Saga do casal Eduardo e Mônica, da música de Renato Russo, vai virar filme

Diretor René Sampaio promete retratar o DF dos anos 1980 e 1990 no longa

por Renato Alves Manoela Alcântara 21/07/2014 10:12

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Minervino Junior / CB / D.A Press
O casal Monica Souza e Eduardo Batista , de moto e de camelo, no Parque da Cidade: canção escrita por Renato Russo e lançada em 1986 é a trilha sonora da relação deles (foto: Minervino Junior / CB / D.A Press)
O ano é 1986. Com José Sarney na presidência da República, o Brasil vai da euforia à depressão. O Plano Cruzado naufraga, a inflação dispara. A crise financeira é o estopim para o quebra-quebra nas imediações da Rodoviária do Plano Piloto, em novembro, no episódio conhecido como Badernaço. Administrado por José Aparecido de Oliveira, penúltimo dos governadores biônicos, o Distrito Federal tem oito regiões administrativas 1,4 milhão de habitantes. A Câmara Legislativa inexiste, assim como os condomínios horizontais, Águas Claras, Sudoeste, Estrutural, Itapoã. Brasília ocupa o terceiro lugar no ranking das cidades em casos de Aids no Brasil. O rock embala as festas em casas e em boates como a recém-inaugurada Zoom, no Gilberto Salomão. As bandas brasilienses Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude ganham o cenário nacional, dominado pela paulistana RPM do símbolo sexual Paulo Ricardo. Xuxa estreia o seu 'Xou na tevê'. Liderada por Maradona, a Argentina ganha a Copa do Mundo pela segunda vez.

Nesse cenário, o casal mais famoso da música brasileira se encontra pela primeira vez. Ao menos na versão cinematográfica, prevista para ser rodada em 2015 e estrear nas telonas em 2016. O ano de partida para a saga de Eduardo e Mônica coincide com o de lançamento da música homônima, no álbum 'Dois', da Legião Urbana. “Eduardo e Mônica é um filme do meio dos anos 1980. Se 'Faroeste' retratava o embrião do Rock Brasília, ainda na época do Aborto Elétrico, 'Eduardo e Mônica' vai se passar no auge dessas bandas, quanto já estavam estouradas em todas as rádios no Brasil”, adianta o diretor René Sampaio. Ele dirigiu 'Faroeste caboclo', seu primeiro longametragem, que atraiu mais de 1,5 milhão de pessoas aos cinemas no ano passado.

Brasiliense de nascença e criação, René adquiriu recentemente os direitos para filmar 'Eduardo e Mônica', escrita por Renato Russo em 1982, quando o músico era o Trovador Solitário. René completou 12 anos em 1986. Morando no Plano Piloto, ele testemunhou o fenômeno do movimento Rock Brasília. Aprendendo os primeiros acordes, tocava Legião Urbana no violão. Desde então, alimentou o sonho de levar algumas das músicas de Renato Russo às telas. Estudou comunicação social na Universidade de Brasília (UnB) e, já como um consagrado diretor de comerciais para a TV e diretor de curtas-metragens, filmou 'Faroeste caboclo'. Agora, prepara-se para escrever o roteiro de 'Eduardo e Mônica'.

Com o filme ainda em processo embrionário, René Sampaio pretende usar a UnB e o Parque da Cidade como cenários para a sua mais nova obra. “Escreveremos o roteiro pensando também na Água Mineral, nas festas que aconteciam nos apartamentos dos blocos do Plano Piloto, em uma cachoeira — talvez na Chapada (dos Veadeiros) —, no pôr do sol visto do SMU (Setor Militar Urbano), nas entrequadras, no Lago Norte com ruas por asfaltar ainda, nas quadras esportivas de cimento cercadas por alambrados com grades pintadas de verde”, revela o diretor. “Vamos tomar partido da parte tombada da capital, o que nos permite fazer planos abertos mesmo num filme de época. O resto o roteiro é que vai dizer, mas desejo revisitar visualmente as reminiscências da minha infância e juventude”, completa.

Entrevista// René Sampaio

O que você deve manter da letra de Eduardo e Mônica no roteiro do filme?
Pretendo tratar com rigor a obra original, mas sempre com a liberdade criativa que uma adaptação exige para fazermos um bom filme. Será um artista falando sobre a obra de outro, mas os fãs podem ficar tranquilos que será uma obra emocionante e que vai retratar bem a música. E mesmo quem não for fã vai ter um filme encantador para assistir também.

O filme nos trará uma história romântica ou um drama?
Não sei se consigo encaixar os filmes nas definições do mercado, mas o desejo é fazer uma grande história de amor que seja ao mesmo tempo intensa e solar como é a música. A letra tem diversas coisas leves e divertidas como a Mônica se formar no mesmo mês em que o Eduardo passa no vestibular. Ao mesmo tempo, Renato também fala de segurar a barra mais pesada que tiveram e dos aprendizados e do crescimento que viveram juntos. O mais importante é a busca por uma história que tenha verdade e que seja emocionante sem cair em lugares comuns. São dois personagens tão diferentes que encontram no amor e nesse relacionamento um caminho para o seu amadurecimento e felicidade. Lidaremos com sensações e emoções de quem está passando por essas fases tão importantes na vida e, claro, teremos um final feliz, como na música.

Como será o trabalho de pesquisa? Haverá entrevistas com personagens brasilienses dos anos 1980?
É um filme tão importante para mim quanto 'Faroeste caboclo'. Será feito com muita pesquisa, carinho e dedicação. Estamos dando os primeiros passos, fechando o roteirista, os acordos de produção e logo vamos começar as pesquisas em Brasília. Depois virão os testes de elenco, preparação, filmagem, finalização. Tudo a seu tempo e lugar.

'Faroeste Caboclo' teve trilha assinada por um Plebe Rude. Quem fará a trilha de 'Eduardo e Mônica'?

Estou longe de começar a pensar no trilheiro, mas certamente as músicas de época já começarão a ser apontadas durante o roteiro.

Como em 'Faroeste caboclo', pretende montar uma base em Brasília, com os atores morando na cidade durante as locações?

Eduardo e Mônica é um filme brasiliense como foi Faroeste caboclo. Além de ter um diretor e produtor da cidade, a minha produtora estará associada a outros parceiros para rodar o longa em Brasília com parte significativa da equipe e atores locais. Cada um vai colocar o seu melhor para levantar o nosso longa. Nosso desejo é filmar no fim do ano que vem e estrear depois das Olimpíadas.

Moto e camelo
A música que vai virar filme marcou toda uma geração. E continua a acompanhar casais dos tempos atuais, com um peso maior para os Eduardos e as Mônicas. Com a certeza de que não existe razão nas coisas feitas pelo coração, um Eduardo e uma Monica se encontraram em Brasília. Como na música, ela anda de moto. Já ele tem 36 anos, é fã de Legião Urbana, mineiro e gosta de ficar em casa.

Leonina, Monica Santos Souza, 32 anos, é perseverante, planeja o casamento e tem uma certeza: “Aconteça o que acontecer, ficaremos juntos. Está escrito”, garante ela.

O contabilista Eduardo Almeida Batista chegou a Brasília aos 20 anos. Veio conhecer a cidade descrita nas músicas do ídolo. “Sempre escutava as histórias de Brasília contadas por Renato Russo. Vim para passar férias, me apaixonei e fiquei”, conta. Ele conheceu Monica em um ônibus da linha 177 (Riacho Fundo-W3 Sul). “Quando a vi pensei: ‘Encontrei minha Monica’.”

A história dos dois é complexa. Começou como amizade, em 2006. Eles se admiravam, mas nenhum tinha coragem de dar o primeiro passo. Segundo Monica, Eduardo tinha namorada, por isso, não a chamava para sair. Mas ela tirou carteira de moto e ele já tinha a dele. O gosto pelas duas rodas foi um pretexto para se encontrarem. “Fomos várias vezes a um encontro de motos. Um dia, descemos ao subsolo. Foi o nosso primeiro beijo”, lembra Monica. Eles namoraram, terminaram, voltaram. Há três anos juntos, pensam em o casamento. “O mais difícil já fizemos: compramos uma casa”, diz Eduardo.

Os nomes iguais ao título da música sempre rendem assunto entre os amigos. Alguns cantam trechos, outros perguntam semelhanças. Eles gostam. “Eu me identifico muito com a Mônica da música. Temos o mesmo signo e gosto de várias partes. Além disso, o Eduardo adora bicicleta. Entende tudo de camelos”, comenta Monica. Eduardo espera o dia em que os amigos cumprirão uma promessa: “Vamos nos reunir com violão e gravar um vídeo com a música”.

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