Festival do Rio pede 'mais cinema e menos cenário'

Maior da América Latina em logística, o evento busca alavancar lançamento dos filmes nos cinemas

04/10/2014 10:57

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 Foto: Rogerio Resende/R2/Divulgacao
Cineastas como Lírio Ferreira aproveitaram a repercussão internacional do Festival do Rio para lançar o movimento . (foto: Foto: Rogerio Resende/R2/Divulgacao)
RIO DE JANEIRO - “Acho triste a ideia de existirem filmes que só são exibidos no circuito de festivais, sem entrar em cartaz nos cinemas”. A afirmação feita por Ilda Santiago, uma das diretoras do Festival do Rio, aponta para a maior diferença entre o evento carioca e outras mostras cinematográficas nacionais: a questão do mercado. No Rio, há uma forte de presença de artistas e profissionais do audiovisual, tanto de grandes empresas multinacionais quanto de produtoras independentes. É o maior festival da América Latina em relação à logística. “Uma de nossas prioridades é alavancar o lançamento dos filmes nos cinemas. Para os distribuidores, o festival funciona como um teste de público”, complementa Ilda. A premiação ocorre na terça-feira, quando será exibido o longa-metragem Trash, de Stephen Daldry, no encerramento.

PERMANÊNCIA
Depois de dirigir quatro curtas e ganhar o prêmio de melhor diretor do Festival de Brasília (por Décimo segundo em 2007), Leonardo Lacca lança neste sábado, no Festival do Rio, seu primeiro longa-metragem: Permanência. Com os também premiados Irandhir Santos e Rita Carelli à frente do elenco, o filme retrata o reencontro de um casal de ex-namorados. Um fotógrafo pernambucano vai a São Paulo montar uma exposição e fica hospedado na casa de uma antiga amada, que está casada com um paulista. Como sugere o título (e o trailer lançado na internet), ainda existe algo entre eles. A produção é uma parceira entre as produtoras Trincheira (Eles voltam, Muro) e Cinemascópio (O som ao redor, Recife frio), que juntas também levaram o curta Sem coração ao Festival de Cannes.

CINEMA TRIDIMENSIONAL
No filme Catedrais da cultura, três diretores usam o cinema dos óculos 3D para jogar a plateia dentro de prédios históricos. No primeiro capítulo, por exemplo, o cineasta Win Wenders transporta o público para dentro do edifício da Filarmônica de Berlim. Por questões de escala e profundidade visual, é o tipo de filme que praticamente só faz sentido se for visto no cinema, com a tela maior que a plateia, para o público sentir-se dentro daqueles espaços. Na noite de quarta, o filme Trinta (cinebiografia do carnavalesco Joãosinho Trinta) foi projetado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos principais cenários usados nas filmagens. A plateia, portanto, sentiu-se dentro do filme, sem a necessidade de óculos especiais. A presença do elenco na sessão tornou o momento ainda mais único, principalmente quando subiu ao palco, para um discurso, Matheus Nachtergaele, intérprete do personagem-título.

CINEMA BIDIMENSIONAL
Um dos maiores mestres da pintura do século 19 é revivido pelo ator Timothy Spall (premiado no Festival de Cannes pelo papel) no filme Mr. Turner, de Mike Leigh. Além de revelar o cotidiano pessoal do artista, o longa-metragem de quase três horas potencializa os efeitos de sua arte quando detalha sua busca pela representação das forças sublimes da natureza, recriadas com tinta e imaginação. O visual é fascinante, sobretudo nas imagens de paisagens, e o protagonista está incrivelmente repugnante (comparável a um porco), mas sem diminuir a genialidade da mente do pintor.

Foto: Pedro Sotero/Divulgacao
Leonardo Lacca apresenta Permanência, seu primeiro longa, neste sábado. (foto: Foto: Pedro Sotero/Divulgacao)
CINEMA MULTISSEXUAL
Em 2014, o festival aboliu sua mostra dedicada à temática LGBT. Um dos motivos foi a constatação de que a diversidade sexual está cada vez mais multiplicada, tanto nos principais filmes da programação quanto nas obras consideradas “alternativas”. Entre os exemplos que confirmam esse dado estão O cheiro da gente, de Larry Clark, O clube, de Allan Ribeiro, Trinta, de Paulo Machline, e Sangue azul, de Lírio Ferreira.

CINEMA SONORO
Na programação do Festival, há uma série de filmes sobre música, a maioria com ênfase em algum cantor ou banda. Nick Cave, Martinho da Vila, James Brown, Fela Kuti, David Bowie, Björk e Pulp estão entre os músicos que viraram filme. Alguns seguem um caminho mais didático, como Beautiful noise (documentário sobre a cena rock shoegazer), formado por entrevistas intercaladas por imagens de arquivo. Outros são mais imersivos, como My name is now, que retrata Elza Soares bem de perto, com uma explosiva ênfase em seu rosto, seu brilho e suas ideias, um filme abertamente emocional e artístico, sem a necessidade de dados ou recursos documentais jornalísticos.

CINEMA POLÍTICO
Cineastas aproveitaram a repercussão internacional do Festival do Rio para lançar o movimento Mais cinema, menos cenário. A transparência dos investimentos no setor cinematográfico e a ausência de consulta aos artistas sobre a a política para o audiovisual estão entre as questões levantadas pela manifestação, que teve forte adesão de profissionais de vários estados, com críticas também aos privilégios recebidos por produções estrangeiras que usam paisagens cariocas como locações.

CINEMA ARMORIAL
Dois documentários que retratam direta ou indiretamente a cultura pernambucana ainda são exibidos nos últimos dias no festival. Dirigido pelo fotógrafo e cineasta paraibano Walter Carvalho, Brincante é um ensaio cinematográfico sobre os personagens criados por Antonio Carlos Nóbrega. Já Caetana, do paulista Felipe Nepomuceno, é construído em torno de uma entrevista com Ariano Suassuna gravada em abril de 2014, onde ele fala bastante sobre o tema da morte.

 

 

 

* O jornalista viajou a convite da Oi

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