Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começa nesta terça com produções de diversos estados

Minas Gerais marca presença no evento com um curta e um longa

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Acervo Estado de Minas/1964
Othon Bastos em Deus e o diabo na terra do sol, filme de Glauber Rocha que abre o festival (foto: Acervo Estado de Minas/1964)
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro experimentou períodos de enfermidade, amnésia e desorientação. Nos últimos anos, o paciente entrou em recuperação e parece ter dado sinais de melhora gradativa. A cura estava embutida exatamente no DNA do evento mais antigo do país. Como tem ocorrido há alguns anos, a seleção competitiva de longas-metragens da 47ª edição contemplou filmes de cineastas em início de carreira, reconhecidos pela inventividade com que tratam objetos cinematográficos.

Era essa justamente a intenção do crítico Paulo Emílio Salles Gomes ao organizar a Semana do Cinema Brasileiro em 1965: construir uma vitrine para produção nova e arrojada. Desta vez, o estado com maior número de indicações é São Paulo, com cinco curtas e um longa, o documentário 'Sem pena', de Eugênio Puppo. O rodízio de obras das sessões noturnas – apresentadas até o dia 23 – será composto por produções da Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais (com o longa 'Ela volta na quinta', de André Novais Oliveira, e o curta 'Vento virado', de Leonardo Cata Preta), Rio Grande do Sul, Maranhão e Distrito Federal.

A boa-nova, no entanto, é o aumento do raio de alcance do encontro com o cinema brasileiro. Para corrigir o elitismo que concentrava as atividades cinematográficas no Plano Piloto, o festival, que já vinha ampliando as projeções da mostra competitiva para as cidades satélites, expandiu ainda as atividades extras (oficinas, palestras e debates) pelos polos de Taguatinga, Ceilândia, Gama e Sobradinho.

Abertura

Considerado por muitos o maior filme da história do cinema nacional, 'Deus e o diabo na terra do sol' completa 50 anos e ganha cópia restaurada em alta qualidade que será exibida nesta terça, às 20h, na cerimônia de abertura, para convidados. O segundo longa de Glauber Rocha tem importância histórica: além de marcar a formação do cinema novo, ao romper com padrões da linguagem vigente na época, apresenta diagnóstico da realidade do país às vésperas do golpe militar de 1964.

Usando o Nordeste como espaço simbólico, 'Deus e o diabo...' conta a história de Manoel (Geraldo Del Rey), um sertanejo que se rebela contra a exploração do seu patrão e foge com a mulher, Rosa (Yoná Magalhães), à procura de um novo líder. Durante o seu percurso, Manoel tem que lidar com a fé, ao se deparar com o líder religioso Sebastião (Lídio Silva), com a violência, engajando-se na luta armada de Corisco (Othon Bastos), e com a subversão, ao encontrar o mercenário Antônio das Mortes (Maurício do Valle).

Deus e o diabo... é uma obra completa, complexa e atemporal, cuja importância resiste ao passar do tempo. A cineasta Paula Gaitán, viúva de Glauber Rocha e vencedora do Candango de melhor filme no Festival de Brasília de 2013 com Exilados do vulcão, ficou feliz pela homenagem a Glauber: "Que bom saber que Brasília adora o filme, um dos mais lindos da história, de um cineasta imenso, generoso, que amou sua pátria, seu povo, América Latina e a humanidade inteira, como poucos. Glauber foi um grande artista pensador, que deixou uma obra para a posteridade, para os se foram, os que estão aqui e os que virão".

Como coordenadora adjunta do festival está Sara Rocha, a neta do diretor. "Uma conjunção de fatores nos levaram a escolher Deus e o diabo.... Fazem 50 anos do filme e do golpe militar. Fora isso, o filme é um ícone da cinematografia mundial com relevância incrível. E quem diz isso não sou, é gente como Martin Scorsese", reconhece Sara. "Naturalmente, existe um valor afetivo muito grande para mim projetar o filme no Cine Brasília. É importante também ver as conquistas do trabalho de restauração dos filmes de Glauber Rocha, dos quais pude participar, recebendo o reconhecimento no Brasil e no mundo", salienta Sara.

Antes da exibição, haverá apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, com nove músicos, sob regência do maestro Claudio Cohen, interpretando arranjo armorial para Perseguição, de Sérgio Ricardo, compositor do romance violado que originou a trilha e a narração do filme. Paloma Rocha e Henrique Cavalleiro, filhos do homenageado, estarão presentes na abertura. (Colaborou Ricardo Daehn)

Reprodução
A ficção 'Ela volta na quinta', longa que representa Minas, tem o diretor André Novais Oliveira e sua família no elenco (foto: Reprodução)
Presença mineira


'Ela volta na quinta', longa de André Novais Oliveira, da produtora Filmes de Plástico, de Contagem, foi exibido em julho no Festival Internacional de Cinema de Marselha, na França. O filme trata da crise de um casal da terceira idade, que afeta a relação com os filhos. Apesar de ser ficção, mas o elenco traz os pais do diretor, Norberto Francisco Oliveira e Maria José Novais. O próprio André também interpreta um dos filhos – o outro é seu irmão, Renato Novais. Tal situação já foi vivida por André. Em seu curta 'Pouco mais de um mês', outra ficção, ele mostra sua relação com a namorada, Élida Silpe.

O curta mineiro que concorre em Brasília é 'Vento virado', de Leonardo Cata Preta. Já exibido em eventos como a Mostra de Tiradentes e o Festival de Curtas do Rio, é uma animação live action experimental. Gabriel Martins, um dos integrantes do Filmes de Plástico, assina a fotografia.

A produtora de Contagem ganha esta semana pequena mostra no Sesc Palladium – quinta, às 20h, e domingo, às 18h30, com entrada franca. Serão exibidos cinco curtas: 'Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides', 'No final do mundo' e 'Shaolin', 'Gabriel', 'Mordock', os três de Gabriel Martins; 'Pelos de cachorro', de Gabriel e Maurílio Martins; e 'Domingo', de André Novais Oliveira.

MOSTRA COMPETITIVA

LONGAS
'Branco sai. Preto fica', de Adirley Queirós
'Brasil S/A', de Marcelo Pedroso
'Ela volta na quinta', de André Novais Oliveira
'Pingo d'água', de Taciano Valério
'Sem pena', de Eugenio Puppo
'Ventos de agosto', de Gabriel Mascaro
 
CURTAS
'B-Flat', de Mariana Youssef
'Bashar', de Diogo Faggiano
'Castillo y el armado', de Pedro Harres
'Crônicas de uma cidade inventada', de Luísa Caetano
'Estátua!', de Gabriela Amaral Almeida
'Geru', de Fábio Baldo, Tico Dias
'La Llamada', de Gustavo Vinagre
'Loja de répteis', de Pedro Severien
'Luz', de Gabriel Medeiros
'Nua por dentro do couro', de Lucas Sá
'Sem coração', de Nara Normande e Tião
'Vento virado', de Leonardo Cata Preta

Memória

O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro teve a realização interrompida pelos militares de 1972 a 1974. Daí surgiu a identidade de festival combativo e resistente quando as atividades cinematográficas no Planalto Central foram retomadas, mesmo sob forte censura. Em 2015, apesar de alcançar a 48ª edição, comemoram-se os 50 anos de resistência do festival.

47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Desta terça ao dia 23, competição de filmes brasileiros. Cine Brasília (EQS 106/107; 3244-1660) , Colégio do Gama (Área especial SLE, Q. 18; 3484 9142), Teatro da Praça de Taguatinga (QNE 02 s/n; 3451- 9150), Teatro de Sobradinho (Q. 12 AE 4; 3901 6798) e Sesc Ceilândia (QNN 27, Lt. B; 3379-9586). Ingressos: R$ 12 e R$ 6. As classificações indicativas variam para cada filme.

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