Matraga domestica Guimarães

por 26/09/2015 17:03

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Paula Huven/Divulgação
Paula Huven/Divulgação (foto: Paula Huven/Divulgação)
Inácio Araújo



Se a ousadia é uma virtude, o primeiro ponto é a favor de Vinicius Coimbra: ela não falta a um estreante que, tendo por lastro seu trabalho em TV, atreve-se a adaptar um monumento literário como A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, e, mais ainda, propor o remake de um clássico – o filme de Roberto Santos (1965). Mas tamanho desafio coloca o autor em situação delicada. Logo de cara, topamos com um plano aéreo, desses que sobrevoam suavemente as serras. Pouco depois, encontramos Augusto num tiroteio, tão picotado quanto convencional (ah, podia ter se inspirado nos de Glauber).

Os problemas não param por aí. Ora vamos à câmera lenta, ora a evocações de Deus que não se assemelham à religião tal como nos parece comunicar Rosa. Cada plano parece nos afastar de Rosa e nos projetar numa novela de TV. Talvez seja exagero usar a palavra vulgaridade. Mais próximo do que acontece seria notar que o novo Matraga nos entrega uma espécie de Rosa atapetado, domesticado, destituído da aridez sertaneja de seu texto. Parte vem do elenco: uma Diadóra muito urbana, um Joãozinho Bem-Bem que parece chegado de Ipanema...

Assim também o falar, pitoresco, não arrasta consigo nenhum significado, nada disso que faz dos contos de Rosa uma parábola, algo que transcende o acontecimento. Se essas e outras afastam o filme de Guimarães Rosa, em troca lhe conferem uma qualidade comunicativa evidente. Além do conforto da formulação, da maneira como se faz imediatamente familiar ao espectador, um elenco com Irandhir Santos, José Wilker, Chico Anysio e alguns outros rostos conhecidos reforça essa virtude. Por fim, João Miguel é uma bela escolha para Matraga.

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