Trama pouco inspiradora e abuso do clichê marcam filme sobre Paulo Coelho

Cinebiografia 'Não pare na pista' não empolga e exagera no merchandising do autor

por Walter Sebastião 08/08/2014 08:44

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Dama Filmes/Divulgação
O ator Júlio Andrade interpreta Paulo Coelho no filme dirigido pelo cineasta Daniel Augusto (foto: Dama Filmes/Divulgação )
'Não pare na pista – A melhor história de Paulo Coelho' segue rotina do cinema comercial: produções tecnicamente bem realizadas e história convencional. E, por isso mesmo, os destaques são os aspectos técnicos, a fotografia e a montagem eficientes, com a direção de arte dando pulsação envolvente ao primeiro terço do filme. Mas passado o impacto inicial, não consegue disfarçar uma história banal: a saga do menino que padece no purgatório da incompreensão, experimenta o inferno na juventude e na velhice chega ao paraíso. E que agora anda entediado com o sucesso e buscando novos desafios.


É a partir do segundo terço do filme que as limitações de forma e conteúdo se revelam, levando à evidência de que habilidade técnica não consegue fazer brilhar história opaca. Pode até fazer com que o espectador se distraia, mas não criar empatia que resulte pelo menos em boa diversão.

 

Da soma da pirotecnia visual com a narrativa fundada sobre clichês, o que se torna explícito é a superficialidade. Que em escala cinematográfica muitas vezes leva ao caricatural, como no último terço do filme, e até atinge as interpretações que flutuam com bons momentos e outros também artificiais. Apenas o segmento dedicado à infância e início da juventude revelam momentos fortes.

À medida que avança, Não pare na pista vai trazendo doses cada vez maiores de empáfia. O ápice é observação na tela de que Paulo Coelho é mais traduzido que Shakespeare. Se isso quer dizer alguma coisa apenas registra confusão entre caso de sucesso de vendas com qualidade literária, subscritando teses polêmicas sobre estética espalhadas ao longo do filme. Como considerações sobre o “fácil” ou o “difícil” em arte. Ou a fala do personagem que representa o pai do escritor, explicando ao filho que Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Mello Neto tiveram outros empregos além das atividades artísticas, deixando sensação que Paulo Coelho foi mais “ousado” ao lutar para sobreviver apenas com literatura.

Irônico, mesmo, é ver a luta para conciliar o ontem e hoje do escritor, o mago filiado à ordem de Telêmaco, criada pelo bruxo Aliester Crowley, guru dos satanistas dos anos 1960, que agora renasce como católico – o que, segundo o filme, ele sempre foi. Ou o roqueiro que pregou a sociedade alternativa eleito membro da Academia Brasileira de Letras. O divertido não é a mudança de posição, o que faz parte da vida, mas é a batalha para agradar a todos, já que privilegiar ou desqualificar qualquer destes públicos pode ter ecos no fantástico mercado do autor. Não pare na pista deixa a suspeita de ser apenas um extenso videoclipe, fazendo merchadising dos livros Diário de uma Mago (1987) e O alquimista (1988), como a chamar as comemorações antecipadas dos 30 anos de seus lançamentos.

 

Assista ao trailer de 'Não pare na pista – A melhor história de Paulo Coelho':

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