Filme trash estrelado por vendedor de picolés bomba em Guarapari

A produção 'Linguinha, The killer' foi dirigida por Maurício Ribeiro Júnior, e teve orçamento de apenas R$ 2 mil

por Ângela Faria 17/05/2015 14:50

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Maurício Ribeiro Júnior/ Divulgação
Cartaz do filme de terror 'Linguinha, the killer %u2013 O soco da morte' (foto: Maurício Ribeiro Júnior/ Divulgação)
Guarapari – Volta e meia, o cineasta capixaba Rodrigo Aragão tem que explicar: não foi ele quem dirigiu 'Linguinha, The killer', o 'blockbuster' de Guarapari. O autor da proeza é seu amigo Maurício Ribeiro Júnior, editor de TV e também morador de Perocão. A obra honra a tradição do filme trash: divertidamente tosca, é independente e teve baixíssimo orçamento.

O herói é interpretado por um vendedor de picolés, chamado Linguinha, queridíssimo na cidade. Encarando grandalhões de maus bofes, o magrelo e sua espada ninja fazem proezas. Ele contracena até com Jean-Claude Van Damme, graças a um vídeo que o astro belga disponibilizou para os fãs na internet. Hilariante é pouco para definir o encontro.

O primeiro filme, que custou R$ 2 mil, bombou. Instalado num shopping center, o Cine Ritz teve filas de interessados em conferir as aventuras de Linguinha. Ficou em cartaz apenas um fim de semana, mas o DVD atraiu muita gente às videolocadoras de Guarapari. No início deste mês, estreou o segundo episódio: 'Linguinha, the killer – O soco da morte', produzido com R$ 5 mil. Só deu para pagar cachê ao protagonista. Empresas locais ajudaram Maurício Jr. a viabilizar o trabalho. Agora, a temporada no Ritz será maior.

 

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A sessão de estreia de 'Linguinha 2' ocorreu durante a mostra Cineterror na praia, realizada em Santa Mônica, pertinho de Perocão, no início do mês. Em dois dias, o evento promovido pela produtora comandada por Rodrigo Aragão e Mayra Alarcón exibiu gratuitamente 14 filmes (a maioria curtas-metragens) de autores do Espírito Santo, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Cerca de 400 pessoas compareceram ao Barari, antigo point de veranistas mineiros. Jornalistas, cineastas, professores, pescadores e moradores de Guarapari e Perocão formavam a plateia. O evento recebeu a estreia de 'As fábulas negras', filme rodado no Perocão, que tem episódios dirigidos por Aragão, Joel Caetano, José Mojica Marins, o Zé do Caixão, e Petter Baiestorf.

Facebook/Reprodução
Rodrigo Aragão e a equipe do filme 'As fabulas negras' durante o lançamento do longa na Mostra Cineterror (foto: Facebook/Reprodução)
O Cineterror é a prova de que a cena cultural de Guarapari insiste em sobreviver, apesar do pouco caso das autoridades locais. Mayra vendeu cerveja, refrigerante e tira-gostos para ajudar nas despesas. A volta de Linguinha foi ovacionada, assim como o astro vendedor de picolés. Sentado em frente ao telão, ele não se intimidou em levantar da cadeira para contracenar consigo próprio. É um sujeito simples, sonhador, que lembra um pouco o doce Geraldo Viramundo, personagem do livro 'O grande mentecapto', de Fernando Sabino.

Na ocasião, produções dos capixabas Alexander Buck, Leandro Sherman, Tiago Ferri e Thiago Amaral também puderam ser conferidas pelo público. Buck mostrou parte do documentário que está rodando sobre Rodrigo Aragão.

Zumbi nos filmes de terror de Rodrigo, o professor de geografia Ivan Castilho, de 55 anos, é outro agitador cultural do balneário capixaba. Há oito anos, o Instituto Educacional Jesus Menino, onde ele dá aulas, promove um festival de cinema. Alunos de 11 a 15 anos criam filmes com o tema 'O homem no espaço geográfico': a atividade interdisciplinar envolve elaboração de roteiros, filmagem, produção e criação de material de divulgação. Daqueles celulares, câmeras amadoras e até equipamentos profissionais já saíram cerca de 50 curtas, entre trash movies, fitas de terror, dramas e comédias. Ivan considera o evento estudantil um importante passo para formar público para o cinema. Vários de seus ex-alunos bateram ponto no Barari.

Rafael Araújo, pescador e confeiteiro de supermercado, foi conferir o Cineterror com a mulher e os filhos Artur, de 7 anos, e Ana Clara, de 5. Para ele, os longas 'Mangue negro' e 'Mar negro', de Rodrigo Aragão, não são apenas diversão e susto, mas denunciam a destruição dos manguezais e a poluição da baía de Santa Mônica. 'É a nossa história, estão estragando o Perocão', observou, enquanto suas crianças acompanhavam as aventuras de Linguinha.

Artur, que se diz fã do chupacabras, jura não ter medo de monstro. Mas quando o boneco da malhação de judas ganhou vida no curta de Joel Caetano, o valentão correu para o colo da mãe. Logo depois, chegou a caçula. José Mojica não pôde voltar ao Espírito Santo para receber pessoalmente a homenagem que o Cineterror lhe fez. Pena. O mestre adoraria conhecer a cinéfila magrinha e delicada, fã da 'Galinha Pintadinha'. Ao ouvir a pergunta sobre sua cena preferida em 'O soco da morte', Ana nem titubeou: 'É quando o Linguinha arranca o coração de dentro do peito do bandido e mostra pra gente'.

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