Novo 'Planeta dos macacos' confronta homens e símios na luta do bem contra o mal

Trama é a melhor depois do filme de 1968, que deu origem a produções para o cinema e a TV

por Gracie Santos 24/07/2014 08:26

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Fox/Divulgação
O ator britânico Andy Serkis está de volta nos "pelos" de César em Planeta dos macacos: O confronto (foto: Fox/Divulgação)
Macacos me mordam se estiver enganada, mas Darwin, o “cara” da teoria evolucionista, e César, o esperto macaco aprendiz de 'Planeta dos macacos – A origem', agora de volta como líder dos peludos em 'O confronto...', podem ter se conhecido em algum momento do passado. Quando defendeu a tese de que os humanos têm ancestral comum com algumas espécies de símios, o cientista devia estar pensando no chimpanzé em questão. Afinal, se for para descender deles, que seja de tipos como este: sensível, delicado, carismático, determinado e até charmoso, com expressivos olhos verdes.

Não, 'Planeta dos macacos – O confronto', que estreia hoje em 33 salas de cinema da Grande BH, não é um filme apenas para iniciados. Quem não assistiu ao anterior, 'A origem...' (que explicava como 90% dos homens, foram dizimados pelo vírus símio e a submissão dos poucos que restaram aos animais), nem sequer havia nascido quando o longa de 1968 foi lançado ou jamais assistiu à série de TV nos anos 1970 poderá acompanhar a trama sem problemas. O que precisa ser revisto está em raros flashbacks, que surgem mais para entendermos os sentimentos dos personagens do que propriamente explicar a história.

Quem tiver saudades da doutora Zira, a macaca sexy que se maquiava e pintava as unhas com esmalte, não terá a menor chance de rever bichos travestidos de gente. Os símios de 'O confronto...', a exemplo dos de 'A origem...', são mais “verossímeis”, não querem se parecer com os homens, de quem desdenham. Preferem ser bicho (a seu modo) e viver na mata. Detalhe: são mais racionais do que seus ancestrais. Alguns gostam de ler; outros, como César, podem se comunicar em inglês (claro) com humanos americanos (óbvio).

Ironias à parte, 'Planeta dos macacos: O confronto' é o melhor dos longas produzidos desde O planeta dos macacos (1968), dirigido por Franklin J. Schaffner e estrelado por Charlton Heston. Qualquer iniciado sabe que os filmes da “franquia” nunca primaram por bons roteiros, da mesma forma que a série de TV. O que atrai seguidores é o carisma dos macacos inteligentes e a doce vingança de vê-los enjaulando homens ou usando humanos em testes de laboratório.

Verdadeira selva Em 'O confronto...' há passagens absolutamente previsíveis. Assim que vemos a companheira de César (Cornélia, interpretada por Judy Greer) doente, intuímos que a médica do grupo de humanos liderado por Malcolm (Jason Clarke) vai salvá-la. Da mesma forma, quando batemos o olho em Koba, imaginamos que o bicho vai pegar. Ainda assim, a trama é interessante e o 3D, incrível. Em vez de atirar objetos na direção da plateia, o filme faz o inverso: um macaco parece rolar da cadeira ao lado do espectador para dentro da tela (atenção, isso é uma sensação, não uma imagem); e dois símios surgem sentados num galho com interessante profundidade, que dá dimensão especial a todo o 3D.

A palavra profundidade descreve bem a relação entre os macacos comandados por César, seres com capacidade de elaborar conceitos, viver em sociedade e admitir, por mais que doa, que certas guerras “precisam” ser travadas. Abandonar o campo de batalha pode significar perdas irreparáveis aos chimpanzés. Triste é perceber que não importa quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. A vida parece ter o dom de tornar ovos podres e galinhas selvagens e competitivas, tanto na selva humana quanto no reino animal. O maior incômodo do longa é provocado pela necessidade (quase didática) de valorização da amizade e da família, coisa típica de americano.
 
O rosto por trás de César
 
Steve Marcus/Reuters
Andy Serkis é experiente em personagens de computação gráfica (foto: Steve Marcus/Reuters)
 
 
O verdadeiro herói do filme do diretor Matt Reeves é o ator e cineasta britânico Andy Serkis. Acostumado a encenar sem mostrar o rosto, encoberto pela computação gráfica, Serkis foi o sofrido Sméagol/Gollum de O senhor dos anéis e O Hobbit, um ser medonho e triste que ganhou força graças à embargada voz gutural. Fez também o gigantesco e delicado Kong (de King Kong), sempre ofegante. E ainda o Capitão Haddock da animação Tintin. Em todos os casos, como agora pela segunda vez como César, Serkis está incrível, usando os olhos para revelar expressões surpreendentes.

O ator disse que o filme é uma espécie de O poderoso chefão. Compara César a Don Corleone, “lidando com todas as conspirações de uma investida política difícil”. Serkis gerou acaloradas discussões nas redes sociais sobre a possibilidade de um personagem como Gollum concorrer ao Oscar de melhor ator. Inegável que tanto ele, nos “pelos” de César, quanto Toby Kebbell, como o coadjuvante troglodita Koba, seriam páreo duro naquela disputa. Aliás, o comportamento animal de Koba tem explicação: seu passado é duro, ele foi operado entre 400 e 500 vezes e perdeu um olho em um experimento de laboratório.

Você sabia?


A expressão “macacos me mordam” surgiu na Guerra do Paraguai. Foi atribuída ao conde D’Eu, genro do imperador dom Pedro II e marido da princesa Isabel. Ele teria dito ao sogro: “Macacos me mordam se eu não matar Solano Lopez” (o líder paraguaio), revela a Revista da Língua Portuguesa. A frase é também recorrente nas dublagens brasileiras do desenho Popeye. Em inglês, ele dizia “well, blow me down!” (“bem, ventanias me derrubem!”). Em português, deu no que deu...

Saiba Mais
Como tudo começou

O romance francês La planète des singes, de Pierre Boulle, deu origem ao filme O planeta dos macacos (1968) e a suas sequências. O confronto... é a 10ª versão. No livro lançado em 1963, o casal Jinn e Phillysen encontra, durante um cruzeiro, uma mensagem numa garrafa: o diário de bordo do astronauta Ulysse Mérou, que acredita ser o último ser humano no universo. Ele diz ter chegado ao planeta Soror (irmã, em latim), onde humanoides agem como chimpanzés. Na tentativa de torná-los civilizados e aprender sua língua, Ulysse fica por lá, apaixona-se e acaba conhecendo a pesquisadora Zira. Jinn e Phillys, claro, não acreditam em nada. E você?
 
Assista ao trailer de 'Planeta dos macacos – O confronto':
 
 

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