Talento do diretor Wes Anderson o faz ser cultuado pelos jovens

Diretor de 'O grande hotel Budapeste', em cartaz nas salas de exibição da cidade, é admirado em razão do talento em construir personagens excêntricos e da habilidade em usar a música no cinema

por Ricardo Daehn 07/07/2014 08:51

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AFP Photo
(foto: AFP Photo)
O diretor Wes Anderson pode até minimizar os feitos e os efeitos que alcança com o mais recente filme, 'O Grande Hotel Budapeste', ao assumir que resultou de um “pastiche dos maiores sucessos do Leste Europeu”. Quando fala assim, esse americano, de 45 anos, se refere mais precisamente à atmosfera que recobre o mais ambicioso e bem recebido dos oito longas já criados. Não é à toa que, entre mashups das técnicas antigas de filmagem e o caldo das adorações por diretores do porte de Godard, Fellini e dos mais modernos Peter Bogdanovich ('A última sessão de cinema') e Mike Nichols ('A primeira noite de um homem'), brote uma referência mais incisiva dirigida a um pintor romântico, o alemão Casper David Friedrich, produtor de arrebatadoras paisagens.

Na produção de uma leva de comerciais foi que Wes Anderson encontrou as locações para a coprodução anglo-germânica estrelada por incontáveis atores de ponta, entre eles Ralph Fiennes, Jude Law, Bill Murray e Willem Dafoe. “Gosto de ter uma família para constantemente nos reunirmos”, reforça, ao lembrar que o ator Owen Wilson ('Marley & eu'), por enquanto, não esteve apenas em uma de suas fitas. Sem tirar o devido crédito à trupe, ele, porém, delimita: “Muito do que os atores desempenham já está na página do roteiro”. Em 'O Grande Hotel Budapeste', para além de amizade e amor, Wes Anderson dá relevância ao que impregna o longa desde o primeiro frame — o interesse pelas histórias das pessoas e a paciência que, por vezes, demandam de serem escutadas.

“O tipo de sensibilidade de Wes Anderson é raro”, já demarcou um de seus grandes admiradores, Martin Scorsese. Depois de moldar, nas telas, famílias disfuncionais ('Os excêntricos Tenenbaums'), casais inusitados ('Três é demais') e aventuras subaquáticas de um pesquisador ('A vida marinha com Steve Zissou'), fica difícil despistar, quando se ressalta a peculiaridade dos tipos retratados. “Normalidade não é exatamente o que você procura, quando você pretende criar um personagem interessante”, disse ele, na divulgação de 'O Grande Hotel Budapeste'. Depois de, na originalíssima animação 'O fantástico Sr. Raposo', ter embutido contravenções num pacato mamífero pai de família, agora, é a vez de tornar o concierge Gustave (Fiennes) suspeito de um plano criminoso.

Divulgação
Cena de 'O Grande Hotel Budapeste': pastiche de sucessos do Leste Europeu (foto: Divulgação)
Gosto por perfume

Detalhes únicos, como o gosto por acentuado perfume, diferenciam o protagonista que combina elementos de um antigo e precoce (nas atitudes) amigo, um pintor não renomado. Revelado há 20 anos, Wes Anderson, porém, seguiu via contrária, como entregou à imprensa estrangeira. “Acredito que fui uma pessoa que demorou a crescer”, observa o amante dos filmes da Disney e de John Hughes ('Curtindo a vida adoidado'). “Não tenho quem me censure, no esquema: ‘Você não pode fazer isso ou aquilo’”, já comentou no passado.

Difícil é acreditar que ele tenha cursado filosofia na Universidade do Texas. “Não sei nada sobre filosofia. Acho que veio daí a minha vontade de estudar”, comentou. A vontade de ter sido arquiteto, por exemplo, foi algo contornado tal qual válvula de escape com o cinema. “Sinto que meus personagens precisam de seus mundos para poder existir”, demarca Anderson, que já teve enredos dependentes de submarino, trens e de casas em árvores.

Conhecido ainda pelo repertório de trilhas ecléticas, o cineasta que tão bem comunica com a juventude revela: “Algumas cenas são praticamente escritas com o objetivo do uso de determinada música”. Curioso é 'O Grande Hotel Budapeste' reavivar composições de Strauss e do folclore russo. Bem diverso para quem conta, no currículo de pós-produção com dolorosas lacunas retrô pop — “houve algumas músicas dos Beatles que, ano após ano, tentamos em filmes, mas não foram liberadas”.

Destaques da carreira

'Pura adrenalina' (1996)

O longa de estreia do diretor apresenta o seu humor nonsense e despretensioso ao contar a divertida história de três jovens amigos que se envolvem em uma série de assaltos bizarros na tentativa de entrar para o mundo do crime. A simplicidade da trama ganha força com as atuações de Anthony (Luke Wilson) e Dignan (Owen Wilson), este último parceiro de Anderson no roteiro.

'A vida marinha com Steve Zissou' (2004)
Em uma de suas performances mais divertidas, Bill Murray vive o lendário explorador subaquático Steve Zissou, famoso pelos rompantes de temperamento e também pelos documentários que faz sobre a vida no fundo dos oceanos. O longa, que é um dos mais biográficos do autor, ganha versões das músicas de David Bowie em português, cantadas por Seu Jorge.

'Moonrise Kingdom' (2012)

A comédia romântica é uma das obras mais queridas e delicadas de Anderson. Suzy Bishop (Kara Hayward) e Sam Shakusky (Jared Gilman) são duas crianças de 12 anos que se sentem deslocadas em meio às pessoas com que convivem em uma pequena ilha na costa da Nova Inglaterra. Com trilha sonora e fotografia irresistíveis, o longa coleciona cenas marcantes.

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