'7 de outubro' e 'Últimas conversas' desvendam o cineasta Eduardo Coutinho

Nos novos longas, o diretor mostra a intimidade doméstica e os problemas mentais do filho

por Ricardo Daehn 12/05/2015 08:49

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Divulgação
"São relações eróticas, no sentido amplo da palavra. São relações de corpo", Eduardo Coutinho, ao teorizar a intimidade alcançada junto a seus entrevistados (foto: Divulgação)
Existe um mantra doloroso no último filme de Eduardo Coutinho, repetido à exaustão pelo cineasta: “Homem que morreu, a gente chama de Deus”. Simples, Coutinho sempre quis ser o avesso do homem adulado e profissional celebrado. No filme 'Últimas conversas', finalizado pelo amigo João Moreira Salles, o diretor, morto no ano passado, está em condição incomum: se revela bastante. Zela, contudo, pela intimidade doméstica e pelos problemas mentais do filho.

Conhecedor profundo do ofício de diretor, já no longa sobre ele, 'Eduardo Coutinho, 7 de outubro', ele não oferece resistência ao colega Carlos Nader, à frente do filme recentemente lançado em DVD. Octogenário, o documentarista entrega dores e alegrias de quilate similar aos que sempre extraiu de desconhecidos. “Eu (entrevistador) tenho que estar vazio para que ele (o entrevistado) possa me contar”, revela, em cena, entre outras técnicas. O interesse pelo outro sempre foi a base de seu trabalho.

Não deixa de ser um testemunho valioso e definitivo, por mais que Coutinho relutasse, alegando até ódio direcionado à palavra “profundo”, em temas que lhe digam respeito direto. “Espero que as coisas ditas sejam bem superficiais. Eu gosto do lixo”, chega a provocar, em '7 de outubro'. Curiosamente, no derradeiro longa que dirigiu (Últimas conversas), o mestre desautoriza os jovens que entrevista, contaminados pelo cinismo e por dose de agressividade. Nisso, fica mais do que divertido contrapor reações do desbocado Coutinho de '7 de outubro' que esbraveja: “Que se f... o mundo, porra!”

Simpático e engraçado, o cineasta, morto em condições trágicas, desafia o endeusamento e as circunstâncias pudicas, em '7 de outubro'. É na oralidade e no que seja informal que pesa “a verdade das filmagens”, desde sempre reclamada por Coutinho. No documentário de Carlos Nader, Coutinho enaltece o fator extraordinário da fala humana e, mais ainda, professa deslumbre “pelo corpo que fala”. Agitado, com falta de foco e profusão de contrariedades, nas primeiras imagens de 'Últimas conversas', o diretor salta na tela encadeando um discurso no qual declara a perda da alegria. “É o fim”, diz o emblemático diretor. Distanciado de artifícios dramáticos, em '7 de outubro' (feito ainda em 2013), Coutinho coroava a simbiose dele com o cinema como “um meio de estar vivo”.

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