Rodrigo Santoro contracena com Will Smith em 'Golpe duplo'

Ator diz que seu personagem, obsessivo com a própria imagem, é reflexo do 'tempo em que a gente vive'

por Ana Clara Brant 12/03/2015 08:30

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O ator brasileiro Rodrigo Santoro em cena de Golpe duplo, em que interpreta um dono de escuderia latino (foto: WARNER/DIVULGAÇÃO)
"Fazer as pessoas confiarem na gente é uma ciência", diz Nicky, personagem de Will Smith em Golpe duplo, de Glenn Ficarra e John Requa, que estreia hoje no Brasil. O papel de Smith é o de um experiente mestre da trapaça que se envolve num romance com a golpista novata Jess, vivida por Margot Robbie (O lobo de Wall Street).


Enquanto ele lhe ensina os truques da profissão, ela se aproxima demais, e ele decide se afastar repentinamente. Três anos depois, a antiga paixão – agora uma talentosa femme fatale – aparece em Buenos Aires, em meio às altas apostas de um circuito de corrida de carros. Ela promove uma reviravolta no mais recente e perigoso esquema de Nicky, desconcentrando o experiente vigarista.

O brasileiro Rodrigo Santoro também está no elenco, como Rafael Garriga, dono de uma escuderia de Fórmula 1. Santoro é só elogios para o parceiro de cena Will Smith, com quem contracenou pela primeira vez. "A experiência de fazer esse filme foi fantástica do começou ao fim e muito por causa do Will. Ele traz uma energia tão positiva para o set! Todos os dias era contagiante. É um artista que eu já curtia há algum tempo. Depois de ter trabalhado com ele, fiquei mais admirado ainda. Ele é extremamente generoso, me ajudou muito em cena. Só tenho os melhores adjetivos para falar do Will."

O astro brasileiro conta que vários foram os motivos que o cativaram a fazer o personagem. Além de Garriga ser uma figura extremamente divertida, Santoro já teve uma ótima experiência com os diretores Glenn Ficarra e John Requa em O golpista do ano. E afirma ter achado o roteiro extremamente inteligente. "Neste longa, a gente fala o tempo todo da manipulação daquilo que você está vendo. Se é verdade ou não. Em inglês, o filme se chama Focus, que é a coisa do ilusionista. O mágico chama sua atenção para a mão dele e, de repente, na outra mão sai um coelho. Então, o tema eu já achei bem interessante. Especificamente o meu personagem é um camarada muito preocupado com a sua imagem, a sua reputação. Acredito que é muito pertinente para o mundo em que a gente vive hoje. Está todo mundo preocupado com isso", opina.

Já que Garriga é um indivíduo inserido no universo do automobilismo, o ator procurou vivenciar mais a fundo o universo da velocidade, que ele conhecia apenas superficialmente.

Com a ajuda de Katiucia Castroneves, irmã e empresária do piloto Hélio Castroneves, Santoro fez uma espécie de "laboratório" para interpretar Garriga. "Conheci os bastidores de uma prova de Fórmula Indy, fiquei nos boxes e fiquei impressionado como esse mundo movimenta milhões de dólares e tanta tecnologia. Tive até a chance de andar num carro de corrida,  daqueles que tem dois lugares. Só de lembrar, meu coração acelera, porque estávamos a 360km/h. A sensação que tive foi de que eu estava pulando de paraquedas sobre quatro rodas. Foi fantástico! Que admiração e respeito tenho agora pelos pilotos", afirma.

Para o ator, a rigor, ninguém presta em Golpe duplo. E essa é a grande sacada do filme e do roteiro. Ninguém é apenas vilão e ninguém é apenas bonzinho. "Entortar essa coisa de uma cor só, do unidimensional. Os seres humanos são compostos de uma série de coisas. E cada um de um jeito. O meu personagem seria o vilão, mas, no fim das contas, quem é o vilão? Quem estava certo? Isso que é o bacana dessa produção", resume.



Longa é sem sal como uma Sessão da tarde

Golpe duplo estreou há duas semanas nos Estados Unidos e desbancou do topo do ranking dos filmes mais vistos 'Cinquenta tons de cinza', que caiu do primeiro para o quarto lugar. Com sua mescla de ação, trapaça, comédia, suspense e romance, o longa de Glenn Ficarra e John Requa concentra ingredientes para conquistar um amplo leque de espectadores. Além de ter como trio de protagonistas os atraente Will Smith, Margot Robbie e Rodrigo Santoro.

Mas, sinceramente, há apenas uma pitada de cada um desses gêneros, sem se aprofundar em nenhum, no estilo Sessão da tarde. A melhor atuação é, previsivelmente, a de Smith. Margot só chama a atenção pela beleza. Santoro alterna bons e maus momentos na pele do empresário de automobilismo Rafael Garriga. O ator mal aparece no trailer e nos anúncios do longa, como se fosse apenas um coadjuvante de luxo. É bom reparar na interpretação de Gerald McRaney, que vive o enigmático Owens.

Um dos poucos aspectos interessantes do longa é a habilidade do roteiro em tratar do tema da manipulação. Golpe duplo é inspirado na atividade de ilusionistas. Não são exatamente ladrões ou bandidos, mas gente que se serve da ilusão, da manipulação da verdade para atingir seus objetivos.

Em resumo, é mais uma daquelas produções sobre golpistas que agem uns nos outros e estão envolvidos em uma história de amor sem sal. Mesmo as reviravoltas são meio batidas e têm pouco potencial de surpresa. Se a intenção for assistir a um filme leve, vale o ingresso.

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Nicky (Will Smith) vive um romance com Jess (Margot Robbie) no longa-metragem (foto: WARNER/DIVULGAÇÃO)
Will Smith tenta recuperar a forma

Mariana Peixoto

Golpe duplo não é apenas um filme com Will Smith. É sua tentativa mais efetiva desde 2013 de voltar ao jogo.

Explica-se: o ator, produtor e rapper bissexto de 46 anos reinou absoluto em Hollywood até dois anos atrás. Com a franquia Homens de preto e filmes como Eu, robô e Hitch, Smith se tornou o ator mais rentável na mais rentável indústria cinematográfica do mundo. Emplacou uma dezena de filmes que renderam, cada um, mais de US$ 100 milhões. Somados, todos os longas de que participou amealharam US$ 6,6 bilhões mundo afora.

Mas há um porém chamado Depois da Terra, filme que protagonizou com o filho Jaden. Dois anos atrás, o fracasso bateu à porta do clã Smith. A superprodução de M. Night Shyamalan custou US$ 130 milhões e não arrecadou, nos EUA, nem a metade disso. Até filmar Golpe duplo, Smith só fez pequenas participações em Tudo por um furo (2013) e Um conto do destino (2014).

O longa que estreia hoje tem pretensões bem menores. Custou US$ 50 milhões e não fez feio em seu primeiro fim de semana lá fora: liderou as bilheterias, arrecadando US$ 19 milhões, colocando Cinquenta tons de cinza para escanteio. Mas são números bem mais modestos para um ator que já afirmou “faço US$ 100 milhões na estreia”.

A escalada de Smith teve início na música. Já era um um nome conhecido na indústria (tem na estante quatro Grammys) quando foi para a TV. Com Um maluco no pedaço, comédia que protagonizou durante seis anos, até 1996, interpretou a si próprio. Era um jovem simples da Filadélfia que, em Los Angeles, morava com os tios numa mansão em Bel-Air.

Com a repercussão da série, começou a ganhar papéis importantes em Hollywood. Com Homens de preto entrou para o primeiro time. Casado com Jada Pinkett, atriz e cantora, é pai de Jaden, 16 anos, e Willow, 14, também dedicados ao cinema e à música.

Will Smith nunca assumiu ser membro da cientologia, a seita criada por L. Ron Hubbard nos anos 1950. Mas doou milhares de dólares para a seita. E ainda fundou com Jada, em 2008, a escola particular New Village Academy, baseada nos métodos de Hubbard. A escola fechou em 2013.

Os filhos deram ano passado entrevista à T Magazine, do New York Times em que criticaram as escolas convencionais, dizendo que o método deprime os jovens e não ensina nada a ninguém.

A ficção científica apocalíptica Depois da Terra, criada pelo próprio Will Smith, foi acusada de fazer propaganda da cientologia. Em entrevistas recentes, o ator disse que o fracasso de Depois da Terra foi “emocionalmente devastador”. Diante do revés, resolveu trabalhar em projetos divertidos ou despretensiosos.


*A repórter viajou a convite da Warner

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