Cinema mantém vivo o encanto de Helena Jobim

Morta no domingo aos 84 anos, vítima de complicações renais, irmã mais velha de Tom Jobim deixa vasta obra literária e lembranças de sua simpatia inteligente e generosa

por Ailton Magioli 15/09/2015 08:20

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Ernane Alves/Acervo
(foto: Ernane Alves/Acervo)
Única irmã de Tom Jobim (1927-1994), que dizia ser ela a verdadeira “garota de Ipanema”, Helena Jobim (1931-2015), cujo corpo foi enterrado no final da tarde dessa segunda-feira, no Cemitério da Paz, em Belo Horizonte, terá o doc-ficção 'Helena' lançado, impreterivelmente, no ano que vem. A informação é do ator-cineasta mineiro Ernane Alves, que, depois de concluir a parte documental do filme com a escritora – foram mais de 40 horas de entrevistas e viagens com ela –, prepara a ficcional que terá cenas inspiradas em personagens da autora carioca, interpretados por Bruno Gagliasso, Deborah Secco e Sandy, além do próprio ator-diretor.

Ainda sem condições de postar algo sobre Helena nas redes sociais, Ernane diz que a irmã de Tom Jobim era o equilíbrio inteligente entre sofisticação e simplicidade. “Ela conseguia ser tão fina e ao mesmo tempo tão humana, próxima das pessoas”, justifica o diretor do doc-ficção, que está sendo preparado desde 2011, com recursos (R$ 2 milhões, com parte ainda a ser captada) viabilizados pelas leis estadual (MG) e federal de incentivo à cultura. Residente em Belo Horizonte desde o início dos anos 2000, Helena Jobim estava internada desde a semana passada com problemas renais surgidos quando  passou a recusar alimentação. A escritora sofria também de Alzheimer.

ALEGRIA Viúva do aposentado Manoel Malaguti, Helena deixa a filha única Sonia Jobim Feitosa, de 67 anos, os netos Marco, de 45 anos, Marcela, de 43, a bisneta Maria Eduarda e muitos amigos. “Era muito alegre, emotiva e extremamente inteligente. Uma grande escritora”, afirma o jornalista-escritor Jorge Fernando dos Santos, frequentador assíduo da casa de Helena e Manoel. Antes de ser internada no Núcleo de Apoio à Maturidade (NAM), onde esteve nos últimos três anos, entre as unidades dos bairros São Bento e Cidade Jardim, Helena Jobim morou em uma ampla casa do Estoril, onde recebia amigos músicos e escritores para os famosos saraus.

“A casa era tão ampla, com uma visão de 180 graus da cidade, que o Manoel costumava dizer que havia comprado um belo horizonte”, recorda Jorge Fernando dos Santos, salientando que, além da biografia do irmão, Antonio Carlos Jobim - Um homem iluminado, Helena escreveu livros de ficção e de poesia e gravou o CD Areia do tempo, de 2006, no qual interpretava poesias de sua autoria ao som da consagrada música do irmão. Agora de volta ao cargo de secretário de estado da Cultura, Angelo Oswaldo lembra que, quando a irmã de Tom veio morar na capital mineira, a cidade a cercou de muito carinho desde sua chegada.

Entre os livros da escritora se destaca a Trilogia do assombro, detentor do Prêmio José Lins do Rego, que inspirou o filme Fonte da saudade, de Marco Altberg. Helena Jobim ainda teve poemas de sua autoria musicados pelo sobrinho Paulo Jobim e Paulo Malaguti, Danilo Caymmi, Dado Prates e Tabajara Belo. A mais conhecida, no entanto, é Não devo sonhar, com melodia do irmão Tom e gravada por Ângela Maria. “Ir à casa de Helena era um prazer muito grande, por se tratar de pessoa sensível e inteligente”, diz o violonista Rogério Leonel, que, em companhia da mulher, a cantora Lígia Jacques, frequentava os famosos saraus na residência da escritora.

NO ESCURO O escritor português Cunha de Leiradella, que morava em Belo Horizonte, foi responsável por apresentar Helena Jobim a outros autores. Entre os quais, Jorge Fernando dos Santos. Já Branca Maria de Paula, surpreendida na manhã de ontem com a notícia da morte, conheceu Helena quando ela ainda morava na famosa casa da Rua Nascimento, 107, em Ipanema, também por meio de Leiradella. “Sempre tive muito carinho e admiração pela obra dela”, recorda Branca, salientando o aspecto lírico e poético dos textos de Helena. “Lembro do dia em que ela me contou do prazer do escuro para escrever”, revela Branca Maria de Paula, ao contar que Helena Jobim fechava as janelas do quarto e acendia as luzes para se dedicar ao prazer da literatura.

Filha de Dora e Jorge de Oliveira Jobim, Helena Isaura Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1931. Estudou criatividade literária e literatura brasileira e portuguesa na PUC RJ. A estreia da autora na literatura ocorreu em 1968, com o romance 'A chave do poço do abismo', escrito a quadro mãos ao lado de Vânia Reis e Silva. Entre outros destaques de sua obra, estão 'Clareza 5' (1974), 'Trilogia do assombro' (1981), 'Verão de tigres' (1990), 'Pressinto os anjos que me perseguem' (2000) e 'Recados da lua' (2001).

MAIS SOBRE CINEMA