de resgates na ordem de US$ 500 mil e convívio cínico entre familiares nutrem O clã. Peter Lanzani, que interpreta Alejandro, o filho do protagonista, é estreante em cinema, mas traz boa experiência em tevê, em produções como A dona (atualmente exibida no SBT). Na continuidade da cinematografia de Trapero, que inclui El Bonaerense (2002) e Nascido e criado (2006), O clã aposta em intensidade. Jogador de rugby, na trama, Lanzani vê a violência em campo como café pequeno, frente ao esdrúxulo comportamento do pai.

 

Confira o trailer:

 

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