Filme 'Casa grande' flagra rotina de família de classe alta à beira da falência

O premiado longa-metragem estreia nesta quinta-feira em Belo Horizonte, com debate com o diretor Fellipe Gamarano Barbosa

por Carolina Braga 16/04/2015 08:00

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FESTIVAL DE PAULÍNIA/DIVULGAÇÃO
Cena do longa-metragem 'Casa grande'. Premiado no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo, filme estreia hoje em Belo Horizonte (foto: FESTIVAL DE PAULÍNIA/DIVULGAÇÃO)
No começo, o diretor Fellipe Gamarano Barbosa achou que havia feito um filme mediano. “Isso porque o Festival de Sundance, meu grande padrinho, não o aceitou”, conta. O tempo passou, e Barbosa foi recebendo convite de um festival aqui, outro acolá. Assim, 'Casa grande' conquistava público e, claro, seu exigente criador. “Amo essa literalidade e simplicidade que o filme tem. Incomoda-me um pouco quando a crítica tenta supraelaborar em cima disso”, diz.

O longa conta a história de uma família à beira da falência que ainda não entendeu as mudanças de comportamento que ameaçam a vida que levavam até então. A casa na qual se passa boa parte da trama é a mesma onde o diretor viveu com a família na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro – é grande de verdade.

O longa não escapa de comparações com o clássico 'Casa-grande & senzala', de Gilberto Freyre. O diretor nega semelhanças ou inspirações, ainda que as diferenças sociais que marcam a sociedade brasileira também estejam na tela. E com relevo. Em 'Casa grande', é o olhar do filho mais velho, Jean (Thales Cavalcanti), que norteia uma narrativa bastante clássica sobre os modos de vida distintos entre ricos e pobres. Adolescente, aluno do tradicional colégio São Bento, Jean começa a se dar conta dos limites do mundinho em que ele e sua família vivem quando o motorista da casa é demitido.

À sua maneira, 'Casa Grande' é um filme de denúncia social, já que convoca à reflexão sobre uma parcela da sociedade nem sempre retratada com distanciamento no cinema contemporâneo brasileiro. O filme trata da burguesia e dispensa um olhar crítico ao estilo de vida dos ricos. São eles que estão em primeiro plano, não os empregados. Um dos méritos do longa é fazer isso sem ser pesado ou pedante.

Barbosa é fã da narrativa clássica e não se envergonha disso. Ele conta uma história com princípio, meio e fim, outra raridade no habitual cenário experimental do cinema nacional. Ainda assim, não deixa de ser provocador. Tem um roteiro redondo, lapidado no laboratório oferecido pelo Festival de Sundance.



PANORAMA


'Casa grande' começa com um plano aberto no qual faz encaixar na tela a mansão da família protagonista. Numa única sequência, com a câmera parada, o patriarca deixa a piscina, entra na residência e passa cômodo por cômodo apagando as luzes. Sem proferir uma palavra, apenas com esse comportamento, Barbosa anuncia a questão central do filme na primeira cena: há uma falência velada.

Vem com ela a crise de valores que o cineasta de 35 anos consegue revelar nos detalhes. É uma crise ética, que aparece na relação entre patrões e empregados, pais e filhos, ricos e pobres. São as sutilezas desses tensionamentos que fazem de 'Casa grande' um filme mais interessante do que inicialmente se anuncia.

Marcello Novaes e Suzana Pires como o casal rico surpreendem. Aparecem em um registro de interpretação diferente do que fizeram até então em seus trabalhos na TV, pelos quais são mais conhecidos, sem deixar de lado a atuação naturalista que a trama pede. Além deles, boa parte do elenco é formada por não atores. Thales Cavalcanti, o Jean, por exemplo, era aluno do colégio São Bento. Foi selecionado porque o diretor fazia questão de trabalhar com adolescentes que, de alguma maneira, fizessem parte da realidade retratada no filme. O garoto responde à altura.

'Casa grande' ganhou o prêmio do júri popular de melhor filme no Festival do Rio 2014, o prêmio da crítica na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o prêmio especial do júri no Festival de Paulínia, além de ter sido selecionado para a mostra oficial em Roterdã, na Holanda, e em San Sebastián, na Espanha.

DEBATE

Fellipe Gamarano Barbosa vai participar de debate com o público de Belo Horizonte depois da sessão de 'Casa grande', nesta quinta-feira, às 21h, no Cine 104 (Praça Ruy Barbosa, 104, Centro, (31) 3222-6457). Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). O estacionamento conveniado, Park Box (Av. Santos Dumont, 218 – Centro) cobra o preço único de R$ 5.

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