Entre a ficção e a realidade, 'O Jogo da Imitação' revela a saga do matemático Alan Turing

Filme indicado ao Oscar foi inspirado na biografia de Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges

por Fernanda Machado 06/02/2015 00:13

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Jack English/divulgação
Benedict Cumberbatch disputa o Oscar por seu papel em 'O Jogo da Imitação' (foto: Jack English/divulgação)
Mariana Peixoto

 

O britânico Alan Turing (1912-1954) tem uma biografia digna de filme. Matemático, é conhecido como um dos pais da computação graças à chamada Máquina de Turing, modelo abstrato de computador. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou junto à Inteligência britânica decodificando o sistema de criptografia usado pela Alemanha durante o conflito. Graças à descoberta, milhares de vidas foram salvas naquele período.

Turing já teve sua história contada mais de uma vez no cinema e na TV. Em 2001, o filme Enigma dava conta de sua trajetória, mas trocando os nomes dos principais personagens. Às vesperas do centenário do matemático, ainda houve dois outros projetos, ambos de 2011: o telefilme Codebreaker e The Turing Enigma, ambos sem grande repercussão.

O jogo da imitação, estreia desta semana nos cinemas do país, é o projeto mais ambicioso sobre Turing. E controverso também. Dirigida pelo norueguês Morden Tyldum, a produção concorre a oito Oscars, incluindo melhor filme, diretor, ator (Benedict Cumberbatch) e atriz (Keira Knightley).

A narrativa tem início nos anos 1950. Fechado em casa, Turing recebe a visita de policiais depois de uma denúncia. Sem entender o que aquele homem fazia com máquinas estranhas, um detetive resolve ir à fundo e acaba descobrindo a verdade.

Em tom de flashback, a narrativa volta no tempo e chega até o período da guerra. Turing fez parte de uma equipe secreta que trabalhou junto à Inteligência. Matemático genial, extremamente lógico e muito fechado, não tem qualquer relacionamento dentro e fora do trabalho. Apesar de intransigente, acaba comandando uma equipe, que, depois de anos de trabalho, consegue decifrar as mensagens criptografadas pelos alemães.

Uma questão vai transformar a vida do matemático. Turing é homossexual numa época em que era crime na Inglaterra se relacionar com uma pessoa do mesmo sexo. Chantageado por um colega, ele resolve forjar o noivado com uma companheira de trabalho. Paralelamente a essa história, o filme volta mais ainda no tempo e chega à infância de Turing. Ele teria se apaixonado por um colega de colégio, Christopher, e por isso batiza com esse nome a máquina que “venceu” os alemães.

Parte dessa história é verídica; outra porção (a chantagem, a homenagem à paixão de infância), absoluta invenção. Um bom exemplo está na morte do personagem. Condenado por homossexualismo, Turing teve como pena a castração química. Morreu um ano mais tarde, durante o tratamento. No filme, teria se suicidado. Já a história real diz que o suicídio foi, na verdade, um erro. Turing teria se envenenado acidentalmente.

Tanto por isso, O jogo da imitação tem que ser assistido com uma certa malícia. A inspiração do filme foi a biografia Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges. Só que Tyldum deu uma romanceada para encher os olhos do grande público nessa narrativa filmada de maneira bastante convencional.

O jogo da imitação serve mais como um veículo para que Benedict Cumberbatch firme ainda mais o seu nome em Hollywood – o que também ocorreu com outro ator britânico, Eddie Redmayne, que vive o físico Stephen Hawking na cinebiografia A teoria de tudo.

Quem assiste à badalada série Sherlock, da BBC, protagonizada por Cumberbatch, vai encontrar semelhanças na interpretação, pois ambos os personagens são brilhantes e impossíveis de se relacionar. Só que o filme traz uma porção trágica que o ator, um dos melhores de sua geração, sabe dosar de maneira inteligente e na medida certa.

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