Em festival, filme alemão mostra a realidade opressora das mulheres no Irã

Realizador iraniano Sina Ataeian Dena, no encontro com a crítica, descreveu seu filme com o primeiro de uma trilogia sobre a violência

por Rui Martins 11/08/2015 09:36

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(foto: Reprodução)
Locarno (Suíça) - O filme 'Paraíso', na competição internacional do Festival de Locarno, é duro, pesado, escuro, mas tem uma importante qualidade: revela o dia a dia e o longo trajeto de uma professora de uma escola feminina (não há classe mistas) na periferia de Teerã e as cenas de doutrinamento das meninas alinhadas no pátio da escola, como numa ordem unida, todas com seu xale ou véu branco (chador), que lembram descrições de Georges Orwell no seu antológico livro 1984.

O filme opressa os espectadores, porque detalha uma situação real negativa para as mulheres, obrigadas a se esconderem sob o véu sobre os cabelos e dentro de seus vestidos longos e de preferência escuros, induzidas a não ficarem solteiras. Sem se omitir a lentidão da burocracia e dos burocratas, as cenas de pobreza e a miséria nas ruas.

O realizador iraniano Sina Ataeian Dena, no encontro com a crítica, descreveu seu filme com o primeiro de uma trilogia sobre a violência, mas afirmou não ter sido seu objetivo mostrar as mulheres como vítimas, e sim como seres humanos. Para ele, o papel e a situação da mulher iraniana estão mudando nestes último anos.

Uma cena quase final, é por ele citada como demonstrativa dessa evolução, quando as meninas no fundo do ônibus escolar com seu Iphone escutam e acompanham com gestos livres as músicas tecnos atuais. “Houve pessoas que choraram ao ver essa cena” contou ele, sobrestimando a extravasão espontânea de crianças e adolescentes no recinto do ônibus, quando na verdade são enquadradas na escola, para viverem dentro de uma rígida sociedade, e estimuladas coletivamente para isso com repetições doutrinárias de frases-chavões religiosas, pronunciadas pela diretora.

 

 

 

“Conheço a sociedade em que vivo, diz o realizador Sina, vivo e amo esse meio e sou sensível quando as pessoas não são gentis umas com as outras. Sou marcado por conhecer alguém que teve uma infância bem difícil”.

A repetição dos costumes e da estrutura social é assegurada, na formação escolar, pois a professora Hanieh repete na classe o mesmo ensino autoritário, numa espécie de oprimida-opressora. Um filme bem diferente dos de Abbas Kiarostami e Jafar Panahi, mas que serve ao mesmo tempo como elemento documentário da atual estrutura social iraniana.

O jornalista viajou a convite do Festival Internacional de Cinema

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