'À beira-mar' é tão entediante quanto a relação do casal protagonista

Angelina Jolie Pitt assina roteiro e direção do longa, em que vive uma mulher depressiva presa a um casamento sem sal (com Brad Pitt)

por Carolina Braga 03/12/2015 08:00
Universal Pictures/Divulgação
Casal na vida real e no filme, Angeline Jollie e Brad Pitt vivem um romance em crise (foto: Universal Pictures/Divulgação)
À beira-mar é a prova concreta da vaidade de Angelina Jolie Pitt. O longa foi escrito, dirigido e é protagonizado por ela. O marido, Brad Pitt, também está em destaque no elenco. Vale lembrar que não se trata de trabalho de iniciante: já é o terceiro longa dirigido pela artista. Por isso surpreende tanto sua falta de ritmo e principalmente de graça na forma escolhida para contar essa história. Ambos estão corretos naquilo que mais sabem fazer, atuar.


Crise no casamento é o principal mote do roteiro. Ronald (Brad Pitt) e Vanessa (Angelina) enfrentam um matrimônio sem sal há 14 anos. Ele, escritor, vai buscar inspiração perdida no interior da França. A mulher – visivelmente em depressão profunda – mostra-se apática, no fundo do poço. Enquanto ela passa os dias trancada em um quarto de hotel, ele faz um bar de “escritório”.

O primeiro quarto do filme leva o espectador a experimentar o tédio completo daquela relação. Tudo é lento e nada acontece até que Vanessa descobre um buraco na parede do aposento. O furo com cerca de dois centímetros de diâmetro se mostra perfeito para bisbilhotar o quarto do casal vizinho. Desse ponto em diante, À beira-mar ensaia caminhar para um voyeurismo erótico, mas a proposta morre na praia.

A relação ativa dos recém-casados Lea (Mélanie Laurent) e François (Melvil Poupaud) tem tudo para incrementar o roteiro e até fazer surgir um certo clímax. Mas não. Só contribui para deixar claro que há entre o casal protagonista alguma questão mais íntima. Porém, fica restrita a eles. Vanessa continua deprimida, e Ronald em busca de sua atenção.

MELANCOLIA

 

Na caracterização de Vanessa, a magreza e a melancolia de Angelina Jolie Pitt chamam a atenção. Brad Pitt não oferece nada de mais na pele do homem cansado de lidar com a depressão da mulher. Estão melhores os coadjuvantes, principalmente, o francês Niels Arestrup como o dono do restaurante, Michel.

À beira-mar
é bem mais interessante em quesitos técnicos, como fotografia, direção de arte e figurino. Embora a trama se passe no litoral francês, as cenas são construídas em tons pastéis, bastante em sintonia com o clima interior da protagonista. Tem sol, tem mar, mas, curiosamente, parece deserto. A trilha sonora também reforça o contraste entre as realidades interna e externa dos protagonistas.

O figurino – principalmente de Vanessa e Ronald – corrobora essa proposta. Enquanto todos os outros personagens usam roupas que sinalizam a presença do verão, o casal está sempre em trajes outonais. Ele, habitualmente de calça e manga compridas, e ela, em vestidos de manga longa e chapéus mais sombrios do que propriamente solares.

Há muito escondido no jogo entre os dois. A direção de Angelina aposta em sutilezas para revelar esse quadro. Mas a opção por não compartilhar mais claramente com o público qual é a grande questão deles faz de À beira-mar um longa tão entediante quanto o relacionamento amoroso de Ronald e Vanessa. Ah, e para os interessados, é o primeiro filme em que ela mostra os belos peitos depois da mastectomia.

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